Fidelino de Figueiredo ao embarcar para o degredo em Angola 1 de Novembro de 1927 (Do espólio da Torre do Tombo) |
Recordar Fidelino de Figueiredo - 4
"um espírito político com notória incapacidade política" (Fidelino de Figueiredo)
Do livro editado em 1989 pela Biblioteca Nacional - "FIDELINO de FIGUEIREDO", transcrevemos da colaboração de José da Costa Miranda - "Memória de Fidelino de Figueiredo", o seguinte texto:
{Os anos de 1910 a 1927 quiseram as circunstanciais que tivessem sido, na vida de Fidelino de Figueiredo, os únicos de sua directa e intensa participação na vida portuguesa. A este propósito evidencie-se a sua brilhante actividade no ensino secundário, como professor de liceu e assessor do Ministério da Instrução Pública; sua competente actuação na reforma e na modernização da Biblioteca Nacional de Lisboa (v. "Como dirigi a Biblioteca Nacional", 1919) e, por fim, sua notável acção no movimento de reforma da historiografia portuguesa, particularmente no campo da filosofia da história, onde desde logo se impôs com a obra "O espírito histórico", 1910, e no campo da história literária, especialidade a que deu o máximo do seu trabalho e que projectou o seu nome no plano internacional. (v. "A crise literária em Portugal: da Renascença à actualidade", 1910; "A crítica literária como ciência", 1912; "História da literatura romântica", 1913; "Características da literatura portuguesa",1914; "História da literatura realista", 1914; "História da literatura clássica", 1917-1924; "História da literatura portuguesa, manual escolar", 1918. Ainda neste particular não se pode deixar de por em evidência a acção de Fidelino de Figueiredo na Sociedade Portuguesa de Estudos Históricos (1911-1928), de que foi um dos fundadores e secretário e para a qual escreveu os estatutos, e especialmente sua direcção.
Em 12 de Agosto de 1927, acusado de conspirar contra o governo, Fidelino de Figueiredo foi preso. Sobre o episódio, suas razóes, seus objectivos e responsabilidades pessoais, deu minuciosas explicações, numa entrevista que a censura não permitiu que se publicasse, mas que felizmente, se conservou entre os seus papeis. Sendo "um espírito político com notória incapacidade política"(disse-o de si mesmo), Fidelino de Figueiredo pensou que, interrompida, com a revolução de 28 de Maio de 1926, a primeira agitada experiência republicana portuguesa, era chegada "a hora de constituir uma doutrina em torno de um homem ou de um bloco de homens". Passados poucos dias da eclosão do movimento de 28 de Maio, em um folheto manifesto ("O pensamento político do exército"), Fidelino de Figueiredo, filho de ilustre militar e amigo de militares de alta patente, procurou interpretar o modo como importante facção das forças armadas pensava intervir no momento político que Portugal vivia. Passado um ano, isto é, em Agosto de 1927, certo que essa intervenção dar-se-ia sob o comando do oficial da marinha Filomeno da Câmara deu, a um incipiente movimento militar, a sua colaboração; mas o movimento, pelo recuo dos militares, abortou e, no dia 12 de Agosto, Fidelino de Figueiredo era preso como autor intelectual de uma tentativa de contra-revolução, logo apelidada, por detractores, de a "Revolução dos Fi-Fis" (Filomeno e Fidelino). Processado e condenado ao degredo na África, em 11 de Novembro do mesmo ano, seguia para Angola, onde esteve apenas poucos dias, necessários à preparação da sua fuga, que se fez via Santo António do Zaire, onde pòde alcançar um navio francês, com o qual chegou a Bordeus, viajando em seguida para Madrid. As peripécias dessa fuga relatou-as, mais tarde, num dos capítulos do "Coleccionador de angústias" - "Lisboa a Madrid através de Angola".
Contratado como redactor do prestigioso jornal madrileno "El Debate" (v. artigos reunidos nas obras "Viagem através de Espanha literária", 1918, e "Notas para um idearium português", 1929) e como professor de língua e literatura portuguesa da Universidade Central de Madrid, dois anos viveu em Espanha, concentrado sobretudo no estudo da história e da literatura espanhola, área em que veio a ser também uma autoridade.
Em 1929, amnistiado, pôde voltar a Portugal e, desencantado ante os rumos da política portuguesa, expressou o julgamento dessa realidade na obra de carácter metafórico, que classificou como "quase novela", "Uma viagem à Fobolândia" (1929).
O profundo desgosto decorrente do episódio político vivido em 1927 e o desencanto da vida profissional e intelectual no que chamou "o pequeno pátio lusitano" levou Fidelino de Figueiredo a imprimir novos rumos à sua actividade de professor e escritor. Nesse sentido deixou definitivamente o ensino local e se dedicou a cursos e conferências em Portugal e no estrangeiro.]
A revolução dos Fi-Fis:
Em 12 de Agosto de 1927, acusado de conspirar contra o governo, Fidelino de Figueiredo foi preso. Sobre o episódio, suas razóes, seus objectivos e responsabilidades pessoais, deu minuciosas explicações, numa entrevista que a censura não permitiu que se publicasse, mas que felizmente, se conservou entre os seus papeis. Sendo "um espírito político com notória incapacidade política"(disse-o de si mesmo), Fidelino de Figueiredo pensou que, interrompida, com a revolução de 28 de Maio de 1926, a primeira agitada experiência republicana portuguesa, era chegada "a hora de constituir uma doutrina em torno de um homem ou de um bloco de homens". Passados poucos dias da eclosão do movimento de 28 de Maio, em um folheto manifesto ("O pensamento político do exército"), Fidelino de Figueiredo, filho de ilustre militar e amigo de militares de alta patente, procurou interpretar o modo como importante facção das forças armadas pensava intervir no momento político que Portugal vivia. Passado um ano, isto é, em Agosto de 1927, certo que essa intervenção dar-se-ia sob o comando do oficial da marinha Filomeno da Câmara deu, a um incipiente movimento militar, a sua colaboração; mas o movimento, pelo recuo dos militares, abortou e, no dia 12 de Agosto, Fidelino de Figueiredo era preso como autor intelectual de uma tentativa de contra-revolução, logo apelidada, por detractores, de a "Revolução dos Fi-Fis" (Filomeno e Fidelino). Processado e condenado ao degredo na África, em 11 de Novembro do mesmo ano, seguia para Angola, onde esteve apenas poucos dias, necessários à preparação da sua fuga, que se fez via Santo António do Zaire, onde pòde alcançar um navio francês, com o qual chegou a Bordeus, viajando em seguida para Madrid. As peripécias dessa fuga relatou-as, mais tarde, num dos capítulos do "Coleccionador de angústias" - "Lisboa a Madrid através de Angola".
Contratado como redactor do prestigioso jornal madrileno "El Debate" (v. artigos reunidos nas obras "Viagem através de Espanha literária", 1918, e "Notas para um idearium português", 1929) e como professor de língua e literatura portuguesa da Universidade Central de Madrid, dois anos viveu em Espanha, concentrado sobretudo no estudo da história e da literatura espanhola, área em que veio a ser também uma autoridade.
Em 1929, amnistiado, pôde voltar a Portugal e, desencantado ante os rumos da política portuguesa, expressou o julgamento dessa realidade na obra de carácter metafórico, que classificou como "quase novela", "Uma viagem à Fobolândia" (1929).
O profundo desgosto decorrente do episódio político vivido em 1927 e o desencanto da vida profissional e intelectual no que chamou "o pequeno pátio lusitano" levou Fidelino de Figueiredo a imprimir novos rumos à sua actividade de professor e escritor. Nesse sentido deixou definitivamente o ensino local e se dedicou a cursos e conferências em Portugal e no estrangeiro.]
A revolução dos Fi-Fis:
A revista "Portugalia" (1925/6) criada por Fidelino de Figueiredo:
Sem comentários:
Enviar um comentário