Os livros de Aquilino Ribeiro
Ao arrumar nas prateleiras as obras de Aquilino Ribeiro, reparei que o escritor oferecia a meu Pai os livros, que periodicamente ia editando, com dedicatória cordial, mesmo afectuosa, o que foi acontecendo até 1939.
"Mónica" é o último livro com dedicatória!
Após o aparecimento da cegueira de meu Pai, éramos nós, os filhos, que lhe líamos os livros. Quase sempre nas férias de verão que passávamos na Idanha-Belas, nessa altura um aldeia saloia, e respirávamos os ares do Pinhal da Venda Seca.
No verão de 1939, durante a leitura do romance "Mónica" por uma das minhas irmãs, meu Pai ouvia com deleite uma das passagens em que o o escritor descreve a natureza, com a mestria que lhe era peculiar. Apareceram então no pinhal umas amigas da leitora, que foram convidadas por meu Pai a ouvir "a maravilhosa prosa"! Mas no seguimento da leitura, o texto passou a referir comportamentos humanos "mais ousados", o que deixou meu Pai perplexo...
Passado algum tempo meu Pai teria contado a Aquilino Ribeiro este facto, manifestando uma opinião sobre o romance que coincidia com as críticas que então lhe eram feitas nalguns jornais.
A partir de então as ofertas dos "livros do Aquilino" passaram a ser dádivas de seus filhos ou da tia Gigi...
Contando estas recordações ao António Valdemar, que considero "um perito aquiliano", fui alertado para o "reboliço literário" provocado com o aparecimento do romance "Mónica", e para a polémica entre João Gaspar Simões e Aquilino Ribeiro.
Recordo que há meses, conversando com o António Silveira, saudoso amigo, filho do Professor António Silveira, soube que conservava uma bengala que pertenceu a Aquilino Ribeiro. Foi uma oferta do escritor ao Professor Silveira, por este ter conseguido demove-lo da vontade de dar umas bengaladas no áspero e feroz crítico do seu livro - "Mónica"!...
De facto recordo que as relações entre meu Pai e Aquilino Ribeiro passaram a ser "mais distantes" a partir da década de 40.
Durante a vivência no meio familiar fui reconhecendo como é difícil avaliar a personalidade, seja de quem for, mesmo dum grande escritor.
A bengala oferecida ao Professor António Silveira |
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