domingo, 19 de novembro de 2017



Recordar Alfredo Guisado  -  4





Alfredo Guisado
[Lisboa, 1891 - Lisboa, 1975] 
Alfredo Guisado




Poeta modernista de ascendência galega, que adoptou para algumas das suas publicações o nome de Pedro de Meneses e, uma ou outra vez, o de Alfredo Pedro Guisado. Licenciado pela Faculdade de Direito de Lisboa em 1921, nunca exerceu a advocacia. Foi vice-presidente da comissão executiva da Câmara Municipal de Lisboa e deputado, e tomou parte activa no Partido Republicano Português. Como jornalista, colaborou nos jornais Rebate e República, tendo sido director-adjunto deste, na última fase. A sua família era proprietária do Restaurante Irmãos Unidos, ao qual a nossa história literária viria a associar o seu nome, o de Pessoa e o de todos aqueles que, em torno deOrpheu, aí muitas vezes se reuniam. É o volume de versos Distância que marca a estreita identificação de Alfredo Guisado com a estética do paulismo, em consonância com a então recente publicação, por Fernando Pessoa, das «Impressões do Crepúsculo» (ou «Pauis», como ficaria mais conhecido o poema que vem a estar na origem de toda uma teorização estética que motivou e caracterizou os poetas de Orpheu), no número único da revista Renascença(1914). Os «Treze sonetos» que Alfredo Pedro Guisado publica em 1915 no primeiro número deOrpheu confirmam essa filiação. E, se em 1916 em recensão crítica publicada na revistaExílio, Fernando Pessoa, entretanto já mais sensacionista que paúlico (cf. carta de 19-1-1915, in F. Pessoa, Cartas a Armando Côrtes-Rodrigues, cit. por Nuno Júdice, in A Era do «Orpheu», 1986, p. 39: «Passou de mim a ambição grosseira de brilhar por brilhar, e essa outra, grosseiríssima, e de um plebeísmo artístico insuportável, de querer épater. [...] E por isso não são sérios os Pauis [...]. Hoje sinto-me afastado de achar graça a esse género de atitude.»), reivindica para o Elogio da Paisagem uma filiação sensacionista, a verdade é que «a exuberância abstracto-concreta das imagens», a «riqueza da sugestão na associação delas» e a «profunda intuição metafísica» que lhes atribui já eram características do paulismo – como notam Gaspar Simões (História da Poesia Portuguesa do Século XX) e Fernando J. B. Martinho (Pessoa e a Moderna Poesia Portuguesa - Do «Orpheu» a 1960). Nesse sentido, e até por um certo número de constantes formais da sua poesia, o nome de Alfredo Guisado, ou, mais ainda, o de Pedro de Meneses, está muito mais próximo de Mário de Sá-Carneiro do que de Fernando Pessoa. Porque a adopção do criptónimo, ainda que queira de algum modo responder ao «apelo» heteronímico de Pessoa, não ilude afinal uma personalidade una: aquela que, pelo uso e abuso da maiusculação, pela justaposição de palavras, pela frequência das frases infinitivas, por diversas violações da sintaxe – de que se destaca a regência de verbos intransitivos com objecto directo – e por preferências temáticas de ressonâncias orientalizantes ou bíblicas, como «Salomé» (tema, aliás, também tratado por Mário de Sá-Carneiro), compromete definitivamente este poeta como aquele que mais fortemente absorveu a influência paúlica. Mas em quem, no entender de Fernando Martinho (op. cit.), o paulismo nunca deixou de ser aquilo a que o próprio Pessoa chamou a «corrente cuja primeira manifestação nítida foi o simbolismo», por oposição ao sensacionismo enquanto «atitude enérgica, vibrante, cheia de admiração pela Vida, pela Matéria e pela Força, que tem lá fora representantes como Verhaeren, Marinetti, a condessa de Noailles e Kipling» (Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação). E isto mesmo com a ressalva – que aqui deve ser feita – para o carácter difuso das fronteiras que seus próprios teorizadores mal definem no estabelecimento destas dicotomias. À parte, porque de características muito específicas, deverá ser considerado Xente d'Aldea, versos galegos onde «Guisado [aliás, Pedro de Meneses, que também assim este livro é subscrito] chama a si toda a ternura da sua ancestralidade galega», tirando «belo partido do sabor tão doce dessa versão arcaizante da nossa língua que se fala nas aldeias para além-Minho, com os seus meigos diminutivos» (Óscar Lopes, História Ilustrada das Grandes Literaturas - Literatura Portuguesa - Época Contemporânea) e onde «a evocação da terra, paisagem e tipos ressalta em pequenos quadros dialogados de costumes, deliciosos de autenticidade, e a que nem mesmo falta a nota discretamente heróica de uma resistência à absorção castelhanizante e sobretudo à exploração social» (ibidem). Uma outra forma de saudosismo, esta de intenção mais patriótica, marca As Cinco Chagas de Cristo, onde retoma o nome: Alfredo Pedro Guisado.
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. III, Lisboa, 1994




















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