terça-feira, 20 de fevereiro de 2018








A minha participação no passado dia 17 na Cidadela de Cascais






As minhas cordiais saudações para todos!

Começo por manifestar a minha satisfação por aqui estar e, assim, poder agradecer, em nome da Família Machado Sá Marques, à Presidência da República as homenagens que se têm vindo a prestar a meu Avô Bernardino Machado. Contente ainda por poder felicitar todos os que conseguiram realizar a Exposição “Boa viagem Senhor Presidente. De Lisboa até à Guerra”, e que tão bem souberam activá-la com outras manifestações, como estas conversas que nos juntaram. A Senhora Directora do Museu da Presidência, Dra. Maria Antónia Pinto de Matos, e seus Colaboradores estão de parabéns! A todos saúdo com afecto e gratidão!

Desde há anos que no meu blogue “Bernardino Machado” tenho vindo a recordar meu Avô. Já tenho registado recordações da Grande Guerra, um período muito penoso para toda a Europa. Em Portugal, uma das três repúblicas europeias de então, o desencadear da convulsão veio avolumar as naturais consequências da alteração do regime implantado recentemente. Todas as famílias portuguesas sofreram o que a guerra arrasta, a fome, as epidemias, o agravamento de todas as carências.
Nesta altura da Grande Guerra já os meus Pais estavam casados e durante estes anos nasceram dois dos meus irmãos; a Manuela no Palácio de Belém!.. Ela contou este facto em 1981, quando ainda leccionava no Liceu Camões, numa entrevista com Mega Ferreira, para a revista Espaço/Magazine: - “… nasci numa pequena sala do segundo andar do palácio, onde agora funcionam serviços de secretaria. Nessa altura, eram as dependências onde habitava o Presidente da República”… ”Tudo se passou por acaso: no dia 30 de Janeiro, fazia anos um dos meus tios mais velhos, o dr. António Machado. Era hábito reunir a família numa festa de aniversário, e os meus pais deslocaram-se a Belém para a comemoração. No domingo, dia 30, a minha mãe foi acometida das dores de parto e a minha avó já não a deixou sair. Nasci nesse dia e sei que durante alguns dias vivi ali, na própria zona residencial.”… “Um dia, já depois de meu avô ter seguido para o exílio, pedi a minha mãe que me mostrasse o sítio onde nasci. Lembro-me que foi um irmão meu que nos levou de automóvel. Estacionámos em frente do Palácio, junto à entrada para o Pátio das Damas. Minha mãe apontou-me a segunda água-furtada do lado esquerdo: foi ali.” …



Pátio das Damas


No dia 28 de Março de 1917
Na primeira fila: a Manuela  já ao colo da mãe -  Rita Sá Marques , a Avó Elzira,
o Avô Bernardino com a neta Maria Adelaide
e a tia Maria com a sobrinha Elzira
Na segunda fila: a tia Jerónima, o tio Domingos, a tia Sofia
e meu pai Alberto Sá Marques com meu irmão José ao colo





No Palácio de Belém em 1917







É uma recordação alegre! Mas infelizmente outras lembranças nos entristecem…
Durante o exílio de meu Avô, após o golpe sidonista, faleceu em Hendaya a Tia Maria Francisca!


Maria Francisca




Miguel Dantas em 1894
com a Rita no colo direito e a Maria no colo esquerdo










A tia Maria era muito chegada a minha Mãe, mais velha um ano.
Minha Avó teve sempre as filhas mais velhas a ajudarem-na na “vigilância do rancho”…Primeiro, enquanto solteiras, a tia Manuela e minha Mãe. Entre os postais, que minha mãe coleccionava, está um escrito por meu Avô que diz: - “Os filhos mais velhos não compreendem facilmente e não apreciam justamente a excessiva tolerância dos pais para com os filhos mais novos. É que, para a educação dos mais velhos, os pais estão sós, e, para a dos mais novos, já contam com os mais velhos. Mesmo por isso estes precisam de ser modelares.”




A tia Manuela com minha Mãe





Os Avós com as filhas Maria Francisca (à direita) e a Rita e Joaquina (à esquerda)









Depois do casamento da tia Manuela, a tia Maria ainda teve a ajuda de minha Mãe.




No livro “Maria” escrito por meu Avô após o falecimento da tia Maria, lemos: “O que ela não fazia! Tratava de todos nós, para que eu não me fatigasse tanto a trabalhar, a mãe descansasse nela, as irmãs tivessem todo o tempo para os seus estudos, e os pequenos andassem contentes e alegres. E ela? Era só assim que não lhe faltava nada, que tinha o mais que queria. Sagrado enlevo! Era a nossa providência. Minha mulher dizia-me: ”A Maria é a minha conselheira.” Quando não podia ir com as filhas, ia ela. E foi a quem a Rita entregou, para se tratar no Gerês, a pequena Adelaide, que lhe queria tanto, que nem um momento livre lhe deixava, cheia de ciúme no seu afecto, enrolando-se-lhe à saia do vestido, quando ela ia para jogar o croquet”
Entre os papéis deixados por meus Pais encontrei a carta da tia Maria para minha mãe, dando notícias do Gerês, e a procuração para ser madrinha de meu irmão José, registada no consulado de Hendaya, pouco tempo antes do seu falecimento´






É verdade o que escreveu meu Avô no livro “Maria”: - “A verdadeira família não se segrega da sociedade. Vibra unissonamente com ela. Por isso, os agravos dos adversários atingem-nos mesmo nos nossos lares.”
Quando do golpe sidonista meu Pai, ao ter conhecimento do cerco do Palácio de Belém e da saída de meu Avô para o exílio, foi saber de minha Avó e filhos; foi preso e conduzido para a Penitenciária!...










Durante o ano de 1917 foi intensa a campanha antiguerrista; relembramos o panfleto “Rol da desonra”, impresso no jornal “O Liberal”, com diatribes sobre a presença em França dos filhos dos governantes!...
Meu tio Bernardino Machado esteva na frente de batalha, como sinaleiro, numa posição de alto risco.






As residências em Lisboa de Meus Avós




Com a vinda para Lisboa em 1908 meus avós deixaram de ter uma residência com permanência; - o que minha Avó Elzira não teria sofrido com tanta instabilidade!...Aos 18 anos tinha ao colo o seu primeiro filho e aturou até falecer, em 1942, com 76 anos uma família enorme!...




1917
Bernardino Machado na Cidadela com as filhas Maria e Joaquina





Na Cidadela de Cascais  -  1917
Joaquina Machado, Leote do Rego, Ester Norton de Matos,
 Bernardino Machado, Norton de Matos,
 Rita Norton de Matos e Domingos Machado








Agenda de Bernardino Machado onde registou
 a compra e a ida para a residência da Cruz Quebrada








Rua Ponta Delgada








Rua das Taipas










Com é verdadeiro o que Bernardino Machado escreveu: -   
“A política também é uma religião, a religião do novo ideal do progresso humano, por cuja vitória sofremos todas as dores e todos os martírios. Nós, os democratas, combatentes irredutíveis da reacção que escraviza as almas – quanto vivemos escravizados pelo nosso dever cívico nas lutas que contra ela travamos! Prazeres, interesses, a própria cultura e até a vida de família, tudo sacrificamos à causa sagrada da justiça. E quási não temos tempo para mais senão para defende-la dos golpes dos seus inimigos. Os povos que, a cada passo, necessitam de despender na reivindicação do direito as melhores energias do seu génio, porque amargos transes não passam! Só a liberdade fortifica e engrandece os indivíduos e as nações: implantemo-la de vez entre nós.


Bayonne, 11 de Novembro de 1930






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