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Nas minhas deambulações pela internet, encontrei hoje no blogue - "Sai-te daqui", de 14 de Setembro de 2007, clicar aqui, o seguinte texto, que reproduzo com a devida vénia:
"Um exemplo de poesia política...Em pleno consulado sidonista, algures em Maio de 1918 (recorda-se que Sidónio Pais se apossara do poder pela revolução sangrenta de 5 a 8 de Dezembro de 1917... e os soldados do CEP na Flandres, junto ao rio Lys, que se fossem lixando nas trincheiras à espera dos reclamados mas recusados reforços... ou da vindima trágica do 9 de Abril) o "Defesa de Arouca", claramente republicano-democrático, transcrevia de "O Norte" esta deliciosa peça, que é um excelente exemplo de poesia política:
MONÓLOGO PARA TODOS
Para ter gótica amante,
mostrando-a sempre flamante
do mar da Mancha ao mar Jónio,
não é preciso mais nada:
basta estar numa embaixada...
basta apenas ser-se... idóneo.
Para calúnias e petas
espalhar pelas gazetas
contra Afonso ou contra António,
e, depois deste arreganho,
ficar com cara de estanho,
basta apenas ser-se... idóneo.
Para ser Francisco, Alfredo,
Venceslau ou Roboredo,
inda Pancrácio ou Sinfrónio,
basta esta coisa singela:
mudar o nome à gamela...
basta apenas ser-se... idóneo.
Para ser-se castelhano,
austríaco ou prussiano,
búlgaro, turco ou lapónio,
diz daqui do lado o Soiza,
não ser preciso outra coisa...
basta apenas ser-se...idóneo.
Para ser-se rei e ministro,
um presidente sinistro,
e bispo, e papa... o demónio,
não se carece outra carta,
(como penhor que bem farta):
basta apenas ser-se... idóneo.
Para ser heroi falido,
por faltar ao prometido
e seguir caminho erróneo,
a fugir da consciência,
num sonho mau de demência:
basta apenas ser-se... idóneo.
Para se ter um renome
que nenhum tempo consome,
e vá da Mancha ao mar Jónio,
não basta ser batoteiro,
ser cacique eleiçoeiro...
não basta só ser-se... idóneo.
Para se ser respeitado
Qual Bernardino Machado,
até do simples campónio,
deve ser irrepreensível
a vida o mais que é possível;
não basta só ser-se...idóneo.
Para se ser estadista,
sincero propagandista,
como Afonso ou como António,
ainda que o não pareça,
é preciso ter cabeça,
não basta só ser-se... idóneo.
E, para ter um só rosto,
uma só fé, um só posto,
como bom lacedemónio,
muito mais nos é preciso:
muita honra e muito siso...
não basta só ser-se... idóneo."
segunda-feira, 30 de julho de 2012
sexta-feira, 27 de julho de 2012
Bernardino Machado em Madrid no segundo exílio (1935/1936) - 2
Do portal da Fundação Mário Soares, transcrevemos o texto "Documentos Bernardino Machado e Afonso Costa" do dossier sobre a Guerra Civil de Espanha - clique aqui
Documentos Bernardino Machado e Afonso Costa
O eclodir da Guerra Civil de Espanha constituiu uma preocupação acrescida para a oposição republicana no exílio. O apoio, ainda que não oficial, do governo de Salazar às forças de Franco, representava uma nova ameaça ao sonho do restabelecimento do regime democrático em Portugal.
A vitória da República em Espanha tinha causado regozijo no seio da oposição à ditadura, nomeadamente no campo republicano, que acalentou o projecto de receber apoio do governo espanhol para a organização revolucionária. Todavia, a divisão entre as diferentes facções políticas e ideológicas dos opositores à ditadura, quer no exílio, quer em Portugal, não permitiu o estabelecimento de uma união que pudesse alcançar a força necessária para qualquer movimento revolucionário bem sucedido.
Durante os primeiros meses da Guerra Civil de Espanha, os exilados republicanos em Paris, juntamente com Bernardino Machado, que se estabeleceu no Mónaco em Janeiro de 1937 (depois de uma breve estadia em Valência, para onde se tinha mudado em Setembro do ano anterior, abandonando Madrid, devido à instabilidade causada pelo início da guerra), concertaram novos esforços para relançar um movimento revolucionário, por um lado, tentando obter recursos financeiros e, por outro, tentando unir os diferentes agrupamentos políticos, para o que formaram, em Paris, um “Comité de Acção”, tendo em vista a criação da Frente Popular Portuguesa.
Neste contexto, entre 1936 e 1937, Afonso Costa e José Domingues dos Santos, com o apoio de Bernardino Machado, procuram obter um empréstimo do governo espanhol destinado a financiar a propaganda contra a ditadura e lançar um movimento revolucionário. O empréstimo, além de necessário em termos materiais, visava ainda incentivar à união muitos anti-fascistas que até então permaneciam duvidosos quanto ao sucesso de uma revolução. Paralelamente às negociações junto do embaixador do espanhol em Paris, Luís Araquistain, para a obtenção do referido empréstimo, as atenções concentraram-se no redobrar da campanha de propaganda contra a ditadura em Portugal e de apoio à Espanha republicana.
Em Janeiro de 1937, Bernardino Machado lançou o manifesto à nação "Pela independência e pela integridade de Portugal"[1], no qual além de analisar a situação da Ditadura em Portugal e as suas relações com o exército, deu particular atenção à conjuntura política suscitada pela Guerra Civil em Espanha, denunciando a solidariedade do governo de Salazar com os revoltosos liderados por Franco, colocando especial ênfase na questão do iberismo, ao afirmar que “a união da reacção que hoje governa em Portugal com a que pretende governar amanhã em Espanha é a ameaça do ressurgimento da União Ibérica”, e que “servir os inimigos da nova Espanha livre é servir os inimigos seculares do Portugal restaurado”. Bernardino Machado chamava ainda a atenção para o lugar de Portugal no quadro das restantes nações europeias, criticando as relações entre o governo português ditatorial e os governos da Alemanha e Itália, em detrimento da tradicional aliança com a Inglaterra, e reavivando a questão das ambições alemãs sobre as colónias portuguesas.
Em Paris, numa reunião convocada por Afonso Costa e Domingues dos Santos, à qual assistiram também os exilados Álvaro Poppe, Agatão Lança e Lago Cerqueira, entre outros, foi decidido mandar traduzir para espanhol o manifesto de Bernardino Machado e ainda encetar esforços para a sua ampla divulgação em Portugal, nos meios civis e militares[2]. Por seu turno, Afonso e José Domingues dos Santos subscreveram o manifesto intitulado “Apelo a todos os liberais e anti-fascistas”[3], abrindo-o com a afirmação de que a situação portuguesa se tornara “trágica e perigosa no domínio internacional”, desde que o governo ditatorial tomara posição “ao lado dos rebeldes” na guerra de Espanha. Afonso Costa e Domingues dos Santos corroboravam as afirmações contidas no manifesto de Bernardino Machado, e anunciaram a constituição do “Comité de Acção”, com o objectivo de incentivar à união de esforços para o restabelecimento das liberdades públicas, defesa da independência nacional e da integridade do domínio colonial.
Exemplares do manifesto de Bernardino Machado e do apelo do Comité de Acção foram confiados a Roberto Queirós que, enviado em missão a Portugal, foi incumbido de os fazer distribuir e ainda de estabelecer contactos com alguns dos principais representantes dos diversos grupos de oposição ao Estado Novo.
Todavia, o resultado destas diligências foi reduzido. A missão clandestina de Roberto Queirós a Portugal não deu os resultados esperados. Em relatório elaborado no início de Abril de 1937, e dirigido a Afonso Costa e Domingues dos Santos, Roberto Queirós deixou claro que era difícil obter o apoio de grande parte dos adversários da ditadura, afirmando ainda que constara que seria inviável qualquer projecto de revolução sem o apoio do Exército, algo que se afigurava difícil já que o único militar republicano que poderia congregar em torno de si os vários sectores do Exército era Ribeiro de Carvalho, e este não mostrava empenho em assumir a chefia militar de uma revolução[4].
O empréstimo solicitado ao governo espanhol deparou com a divergência de opiniões no seio dos membros do governo de Espanha, de que resultou a comunicação ao Comité de Acção, através do embaixador espanhol em Paris, da inviabilidade da operação. Por outro lado, a união das várias correntes políticas de oposição à Ditadura enfrentou resistências, que não permitiram a concretização do plano, no qual Afonso Costa e Domingues dos Santos tanto se tinham empenhado[5].
A morte de Afonso Costa, no princípio de Maio de 1937, deixou o projecto de união dos militantes anti-fascistas praticamente sem prossecução. Bernardino Machado e José Domingues dos Santos prosseguiram a sua actividade de propaganda contra a Ditadura de Portugal e em favor da república espanhola, embora sem grande impacto. Pouco depois, Bernardino Machado transferiu a sua residência do Mónaco para Paris, substituindo Afonso Costa no Comité ali formado.
No fim do Verão de 1937, Bernardino Machado dirigiu-se a Juan Negrin, Presidente da Assembleia da Sociedade das Nações, protestando contra a atitude da Ditadura de se aliar com os governos alemão e italiano no Comité de não intervenção na guerra civil de Espanha e reafirmando o respeito pelo que consideram serem as instituições legais espanholas[6]. Por ocasião do aniversário do 5 de Outubro, voltou a criticar a Ditadura e o seu apoio às forças de Franco em Espanha: “E como, enfeudada a ditadura aos imperalismos estrangeiros – já secunda em Espanha os representantes do velho imperalismo castelhano , «cuja vitória de todo o coração deseja» - nos defenderá dos pontentes tentáculos dos cobiçosos assaltos ao nosso património metropolitano e ultramarino?” [7]. E, no início do ano seguinte, dirigindo-se a todos os defensores da democracia em Portugal, voltou a insistir no apelo ao derrube da Ditadura, em nome do Comité de Paris da Frente Popular Portuguesa[8].
[1] 07218.128; Versão impressa do manifesto – doc. Cedido por Sá Marques (07034.152); outra impressão diferente – 07034.151
[2] carta de AC p/ BM, 21-1-37 – 07219.134
[3] de 25-1-1937, doc. 07219.047
[4] Relatório de Roberto Queirós, 3-4-1937, doc. 07219.068.
[5] Relatório relativo ao empréstimo solicitado ao governo espanhol e de balanço da actividade do Comité de Acção, 4-5-1937, doc. 07219.073
[6] Manifesto “Mensagem à Sociedade das Nações” - doc. 07034.153
[7] Manifesto de Bernardino Machado intitulado "O 5 de Outubro de 1937" – doc. 07034.149
[8] Manifesto de Bernardino Machado intitulado "1 de Janeiro de 1938. Saudação à democracia portuguesa" – doc. 07034.148.
segunda-feira, 23 de julho de 2012
Bernardino Machado em Madrid no segundo exílio (1935/1936)
Durante o seu segundo exílio, Bernardino Machado viveu em Madrid, de Novemvro de 1935 a Setembro de 1936, residindo na Calle Miguel Angel, 21. Aí acompanhou o desenrolar dos primeiros meses da Guerra Civil de Espanha. Logo após a sua chegada a Madrid foi entrevistado pelo jornalista do "Heraldo de Madrid, Leonardo dos Santos Morales.
Para ler os textos clicar por duas vezes sobre as imagens.
sábado, 21 de julho de 2012
Pedro Luis de Galvez - poeta malaguenho (1882-1940), entrevistou Bernardino Machado quando das suas vindas a Portugal. Ao percorrer os jornais espanhois na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional de España, encontrei na "Vida Socialista" o que ai escreveu sobre esses encontros. No texto faz referência a Francisco Manuel Homem Cristo (Homem Cristo Filho), que estava vivendo nessa data em Madrid.
Para ler os textos, clicar por duas vezes sobre as imagens.
Retirado da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional de España - clique aqui
quinta-feira, 19 de julho de 2012
Duas fotografias da viagem de Bernardino Machado ao Porto, em Janeiro de 1926
Do Arquivo Nacional Torre do Tombo - clique aqui
terça-feira, 17 de julho de 2012
Os Fundamentos Filosóficos do Maçonismo Moderno
Do portal do Museu Bernardino Machado - clicar aqui, e do blogue do Dr. Amadeu Gonçalves - dopresente - clicar aqui
segunda-feira, 16 de julho de 2012
Um abraço apertado de gratidão para o Dr. Emílio Ricon Peres!
PALAVRAS CLARAS - Razões da intervenção militar de Portugal na guerra europeia
O dr. Emílio Ricon Peres, numa obra meritória, tem vindo a disponibilizar-nos a sua magnífica biblioteca, em especial a bibliografia sobre a primeira grande guerra, através do seu blogue - Memória da República - clique aqui.
Reproduzimos o Relatório impresso no "Diário de Governo", nº. 9 - 1ª série, de 17 de Janeiro de 1917 - clique aqui.
sábado, 14 de julho de 2012
Do blogue "Almanaque Republicano" - clique aqui - retirámos, com a devida vénia, dois documentos, referentes ao Centro Republicano Dr. Bernardino Machado do Porto:
sexta-feira, 13 de julho de 2012
Do blogue do Dr. Amadeu Gonçalves - dopresente - clicar aqui - retirámos a notícia do último acontecimento do Serviço Educativo do Museu Bernardino Machado - Atelier de Olaria e Cerâmica para miúdos e graúdos:
"Decorreu no Museu Bernardino Machado, em parceria com a Fundação Castro Alves, no dia 12 de Julho do corrente ano, de manhã, o atelier denominado “Olaria e Cerâmica para Miúdos e Graúdos”. Inserido nas actividades pedagógicas do Museu Bernardino Machado para o ano lectivo de 2011-2012, o atelier consistiu na pintura e na manufactura do popular “jogo do galo” com peças alusivas a Bernardino Machado, nomeadamente, o bigode, a bengala, a cartola, um livro e a sua caricatura. O atelier teve a orientação de uma monitora da Fundação Castro Alves."
quinta-feira, 12 de julho de 2012
O "DIÁRIO" de João Chagas
Duas cartas de Bernardino Machado e outros documentos.
João Chagas conversando com Bernardino Machado e Jean Jaurés - Julho de 1911
Quando em 1929 foram editados os quatro volumes do Diário de João Chagas, Bernardino Machado, exilado em Paris, escreveu uma carta para o director do jornal "Povo", Mário Salgueiro, que foi suprimida pela Censura.
"Paris, 27-6-929
Meu Caro Correligionário e Amigo
Permita-me duas palavras sobre o Diário de João Chagas.
O brilhante panfletário era um grande emocional. O ardor que tomou pela nossa intervenção no conflito mundial produziu-lhe a ilusão de que só ele era capaz de a dirigir cabalmente. E, para seu maior sobressalto, imaginou irredutíveis colisões entre os Homens públicos que tiveram então as gravíssimas responsabilidades do governo, atribuindo-lhes absurdamente as mais desabridas referências mútuas. Dai as injustas arguições que contra eles lançou nas suas notas íntimas. A sua própria linguagem, de tão galharda combatividade, se ressentiu.
Nada mais deplorável. Só, porém, aos republicanos cabe o direito de julgar severamente essas irrequietas prevenções. Não foram, sem comparação, mais condenáveis os desvarios anti-intervencionistas dos nossos adversários, ainda hoje impenitentes? Eles alvejaram em publico a própria Pátria.
E Chagas, deve-o supor, reconsiderou. Que o digam todos que o ouviram falar, com efusão patriótica, dos dias inolvidáveis em que, tendo-o ao lado dos ministros da União Sagrada, Dr. Afonso Costa e Dr. Augusto Soares, visitei os exércitos aliados, acompanhado pelo Chefe de Estado de França, o Sr. Poincaré. O seu Diário é omisso de Maio a Dezembro de 1917. Mas creio bem que ele já o não publicaria, sem uma rigorosa revisão reparadora das arrebatadas incorrecções do seu texto.
Aceite, meu Caro Correligionário e Amigo, os protestos da minha antiga estima muito dedicada e grata.
Bernardino Machado"
Rascunho da carta (Espólio de Bernardino Machado):
Quando Bernardino Machado teve conhecimento do livro de Bourbon e Meneses "O Diario de João Chagas - A Obra e o Homem", editado em 1930, enviou ao autor a seguinte carta:
"Bayonne, 29-12-30
Meu querido Amigo
Admirável, a todos os respeitos, o seu último livro “O Diário de João Chagas”, onde os seus talentos de escritor dão o maior brilho ao seu trabalho crítico. Há nele páginas, como as 74 a 77, da mais empolgante dramatização dialéctica. O retrato do Homem é uma perfeição.
Gostaria de estar aí para lhe falar da nossa intervenção na guerra. Creio ter praticado, com a decisão que ponho sempre no cumprimento dos meus deveres, todos os actos então necessários, primeiro, como Presidente do Ministério, em 1914 – a declaração de 7 de Agosto e a proposta de lei de 9 de Novembro, alem da amnistia aos monárquicos e, depois, como Presidente da República, em 1916 e 1917 – a declaração do estado de guerra e a política de amizade com a Espanha, alem da União Sagrada. Lembra-se bem decerto como foi jugulada de pronto a insurreição de Mafra de modo a não se imaginar lá fora que havia em Portugal forças anti-intervencionistas importantes. E externamente não nos faltaram resistências que fomos vencendo persistentemente. Sobre as relações luso espanholas basta dizer-lhe que o governo inglês receou sempre que elas pudessem complicar-se embaraçosamente também para ele. E convêm lembrar-nos de que mesmo na Inglaterra não eram idênticas as atitudes no Ministério da dos Negócios Estrangeiros e no Ministério da Guerra. Com este, que aliás desejou sempre a nossa confraternização militar, foi preciso pleitear a autonomia do nosso corpo expedicionário em França.
O incidente dos canhões não se passou como o Chagas o referiu numa das suas cartas e como naturalmente o repetiria no livro que, sob sua inspiração, compôs o Paulo Osório. O general Eça era um grande disciplinador, mas também um grande disciplinado e nunca fez nada como ministro senão de acordo comigo. A formula da ida dos canhões, quando fossem os soldados, foi a que, depois de o consultar e ouvir-lhe que nos era indispensável esse armamento, empreguei, tendo-o ao meu lado, na conferencia com o delegado do ministro da guerra belga no Hotel de Itália do Estoril, onde eu nessa ocasião estava.
As dificuldades que tive com o Freire d’Andrade não provieram tanto do seu anglofilismo, de antigo governador de Moçambique, como da sua convicção da vitória alemã. Ele chegou a pedir a demissão num conselho em casa do Eça, que se achava adoentado, mas não lha aceitei. Acerca das nossas divergências, que afinal se resolviam pela sua concordância com a orientação do governo, ele deixou no Ministério dos Estrangeiros um curioso documento, rascunho duma carta ao Teixeira Gomes, que, logo que eu soube de tal, lhe recomendei que fosse buscar. Era um relato dessas divergências. O Gonçalves Teixeira há de lembrar-se disso.
Mil agradecimentos pela elevação com que rebate as acusações do Chagas, a quem prestei sempre todos os serviços que lhe devia, mas de quem não imaginei nunca possível fazer-se um homem de governo. Eis o motivo principal das suas queixas. Esforcei-me por desfazer os equívocos que havia a seu respeito no partido republicano, quando ele só subia ao Directório em S. Carlos, se eu lá estivesse, e ainda ficava na sala de espera até ir chamá-lo. Não houve provas de boa vontade e até de dedicação que eu não procurasse dar-lhe, põe ele e pela nossa causa. E várias vezes recebi dele demonstrações de estima. Mas cometi estes três grandes pecados: não achar que o seu lugar fosse nem no Directório do partido, nem no primeiro governo constitucional, nem à frente da União Sagrada. E o brilhante panfletário não me podia perdoar. Vi-me mesmo obrigado a dizer-lhe intimamente, com a liberdade com que o tratava, no tom severo de que um ultimo caso da sua vida doméstica, em que eu tinha intervindo, me dava o direito de usar: o Chagas tem o seu posto primacial na República como jornalista, mas não queira dirigir os negócios públicos, porque, com a sua dominadora emotividade, faz às ideias o mesmo que faz às mulheres. Pela ultima esquece todas as outras. É curioso que, quando em 1914 veio a Lisboa, procurou todos menos o chefe do governo; e sobrou-lhe tempo para lançar o “Século” na oposição.
Parece contudo que afinal, depois que fui aos “fronts” da guerra, ele mudara para comigo. Sei mesmo, que, em conversações em Lisboa, anunciou que ia escrever a minha viagem. Não o fez? E como havia de intercalar essas suas impressões nas suas memórias?
Aceite para si, para sua Exma. Esposa e para o seu saudoso Filho os nossos melhores votos de felicidade no novo ano. E peço-lhe que os transmita também a suas Exmas. Mãe e Irmãs. Relendo as suas ultimas palavras da pagina 103, abraça-o cordialmente como
Todo seu
Bernardino Machado"
Rascunho da carta (Espõlio Bernardino Machado)
Páginas do livro de Bourbon e Meneses a que Bernardino Machado se refere na carta:
Do Diário de Lisboa do dia 3 e 4 de Setembro de 1930 retirámos:
Do livro de Carlos Ferrão - "A Obra da República", do capítulo "Centenário do nascimento de João Chagas", copiámos as páginas 190 a 194:
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