segunda-feira, 30 de julho de 2012

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Nas minhas deambulações pela internet, encontrei hoje no blogue  -  "Sai-te daqui", de 14 de Setembro de 2007,  clicar aqui, o seguinte texto, que reproduzo com a devida vénia:


"Um exemplo de poesia política...Em pleno consulado sidonista, algures em Maio de 1918 (recorda-se que Sidónio Pais se apossara do poder pela revolução sangrenta de 5 a 8 de Dezembro de 1917... e os soldados do CEP na Flandres, junto ao rio Lys, que se fossem lixando nas trincheiras à espera dos reclamados mas recusados reforços... ou da vindima trágica do 9 de Abril) o "Defesa de Arouca", claramente republicano-democrático, transcrevia de "O Norte" esta deliciosa peça, que é um excelente exemplo de poesia política:

MONÓLOGO PARA TODOS

Para ter gótica amante,
mostrando-a sempre flamante
do mar da Mancha ao mar Jónio,
não é preciso mais nada:
basta estar numa embaixada...
basta apenas ser-se... idóneo.

Para calúnias e petas
espalhar pelas gazetas
contra Afonso ou contra António,
e, depois deste arreganho,
ficar com cara de estanho,
basta apenas ser-se... idóneo.

Para ser Francisco, Alfredo,
Venceslau ou Roboredo,
inda Pancrácio ou Sinfrónio,
basta esta coisa singela:
mudar o nome à gamela...
basta apenas ser-se... idóneo.

Para ser-se castelhano,
austríaco ou prussiano,
búlgaro, turco ou lapónio,
diz daqui do lado o Soiza,
não ser preciso outra coisa...
basta apenas ser-se...idóneo.

Para ser-se rei e ministro,
um presidente sinistro,
e bispo, e papa... o demónio,
não se carece outra carta,
(como penhor que bem farta):
basta apenas ser-se... idóneo.

Para ser heroi falido,
por faltar ao prometido
e seguir caminho erróneo,
a fugir da consciência,
num sonho mau de demência:
basta apenas ser-se... idóneo.

Para se ter um renome
que nenhum tempo consome,
e vá da Mancha ao mar Jónio,
não basta ser batoteiro,
ser cacique eleiçoeiro...
não basta só ser-se... idóneo.

Para se ser respeitado
Qual Bernardino Machado,
até do simples campónio,
deve ser irrepreensível
a vida o mais que é possível;
não basta só ser-se...idóneo.

Para se ser estadista,
sincero propagandista,
como Afonso ou como António,
ainda que o não pareça,
é preciso ter cabeça,
não basta só ser-se... idóneo.

E, para ter um só rosto,
uma só fé, um só posto,
como bom lacedemónio,
muito mais nos é preciso:
muita honra e muito siso...
não basta só ser-se... idóneo."









1 comentário:

paula disse...

Muito giro Dr. Sá Marques.
Beijinho.
Saudades!