A minha participação no passado dia 17 na Cidadela de Cascais
Começo por manifestar a minha satisfação por aqui estar e,
assim, poder agradecer, em nome da Família Machado Sá Marques, à Presidência da
República as homenagens que se têm vindo a prestar a meu Avô Bernardino
Machado. Contente ainda por poder felicitar todos os que conseguiram realizar a
Exposição “Boa viagem Senhor Presidente. De Lisboa até à Guerra”, e que tão bem
souberam activá-la com outras manifestações, como estas conversas que nos juntaram.
A Senhora Directora do Museu da Presidência, Dra. Maria Antónia Pinto de Matos,
e seus Colaboradores estão de parabéns! A todos saúdo com afecto e gratidão!
Desde há anos que no meu blogue “Bernardino Machado” tenho
vindo a recordar meu Avô. Já tenho registado recordações da Grande Guerra, um
período muito penoso para toda a Europa. Em Portugal, uma das três repúblicas
europeias de então, o desencadear da convulsão veio avolumar as naturais
consequências da alteração do regime implantado recentemente. Todas as famílias
portuguesas sofreram o que a guerra arrasta, a fome, as epidemias, o
agravamento de todas as carências.
Nesta altura da Grande Guerra já os meus Pais estavam casados
e durante estes anos nasceram dois dos meus irmãos; a Manuela no Palácio de
Belém!.. Ela contou este facto em 1981, quando ainda leccionava no Liceu
Camões, numa entrevista com Mega Ferreira, para a revista Espaço/Magazine: - “…
nasci numa pequena sala do segundo andar do palácio, onde agora funcionam
serviços de secretaria. Nessa altura, eram as dependências onde habitava o
Presidente da República”… ”Tudo se passou por acaso: no dia 30 de Janeiro,
fazia anos um dos meus tios mais velhos, o dr. António Machado. Era hábito
reunir a família numa festa de aniversário, e os meus pais deslocaram-se a
Belém para a comemoração. No domingo, dia 30, a minha mãe foi acometida das
dores de parto e a minha avó já não a deixou sair. Nasci nesse dia e sei que
durante alguns dias vivi ali, na própria zona residencial.”… “Um dia, já depois
de meu avô ter seguido para o exílio, pedi a minha mãe que me mostrasse o sítio
onde nasci. Lembro-me que foi um irmão meu que nos levou de automóvel.
Estacionámos em frente do Palácio, junto à entrada para o Pátio das Damas.
Minha mãe apontou-me a segunda água-furtada do lado esquerdo: foi ali.” …
Pátio das Damas |
No Palácio de Belém em 1917 |
É uma recordação alegre! Mas infelizmente outras lembranças
nos entristecem…
Durante o exílio de meu Avô, após o golpe sidonista, faleceu
em Hendaya a Tia Maria Francisca!
Maria Francisca |
Miguel Dantas em 1894 com a Rita no colo direito e a Maria no colo esquerdo |
A tia Maria era muito chegada a minha Mãe, mais velha um ano.
Minha Avó teve sempre as filhas mais velhas a ajudarem-na na
“vigilância do rancho”…Primeiro, enquanto solteiras, a tia Manuela e minha Mãe.
Entre os postais, que minha mãe coleccionava, está um escrito por meu Avô que
diz: - “Os filhos mais velhos não compreendem facilmente e não apreciam
justamente a excessiva tolerância dos pais para com os filhos mais novos. É que,
para a educação dos mais velhos, os pais estão sós, e, para a dos mais novos,
já contam com os mais velhos. Mesmo por isso estes precisam de ser modelares.”
A tia Manuela com minha Mãe |
Os Avós com as filhas Maria Francisca (à direita) e a Rita e Joaquina (à esquerda) |
No livro “Maria” escrito por meu Avô após o falecimento da
tia Maria, lemos: “O que ela não fazia! Tratava de todos nós, para que eu não
me fatigasse tanto a trabalhar, a mãe descansasse nela, as irmãs tivessem todo
o tempo para os seus estudos, e os pequenos andassem contentes e alegres. E
ela? Era só assim que não lhe faltava nada, que tinha o mais que queria.
Sagrado enlevo! Era a nossa providência. Minha mulher dizia-me: ”A Maria é a
minha conselheira.” Quando não podia ir com as filhas, ia ela. E foi a quem a
Rita entregou, para se tratar no Gerês, a pequena Adelaide, que lhe queria tanto,
que nem um momento livre lhe deixava, cheia de ciúme no seu afecto,
enrolando-se-lhe à saia do vestido, quando ela ia para jogar o croquet”
Entre os papéis deixados por meus Pais encontrei a carta da
tia Maria para minha mãe, dando notícias do Gerês, e a procuração para ser
madrinha de meu irmão José, registada no consulado de Hendaya, pouco tempo
antes do seu falecimento´
É verdade o que escreveu meu Avô no livro “Maria”: - “A
verdadeira família não se segrega da sociedade. Vibra unissonamente com ela.
Por isso, os agravos dos adversários atingem-nos mesmo nos nossos lares.”
Quando do golpe sidonista meu Pai, ao ter conhecimento do
cerco do Palácio de Belém e da saída de meu Avô para o exílio, foi saber de
minha Avó e filhos; foi preso e conduzido para a Penitenciária!...
Durante o ano de 1917 foi intensa a campanha antiguerrista;
relembramos o panfleto “Rol da desonra”, impresso no jornal “O Liberal”, com
diatribes sobre a presença em França dos filhos dos governantes!...
Meu tio Bernardino Machado esteva na frente de batalha, como sinaleiro, numa posição de alto risco.
Meu tio Bernardino Machado esteva na frente de batalha, como sinaleiro, numa posição de alto risco.
Com a vinda para Lisboa em 1908 meus avós deixaram de ter uma
residência com permanência; - o que minha Avó Elzira não teria sofrido com tanta
instabilidade!...Aos 18 anos tinha ao colo o seu primeiro filho e aturou até
falecer, em 1942, com 76 anos uma família enorme!...
1917 Bernardino Machado na Cidadela com as filhas Maria e Joaquina |
Na Cidadela de Cascais - 1917 Joaquina Machado, Leote do Rego, Ester Norton de Matos, Bernardino Machado, Norton de Matos, Rita Norton de Matos e Domingos Machado |
Agenda de Bernardino Machado onde registou a compra e a ida para a residência da Cruz Quebrada |
Rua Ponta Delgada |
Rua das Taipas |
Com é verdadeiro o que Bernardino Machado escreveu: -
“A política também é uma religião, a religião do novo ideal
do progresso humano, por cuja vitória sofremos todas as dores e todos os
martírios. Nós, os democratas, combatentes irredutíveis da reacção que
escraviza as almas – quanto vivemos escravizados pelo nosso dever cívico nas
lutas que contra ela travamos! Prazeres, interesses, a própria cultura e até a
vida de família, tudo sacrificamos à causa sagrada da justiça. E quási não
temos tempo para mais senão para defende-la dos golpes dos seus inimigos. Os povos
que, a cada passo, necessitam de despender na reivindicação do direito as
melhores energias do seu génio, porque amargos transes não passam! Só a
liberdade fortifica e engrandece os indivíduos e as nações: implantemo-la de
vez entre nós.
Bayonne, 11 de Novembro de 1930
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