sábado, 10 de novembro de 2018



LEAL DA CÂMARA

 

Já em anterior blogue  -  clicar aqui  -  referi a intervenção de Ana de Castro Osório junto de Bernardino Machado para a escolha de Leal da Câmara como colaborador na Exposição do Rio de Janeiro.

A propósito da conferência de António Valdemar na Casa Museu Leal da Câmara, fui reler o livro de Aquilino Ribeiro, que me foi oferecido pela minha Tia e Madrinha Gigi, onde o facto está registado nas páginas 134 e 135.









A carta de Ana de castro Osório



"Não quero escrever-lhe a agradecer todo o seu grande e inteligente interesse pelo meu afilhado (Leal da Câmara) porque queria já dizer qualquer coisa da resposta do Sr. Lisboa de Lima. Agora me escreve o Leal - "Fui ao Lisboa de Lima que me recebeu amavelmente mas fez a restrição de perguntar a todos estes bonzos das Belas-Artes, tais como Augusto Gil, José de Figueiredo, Bermudes, e quejandos, o que eles pensam. Eu disse-lhe francamente que eles não pensavam nada a não ser desejarem todos fazer uma viajata ao Brasil. O que era preciso  era alguém que quisesse, soubesse e pudesse fazer mesmo (á brasileira) a tal exposição com uma aparência europeia e do ano de 1922. Para este fim punha-me à sua disposição. Disse-me que ia pensar. Talvez conviesse que o ajudássemos a aclarar estes pensamentos."
Li o que me diz o Leal e eu entendo que só V. Ex.cia tem autoridade sob todos os pontos de vista para dizer ao S. Lisboa de Lima, que para ele o Leal é a Providência que o fará em todas as linhas triunfar. O Leal da Camara é um artista com nome em Paris e pode assim dizer-se mundial. O Leal como decorador é o único que temos e admirável. O Leal é um republicano da propaganda a quem a República nada tem feito e que dava ao Comissário (1) um tom que agradaria aos republicanos. Fica pois  nas mãos de V. Ex.cia este assunto urgente para daí sugestionar o nosso Comissário.
Estava tratando de mandar vir o Zeca (2), que apesar de estar de saúde me diz "que está de mãos postas na ansia de vir". Se não mo quizerem vir, como fez aquela  ............  criatura que nós conhecemos, mando-lhe ordem para pedir licença sem vencimento e vir à nossa custa. Se V. Ex.cia quizer interessar-se por ele aqui junto uma nota.
Aqui no meu lindo bairro não ha nada de           Disseram-me que o               pensa em deixar o 1º andar da "Cruzada" com entrada pela Rua do Século (meia laranja) casa magnífica e independente. Se assim for quer V. Ex. cia  que previna a D. Beatriz para a não ceder? Não tem vista  do mar, mas é boa. Realmente a de V. Ex. cia é muito fria.(3)
Peço mil lembranças para todos, muito especialmente para Sra. D. Elzira a quem escrevo por estes dias  para lhe enviar umas surprezas para o Narciso ou para os pequenos, se ele já se sentir muito homem.
Acabo de receber cartas da Dra. Paulina Luisi (4), do Uruguai, com muitas lembranças para V. Ex. cia. Escreveu dois artigos a nosso respeito no 5 de Outubro  e está só maguada com as notícias que lá chegaram da revolução, "pois quer a Portugal como uma segunda Pátria."
A Carmen de Burgos (5) tambem se recomenda muito. O Governo (confidencial) trouxe-a cá para ver a verdade (ver que não bolchevismo ) e foram muito amáveis oferecendo-lhe o colar da Comenda (6) que V. Ex.cia lhe deu. Ficou satisfeita. Vê-se que o ministro dos estranjeiros (7) é um rapaz inteligente, que sabe fazer as coisas. Agora vão sair artigos  esplendidos na Esfera e Mundo Gráfico. (8) Tudo ela prepara. É uma boa amiga de Portugal.
Aqui está tudo desesperado contra a imbecilidade do Presidente que foi (dizem eles) o verdadeiro culpado das mortes pois tão depressa deu a V. Ex.cia a demissão quanto desta vez a negou... Isto estava-se dizendo hoje publicamente no G. Civil 


e todos fizeram justiça a V. Ex.cia. "




Recordo uma entrevista que António Valdemar fez à Tia Gigi...
- clicar aqui













Sem comentários: