terça-feira, 27 de fevereiro de 2018





Amadeu Gonçalves

Um presente do meu caríssimo amigo Amadeu Gonçalves, a quem envio um fraternal abraço!







segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018



DO ALMANAQUE REPUBLICANO, com a devida vénia.


DOMINGO, 25 DE FEVEREIRO DE 2018

ACADEMIAS E INSTITUIÇÕES DE CULTURA



Academia e Instituições de Cultura” – por Diogo Ramada Curto, in Caderno E, Expresso, 17 de Fevereiro de 2018
Onde se defende que se no projeto de levar a cabo um estudo sobre academias o objetivo é propor a renovação de uma espécie de conformismo institucional, o melhor seria sugerir que o público não soubesse nada do que se passa dentro de tais instituições

"Instituições de cultura há que não têm merecido a devida atenção por parte da opinião pública. Faltam estudos ou simples notícias que as deem a conhecer. Será, por ora, escusado saber a quem assacar responsabilidades para explicar a falta de estudos sobre as mesmas: se às instituições que não informam, por viverem em vaso fechado, ou se a uma opinião pública que vive dissociada da vida de certas instituições.
Três situações aparentemente díspares, em termos de conhecimento por parte de um público mais alargado, podem ser utilizadas como laboratórios de estudo: um livro destinado a repensar a universidade em Portugal; osestatutos de uma academia criada em 1965, mas que sobreviveu até aos nossos dias; e um ‘pequeno’  instituto de investigação de uma universidade privada, fundado em 1997. Nos três casos, detetam-se disfuncionalidades e demonstrações de elitismo simbólico, que nada têm que ver com a investigação, o ensino e a transmissão do conhecimento e da cultura. Estudá-los e comunicá-los a uma esfera de opinião mais alargada constitui, só por si, um modo de ultrapassar os problemas encontrados.
A Universidade como deve ser
O recente livro de António Feijó e Miguel Tamen, intitulado “A Universidade Como Deve Ser” (Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2017), é um excelente contributo para conhecermos o que se passa dentro da universidade. Nele, será possível distinguir um estudo da universidade tal como funciona e o programa de um curso, interdisciplinar, de Estudos Gerais. O livro comporta tanto aspetos corajosos como outros que se afiguram discutíveis.
A sua coragem está em pôr o dedo na ferida, considerando que o ensino universitário não tem de andar subordinado a objetivos práticos ou a meros interesses de mercado. O ensino universitário, feito no contacto com a investigação, tem de se pautar por outros critérios e manter, sempre, um elevado nível de independência em relação a outros poderes. As universidades devem igualmente ser pensadas como unidades, situadas acima deste ou daquele curso (embora este propósito dos autores entre, depois, em contradição com o centramento num único curso). Corajosa é também a crítica dos autores em relação à burocratização da investigação e dos seus centros, bem como à generalização dos projetos coletivos com dotações gigantescas, os quais poucos resultados alcançam, sobretudo na áreas de humanidades e ciências sociais.
Muito discutíveis são os sinais de uma espécie de elitismo anglo-americano, num momento em que abundam as tendências dentro da universidade de desprezo pelas práticas democráticas. De igual modo, é chocante que a proposta de introdução de um modelo inspirado nos “liberal arts colleges” surja numa espécie de deserto criado pelos próprios autores. Isto é, em nenhum momento do livro se encontram referências às inúmeras discussões sobre a universidade que, pelo menos desde  Miller Guerra, têm sido recorrentes em Portugal. Ao circunscreverem-se a um único curso, Feijó e Tamenassemelham-se a náufragos numa ilha deserta, que, tal como Robinson Crusoe, só conseguem salvar do navio encalhado alguns livros (não em português, como no livro de Daniel Defoe, língua que o protagonista não sabia decifrar, mas em inglês, o idioma em que mergulham as raízes mais profundas do livro em causa). Facto que denota uma incapacidade para pensar de modo mais realista — e menos como uma robinsonada — a universidade como um todo.
A expansão da "cultura portuguesa"?
De um teor completamente diferente são as notas esparsas que recolhi acerca da Academia Internacional de Cultura Portuguesa. Elas constituem um minúsculo contributo para colmatar a lacuna dos estudos sobre instituições de cultura. Pelo menos podem servir como chamada de atenção para a necessidade de querer saber mais acerca do que se passa na vida de tal instituição. A começar pelo seu financiamento, que não sabemos se será ou não de natureza pública. Os seus estatutos, aprovados por decreto de 1965, mantêm-se em vigor. O primeiro aspeto que neles importa sublinhar diz respeito ao principal objetivo da mesma instituição: difundir a cultura portuguesa no mundo. A consulta do “Boletim da Academia Internacional de Cultura Portuguesa”, cuja publicação começou em 1966, revela bem qual a conceção de cultura que ali se defende: do luso-tropicalismo, em tempos coloniais, à sua continuidade, sob a forma de lusofonia, adaptada aos tempos democráticos. Vinho novo em odres velhos...
O segundo aspeto prende-se com as áreas pelas quais se distribui esse mesmo labor difusionista. De um modo que, hoje, interpretaríamos como sendo da ordem da interdisciplinaridade, estabeleceram-se três secções: das artes e letrasdas ciências e da missionologia. Aliás, esta última formulação, sobre a qual tanta tinta correu na década de 1960, entendida em estreita relação com a mensagem católica, compreende-se bem à luz da política colonial portuguesa da época.
Do Tarrafal à Academia Internacional
O terceiro aspeto a não perder de vista diz respeito aos fundadores da Academia e como são postos limites ao número dos sócios académicos ou correspondentes. Inegável será, em todo este processo, o papel dinâmico desempenhado por Adriano Moreira, seu fundador e presidente, ao lado do padre Silva Rego, de Jorge Dias e de Virgínia Rau. Estes últimos professores universitários com capacidade para controlar as suas áreas disciplinares, da antropologia à história. A simples evocação de outros nomes da confiança do regime de Salazar, entre os quais se contavam Azeredo Perdigão e Franco Nogueira, faz-nos lembrar que não existe apenas uma lista de nomes que formam o que, hoje, os cientistas sociais designam como uma rede de relações. Há, também, uma rede de outras instituições a ter em conta.
Por exemplo, Adriano Moreira, licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa, iniciou a sua carreira na antiga Escola Colonial, onde começou por realizar estudos sobre o sistema prisional nas antigas colónias. Seguiu o processo de transformação daquela Escola impulsionado por Mendes Correiae, em 1961, favoreceu a sua integração na Universidade Técnica, o que lhe valeu a equivalência a professor catedrático, mesmo sem possuir um doutoramento (com o “Diário de Notícias” de Augusto de Castro a atribuir-lhe o título de professor doutor a partir de 14 de abril). Desempenhou papel de relevo na Junta de Investigações do Ultramar e envolveu-se, igualmente, nas atividades da Sociedade de Geografia de Lisboa (onde a mesmaAcademia Internacional veio a ficar sediada). Enquanto subsecretário de Estado e depois ministro do Ultramar, na altura do início da Guerra em Angola, manteve ligações de estreita colaboração com muitas outras instituições, incluindo o Gabinete de Negócios Políticos do Ministério do Ultramar e o por ele criado “campo de trabalho” de Chão Bom, vulgo,Tarrafal.
Conforme procurei demonstrar noutro local, Adriano Moreira esteve, por volta de 1961, bem no centro do processo de tomada de decisões das políticas coloniais de Salazar. A legislação laboral promulgada durante a sua passagem pelo Ministério do Ultramar constituiu, sobretudo, “uma carapaça legal com que Portugal pudesse defender-se” internacionalmente (José Capela, “O imposto de palhota...”, Afrontamento, 1977, p. 259). E, por mais que ele próprio tivesse tentado construir a sua própria versão dessa passagem pelo Governo de Salazar, em sucessivas memórias, aconselhou, na altura, a adoção de medidas violentas de aterrorização das populações do Norte de Angola (“Políticas Coloniais em Tempo de Revoltas — Angola circa 1961”, Afrontamento, 2016). Ora a Academia Internacional de Cultura Portuguesa foi criada no interior dessa malha. Nela, sobrepuseram-se uma carreira individual, uma série de instituições e de legislação orientadas para a execução de políticas coloniais e, ainda, um quadro de justificação de fortíssima carga ideológica suscitado pela guerra colonial em Angola, e depois na Guiné e em Moçambique (que de nenhum modo pode ser reduzido a noções de integração ou assimilação luso-tropical).
Questões de indumentária
Há um quarto aspeto que inclui várias minudências acerca do vestuário, difíceis de traduzir por outras palavras. Vale, por isso, a pena citar diretamente da fonte que seguimos, no ponto relativo às vestes académicas, mesmo que infelizmente se tenha perdido o rasto ao desenho: “A farda académica constará de casaca de gola alta, fechada por uma ordem de botões, e de calça, aquela e esta, de pano verde. A casaca terá, bordado a ouro, no peito, gola e portinholas, canhões e remates, assim como na cintura, por cima do começo das abas, um rebordo, que no peito será acompanhado de uma simples fieira de ramos de oliveira folhados e frutados, segundo os desenhos anexos. A calça terá galão estreito, dourado, nas costuras laterais. O chapéu armado, de pasta, será orlado superiormente de plumas pretas e com presilhas das cores académicas verde e encarnado. O espadim, de copos e guarnições douradas, suspende-se de pala de pano verde, com ramos de oliveira, bordados a ouro. Os botões serão ornados com as armas nacionais. A capa será de pano preto com gola voltada”.
Para comparar padrões de dress code, sigo as diferentes maneiras de trajar no quotidiano ou em dias de festa, dentro e fora das instalações ou, no interior destas, em salas diversas ou entre membros e visitantes da instituição em causa. De notar, também, que se trata de um resquício para cobrir com sinais de nobreza, inventando tradições e exibindo um elitismo de pacotilha, certas instituições de criação recente. É aqui que vem a propósito referir as normas que regem o Instituto de Estudos Políticos (IEP) da Universidade Católica, criado em 1997, mais de três décadas depois da citada Academia Internacional, mas inspirado na putativa Escola de Sagres, que nos traz à memória o chapéu de aba larga do Infante D. Henrique:
Todos os colaboradores permanentes do IEP adotam um código de vestuário com a decência e formalidade adequadas às responsabilidades que detêm, o que inclui, para os homens, casaco e gravata, e, para as senhoras, decência correspondente. Na sala Sir Winston Churchill e nos gabinetes de trabalho é esperado que os homens possam tirar o casaco, mas não a gravata. Na sala D. Henrique é esperado o uso de casaco e gravata. Em todo o espaço do IEP, não é autorizado o uso de shorts, T-shirts ou chinelos, sapatos de ténis ou blue-jeans. Estas regras aplicam-se apenas aos colaboradores permanentes do IEP e não aos alunos ou a visitantes, cuja eventual vulgaridade não deve, em princípio, merecer reparo. Em contrapartida, trajes nacionais, regionais, locais ou específicos de instituições, por mais excêntricos, serão sempre respeitados e bem-vindos. Todos os docentes do IEP, incluindo docentes convidados, são enfaticamente encorajados a usar casaco e gravata nas suas aulas e tutorias, podendo tirar o casaco, mas não a gravata”... 
Conformismo institucional ou Gentlemanship
O estudo monográfico de instituições como a Academia Internacional de Cultura Portuguesa terá ainda de compreender um quinto e último aspeto. Trata-se de tentar compreender como é que instituições criadas durante o Estado Novo, mais a mais num contexto aberto de guerra colonial, promoveram formas de conformismo de sentido institucional. Senão, vejamos como é que os estatutos impõem formas de controlo e de censura: é “proibido aos académicos contrariar os fins do instituto; imprimir trabalhos fora das publicações académicas com indicação de provirem da Academia; e criticar trabalhos feitos por encargo da mesma ou a ela apresentados por outros académicos, a não ser nas suas sessões ordinárias”.
Que esse conformismo institucional se intensificou na década de 1960, para dar sentido à atuação das elites cooptadas pelo regime de Salazar, num quadro internacional de forte pressão sobre a política colonial portuguesa, parece um dado evidente. O que já não me parece ser possível de aceitar é que as mesmas regras possam subsistir em democracia. Mesmo aceitando que, na vida das instituições, existem arcaísmos, o seu ridículo cresce na medida em que se descobre que eles são invenção recente e, em geral, determinados por quem não tem terra, família, nem vontade para viver numa sociedade democrática. Aliás, os que procuram transformar essas mesmas instituições culturais em veículos da sua promoção são quase sempre os mesmos que têm vergonha de reconhecer o mérito individual. É o que sucede com o curioso ponto sobre “Gentlemanship”, de uma fedúncia insuportável, digna de um qualquer parvenu, e que suscita uma gargalhada digna de uma personagem deGil Vicente:
Nenhuma regra pode substituir o sentido de responsabilidade pessoal, o common  sense e o sentido de humor de cada pessoa. As regras acima expostas deverão ser aplicadas sem rigidez prussiana e sem laxismo mediterrânico. Portugal é um país atlântico (e não mediterrânico), fundador da mais velha aliança do mundo, bem como do mais velho tratado de comércio livre, e pioneiro dos Descobrimentos. No nosso pequeno IEP da UCP, apreciamos tentar cumprir o dever de honrar as nossas nobres tradições” (Instituto de Estudos Políticos, nº 24).
Enfim, no projeto de levar a cabo um estudo sobre academias, ‘pequenas’ instituições de cultura e universidades, se o nosso principal objetivo fosse propor a renovação de uma espécie de conformismo institucional, o melhor seria sugerir que o público não soubesse mesmo nada do que se passa dentro de tais instituições. Às urtigas, pois, com a mania da informação e com a famigerada opinião pública! O secretismo impõe-se como uma urgência... É que permanecer na ignorância ou dar ao desprezo qualquer tipo de estudo sobre o funcionamento de tais instituições talvez seja, em suma, a única maneira de uma opinião pública escapar a tamanhas aberrações.
Academias e Instituições de Cultura – por Diogo Ramada Curto -  Historiador e Professor da universidade Nova de Lisboa - Revista E, Expresso, 17 de Fevereiro de 2018, pp. 66/67 – com sublinhados nossos

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018




António Valdemar
da Academia das Ciências

Com um abraço apertado de gratidão!




quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018






As condecorações com que Bernardino Machado foi agraciado durante a sua viagem presidencial em 1917


















terça-feira, 20 de fevereiro de 2018








A minha participação no passado dia 17 na Cidadela de Cascais






As minhas cordiais saudações para todos!

Começo por manifestar a minha satisfação por aqui estar e, assim, poder agradecer, em nome da Família Machado Sá Marques, à Presidência da República as homenagens que se têm vindo a prestar a meu Avô Bernardino Machado. Contente ainda por poder felicitar todos os que conseguiram realizar a Exposição “Boa viagem Senhor Presidente. De Lisboa até à Guerra”, e que tão bem souberam activá-la com outras manifestações, como estas conversas que nos juntaram. A Senhora Directora do Museu da Presidência, Dra. Maria Antónia Pinto de Matos, e seus Colaboradores estão de parabéns! A todos saúdo com afecto e gratidão!

Desde há anos que no meu blogue “Bernardino Machado” tenho vindo a recordar meu Avô. Já tenho registado recordações da Grande Guerra, um período muito penoso para toda a Europa. Em Portugal, uma das três repúblicas europeias de então, o desencadear da convulsão veio avolumar as naturais consequências da alteração do regime implantado recentemente. Todas as famílias portuguesas sofreram o que a guerra arrasta, a fome, as epidemias, o agravamento de todas as carências.
Nesta altura da Grande Guerra já os meus Pais estavam casados e durante estes anos nasceram dois dos meus irmãos; a Manuela no Palácio de Belém!.. Ela contou este facto em 1981, quando ainda leccionava no Liceu Camões, numa entrevista com Mega Ferreira, para a revista Espaço/Magazine: - “… nasci numa pequena sala do segundo andar do palácio, onde agora funcionam serviços de secretaria. Nessa altura, eram as dependências onde habitava o Presidente da República”… ”Tudo se passou por acaso: no dia 30 de Janeiro, fazia anos um dos meus tios mais velhos, o dr. António Machado. Era hábito reunir a família numa festa de aniversário, e os meus pais deslocaram-se a Belém para a comemoração. No domingo, dia 30, a minha mãe foi acometida das dores de parto e a minha avó já não a deixou sair. Nasci nesse dia e sei que durante alguns dias vivi ali, na própria zona residencial.”… “Um dia, já depois de meu avô ter seguido para o exílio, pedi a minha mãe que me mostrasse o sítio onde nasci. Lembro-me que foi um irmão meu que nos levou de automóvel. Estacionámos em frente do Palácio, junto à entrada para o Pátio das Damas. Minha mãe apontou-me a segunda água-furtada do lado esquerdo: foi ali.” …



Pátio das Damas


No dia 28 de Março de 1917
Na primeira fila: a Manuela  já ao colo da mãe -  Rita Sá Marques , a Avó Elzira,
o Avô Bernardino com a neta Maria Adelaide
e a tia Maria com a sobrinha Elzira
Na segunda fila: a tia Jerónima, o tio Domingos, a tia Sofia
e meu pai Alberto Sá Marques com meu irmão José ao colo





No Palácio de Belém em 1917







É uma recordação alegre! Mas infelizmente outras lembranças nos entristecem…
Durante o exílio de meu Avô, após o golpe sidonista, faleceu em Hendaya a Tia Maria Francisca!


Maria Francisca




Miguel Dantas em 1894
com a Rita no colo direito e a Maria no colo esquerdo










A tia Maria era muito chegada a minha Mãe, mais velha um ano.
Minha Avó teve sempre as filhas mais velhas a ajudarem-na na “vigilância do rancho”…Primeiro, enquanto solteiras, a tia Manuela e minha Mãe. Entre os postais, que minha mãe coleccionava, está um escrito por meu Avô que diz: - “Os filhos mais velhos não compreendem facilmente e não apreciam justamente a excessiva tolerância dos pais para com os filhos mais novos. É que, para a educação dos mais velhos, os pais estão sós, e, para a dos mais novos, já contam com os mais velhos. Mesmo por isso estes precisam de ser modelares.”




A tia Manuela com minha Mãe





Os Avós com as filhas Maria Francisca (à direita) e a Rita e Joaquina (à esquerda)









Depois do casamento da tia Manuela, a tia Maria ainda teve a ajuda de minha Mãe.




No livro “Maria” escrito por meu Avô após o falecimento da tia Maria, lemos: “O que ela não fazia! Tratava de todos nós, para que eu não me fatigasse tanto a trabalhar, a mãe descansasse nela, as irmãs tivessem todo o tempo para os seus estudos, e os pequenos andassem contentes e alegres. E ela? Era só assim que não lhe faltava nada, que tinha o mais que queria. Sagrado enlevo! Era a nossa providência. Minha mulher dizia-me: ”A Maria é a minha conselheira.” Quando não podia ir com as filhas, ia ela. E foi a quem a Rita entregou, para se tratar no Gerês, a pequena Adelaide, que lhe queria tanto, que nem um momento livre lhe deixava, cheia de ciúme no seu afecto, enrolando-se-lhe à saia do vestido, quando ela ia para jogar o croquet”
Entre os papéis deixados por meus Pais encontrei a carta da tia Maria para minha mãe, dando notícias do Gerês, e a procuração para ser madrinha de meu irmão José, registada no consulado de Hendaya, pouco tempo antes do seu falecimento´






É verdade o que escreveu meu Avô no livro “Maria”: - “A verdadeira família não se segrega da sociedade. Vibra unissonamente com ela. Por isso, os agravos dos adversários atingem-nos mesmo nos nossos lares.”
Quando do golpe sidonista meu Pai, ao ter conhecimento do cerco do Palácio de Belém e da saída de meu Avô para o exílio, foi saber de minha Avó e filhos; foi preso e conduzido para a Penitenciária!...










Durante o ano de 1917 foi intensa a campanha antiguerrista; relembramos o panfleto “Rol da desonra”, impresso no jornal “O Liberal”, com diatribes sobre a presença em França dos filhos dos governantes!...
Meu tio Bernardino Machado esteva na frente de batalha, como sinaleiro, numa posição de alto risco.






As residências em Lisboa de Meus Avós




Com a vinda para Lisboa em 1908 meus avós deixaram de ter uma residência com permanência; - o que minha Avó Elzira não teria sofrido com tanta instabilidade!...Aos 18 anos tinha ao colo o seu primeiro filho e aturou até falecer, em 1942, com 76 anos uma família enorme!...




1917
Bernardino Machado na Cidadela com as filhas Maria e Joaquina





Na Cidadela de Cascais  -  1917
Joaquina Machado, Leote do Rego, Ester Norton de Matos,
 Bernardino Machado, Norton de Matos,
 Rita Norton de Matos e Domingos Machado








Agenda de Bernardino Machado onde registou
 a compra e a ida para a residência da Cruz Quebrada








Rua Ponta Delgada








Rua das Taipas










Com é verdadeiro o que Bernardino Machado escreveu: -   
“A política também é uma religião, a religião do novo ideal do progresso humano, por cuja vitória sofremos todas as dores e todos os martírios. Nós, os democratas, combatentes irredutíveis da reacção que escraviza as almas – quanto vivemos escravizados pelo nosso dever cívico nas lutas que contra ela travamos! Prazeres, interesses, a própria cultura e até a vida de família, tudo sacrificamos à causa sagrada da justiça. E quási não temos tempo para mais senão para defende-la dos golpes dos seus inimigos. Os povos que, a cada passo, necessitam de despender na reivindicação do direito as melhores energias do seu génio, porque amargos transes não passam! Só a liberdade fortifica e engrandece os indivíduos e as nações: implantemo-la de vez entre nós.


Bayonne, 11 de Novembro de 1930