António Valdemar
António Valdemar, (Ilha de São Miguel, Açores) foi presidente da Academia Nacional Belas Artes (2008/2014), sócio efectivo da Academia das Ciências, membro da Academia Portuguesa da História; investigador, olisipógrafo e jornalista profissional.
Vida e obra
Tem desenvolvido, a partir do final dos anos 50, intensa actividade cultural, com textos de intervenção crítica, abordagem e pesquisa histórica, além da participação em colóquios, júris e conferências. Tem investigado e publicado trabalhos acerca da história e a evolução de Lisboa, nas suas múltiplas transformações sociais, políticas, literárias, artísticas e urbanísticas. É também autor de inúmeros outros trabalhos publicados em livros, jornais e revistas a propósito dos Açores. Organizou, em 1988, com o patrocínio da Câmara Municipal da Ribeira Grande, da Presidência da Republica e da Academia Nacional de Belas Artes a I Semana do Barroco, com a intervenção de intelectuais e críticos de renome nacional. O Conselho da Europa associou-se a esta manifestação. Presidiu ao grupo que procedeu à coordenação da informatização e digitalização dos tomos do Inventário Artístico de Portugal do Distrito de Aveiro (Zona Nordeste, Norte e Sul); Distrito de Beja (Zona Norte); Distrito de Coimbra (Cidade e Distrito), Distrito de Évora, Distrito de Leiria, Distrito de Portalegre, Cidade do Porto e Distrito de Santarém. Representante em Portugal e no estrangeiro da Academia Nacional de Belas-Artes no Conselho Europeu das Academias de Belas-Artes, tem representado, igualmente, a Academia, dentro e fora de Portugal, em congressos, seminários, simpósios e outras reuniões de projecção nacional e internacional. Faz parte, desde 1987, dos júris anuais de atribuição dos prémios da Academia Nacional Belas-Artes, José de Figueiredo, Doutor Gustavo Cordeiro Ramos, Aquisição e Investigação. Dirigiu, durante seis anos, a galeria Diário de Notícias, no Chiado. Organizou dezenas de exposições de escultores, pintores e ceramistas. Entre outras destacam-se uma retrospectiva de Barata Feyo, escultura e desenho e outra de João da Silva, com grande destaque na área da medalhística. A carreira profissional de António Valdemar principiou, em 1958, no jornal República colaborando, entretanto, no Diário de Lisboa. Entrou em 1960 para o quadro do Diário de Notícias, esteve ligado ao grupo fundador de A Capital; desempenhou o cargo de chefe de redacção de A Vida Mundial; exerceu de 1968 a 1980 a chefia de redacção, em Lisboa, de O Primeiro de Janeiro, regressando depois ao Diário de Noticias. Desde o noticiário e a reportagem até à entrevista, à crónica e ao artigo de opinião acompanhou os grandes acontecimentos nacionais ocorridos nas últimas décadas. Integrou, o gabinete editorial do Diário de Notícias, leccionou jornalismo no Instituto Politécnico de Santarém; e orientou em vários locais do País outros cursos de Comunicação Social e de Cultura Portuguesa (séculos XIX e XX). Participou durante vários anos no desenvolvimento do programa de incentivo ao livro e à leitura, sendo co-autor com Jacinto Baptista de dois volumes publicados pelo Conselho de Imprensa e pela Alta Autoridade da Comunicação social. Teve um programa diário na RTP2, de 1984 a 1996; foi colaborador permanente do programa ACONTECE da RTP, dirigido por Carlos Pinto Coelho; é colaborador efectivo, desde 2007, do semanário Expresso, no caderno de arte e cultura ACTUAL.
Obra publicada
É autor, entre outros, dos seguintes livros:
- Ser ou Não Ser Pelo Partido Único – introdução e entrevistas com José Magalhães Godinho; Jaime Nogueira Pinto, Henrique Barrilaro Ruas,Coelho da Silva, Victor Wengorovius e Francisco Pinto Balsemão (Arcádia 1973);
- Chiado: o peso da Memória-1991
- A Cidade dos Sítios-1994;
- Garrett, vida e Obra, 1999;
- 25 dos 4 – introdução histórica e crítica e selecção dos cartuns de António, Cid, Maia, Vasco (1999, edição Assírio e Alvim).
- Nemésio, sem limite de idade – 2001
- Teixeira Gomes, um Português no Magreb, com prefácios de Jorge Sampaio e Abdelaziz Bouteflika (presidente da República da Argélia),
- Republica, em Loures a 4 de Outubro, com prefácio de Mário Soares.
Prefaciou: Hermano Neves, a Grande reportagem, da autoria de Norberto Lopes;
- Memórias de Um Ex Morfinómano, de Reinaldo Ferreira (Repórter X) edições portuguesa e brasileira.
- Amores da Cadela Pura I e II, memórias de Margarida Vitória, marquesa de Jácome Correia
- Os Maias, de Eça de Queiroz, edição comemorativa do centenário promovida pelo Circulo dos Leitores.
- Nemésio, sem limite de idade, foi editado pelo Clube do Coleccionador e lançado, em 2001, nos Açores (Horta e Angra) no âmbito das manifestações comemorativas do centenário do nascimento do autor de Mau Tempo no Canal.
Reproduz inúmeros autógrafos inéditos e percorre passo a passo os múltiplos aspectos da vida e da obra de Vitorino Nemésio. Para a publicação oficial, da Presidência da República, das Comemorações do 10 de Junho de 2002, efectuadas em Beja, com uma exposição bio-bibliográfica e iconográfica sobre Mariana Alcoforado, escreveu;
- As Cinco Cartas do Desassossego.
Acompanhou a última viagem presidencial de Jorge Sampaio ao estrangeiro, sendo o orador oficial na homenagem prestada a Teixeira Gomes em Bougie e o autor do livro e antologia de textos literários de Teixeira Gomes Um Português no Magreb, com prefácios de Jorge Sampaio e Abdelaziz Bouteflika (presidente da República da Argélia). Este livro foi traduzido em árabe por Badr Hassanien, numa edição conjunta do Instituto Camões e da Presidência da República A importância de trabalhos de António Valdemar e/ou a colaboração que prestou a obras de erudição vêm assinaladas na História de Portugal de Veríssimo Serrão e na última edição da História de Literatura Portuguesa de António José Saraiva e Óscar Lopes.
Prémios
José de Figueiredo, por duas vezes, para o melhor estudo na área da história (Chiado: o peso da Memória-1991 e A Cidade dos Sítios-1994); Prémio Júlio César Machado – 1987, para a melhor reportagem ou artigo sobre Lisboa – Cesário Verde em novos manuscritos; Prémio Júlio de Castilho – 1990, para o melhor livro sobre Lisboa Chiado: o Peso da Memória. Tem o grande oficialato das ordens honoríficas portuguesas. Foi condecorado, em 1991, no Dia de Portugal, em Tomar, pelo Presidente da República, Mário Soares com a Ordem de São Tiago; e, em Maio de 2000, pelo Presidente da República Jorge Sampaio, com o Grande Oficialato da Ordem de Mérito. Também foi condecorado pelo Presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso com a Ordem do Rio Branco. Recebeu, em Maio de 2008, a Medalha de Honra da Sociedade Portuguesa de Autores atribuída, por unanimidade
OS LIVROS DE PONTA DELGADA
António Valdemar, investigador e jornalista do Diário de Notícias, recorda algumas das principais referências a Ponta Delgada na Literatura que tem escolhido a capital açoriana como cenário de ficção, poesia, drama ou memorialismo na sua forma mais simples. Trata-se de uma homenagem à cidade que comemora, dentro de pouco tempo, os quinhentos anos da sua elevação a vila, em 1499. Sitiada no centro do Atlântico, Ponta Delgada é também uma das mais belas cidades portuguesas: «de Santa Clara à Calheta de Pedro de Teive, apesar das modificações que surgiram, permanece, de dia e noite, o mar – presença dominadora, sinal de ancoragem, metáfora de travessia, aliança de tradição com o quotidiano, do real com o imaginário, e todos outros vínculos da memória coletiva.» | Texto de António Valdemar, 1997-1998.
Ponta Delgada, durante cinco séculos, nasceu e cresceu junto do mar. Começou por ser habitada na Calheta de Pedro Teive e expandiu-se para o lado poente até Santa Clara. De «solitário ermo, saudoso lugar e pobre aldeia», conforme referiu o cronista Gaspar Fructuoso, no século XVI, passou a «cidade com muitas casas sumptuosas e rias, sobradadas, caiadas por dentro e por fora e tão fortes e edificadas com a melhor alvenaria que pareciam fortalezas.»
O processo da evolução urbana foi rápido. Por volta de 1450 terão surgido os primeiros habitantes, que eram pescadores; a elevação a vila decorreu em 1499; tem data de 2 de abri de 1546 o foral de D. João III que lhe conferiu a categoria de cidade. A capital da ilha esteve em Vila Franca do Campo, até ao terramoto de 1522. Tudo ficou destruído. Milhares de pessoas morreram. Todavia, já antes do cataclismo que provocou a deslocação do capitão do donatário e a transferência das estruturas políticas e administrativas, um alvará de D. Manuel I ordenou, em 1518, a mudança da alfândega e do almoxarifado para Ponta Delgada.
Ponta Delgada entrou na literatura logo no século XVI com As Saudades da Terra, de Gaspar Fructuoso. Só viria a ser publicada a obra neste século mas, logo após a morte do autor em agosto de 1591, o manuscrito legado aos padres jesuítas, foi objeto de numerosas cópias que chegaram ao conhecimento dos eruditos e intelectuais.
Outras crónicas também registaram figuras, acontecimentos, património construído, instituições e lugares de Ponta Delgada: Espelho Cristalino, de Diogo das Chagas; História lnsulana, de António Cordeiro; Crónica de Província de S. João Evangelista, de Agostinho de Montalverne; Margarita Animada, de Francisco Afonso de Costa Chaves e Melo.
Qualquer deles sem a envergadura e a qualidade de escrita de Fructuoso, muito embora a descrição de Ponta Delgada, em Saudades da Terra, não tenha a vivacidade e o pitoresco da narrativa que no livro VI dedicou à cidade de Angra.
Desde o século XVI, existem nos Açores intelectuais de mérito reconhecido, dentro e fora do arquipélago. Muitos deles, a partir dessa altura, refletem nas suas obras o homem dos Açores e as componentes físicas e psicológicas da insularidade. Dois casos paradigmáticos: Gaspar Fructuoso, (1522-1591), cronista do povoamento e desenvolvimento de Santa Maria e São Miguel e também das outras ilhas (embora sem tanto pormenor) já acentua as limitações e a angústia de quem está condenado a ficar numa ilha; António Cordeiro, (1641-1722), já aponta o imperativo de uma autonomia política e administrativa. Dir-se-ia, de certo modo, um precursor remoto da geração de Aristides da Mota, de Eugénio Pacheco e Montalverne Sequeira.
Logo no início do século XIX começa a surgir uma extensa literatura de viagens, a acrescentar ao conjunto apreciável de relações, do século XVI e XVII, com notícia de sismos, de combates militares e outras ocorrências.
Há inúmeras publicações do período das lutas liberais. Desse tempo agitado destacam-se as memórias de Luz Soriano, Recordações da minha Vida, com abundantes elementos informativos acerca de Ponta Delgada; e também as memórias de João Pedro Soares Luna, militar sob cujas ordens serviram Garrett, Herculano, José Estêvão e muitos outros elementos que largaram de S. Miguel com destino ao Mindelo.
Das páginas lacónicas de Soares Luna reconstituiu Aquilino Ribeiro o itinerário micaelense de Garrett, numa introdução às Viagens na Minha Terra, reunida depois no livro de ensaios ocasionais De Meca a Freixo-de-Espada-à-Cinta. Apresentou Garrett desde as idas aos outeiros do Convento de Jesus, na Ribeira Grande, até à partida de Ponta Delgada, a fim de apoiar a causa de D. Pedro.
As Memórias, de Castilho (escritas por seu filho Júlio, o cronista de Lisboa Antiga), referem a ação pedagógica, cívica e cultural que desempenhou enquanto permaneceu em Ponta Delgada. Não residiu muito tempo, mas foi o suficiente a fim de estimular e preparar a geração que, na segunda metade do século XIX, levou a efeito os grandes empreendimentos que transformaram não só a cidade mas toda a ilha de S. Miguel.
Será, todavia, no século XIX e, sobretudo, no século XX, que se manifesta a problematização da insularidade como expressão singular no panorama da cultura portuguesa.
Na elaboração da História, na criação literária, nas artes plásticas, no teatro, na música e, mais recentemente, no cinema, procurou-se, de vários modos, o aprofundamento das raízes. Tudo o que tem sido afirmação coletiva e testemunho individual de gerações sucessivas: os ritos de passagem, tradições que permanecem latentes e conferem à região singularidades específicas.
RESSURGIMENTO E AÇORIANIDADE
Decorre em Ponta Delgada, no fim dos anos quarenta, início dos anos cinquenta, uma das fases criativas deste movimento, em oposição a um regionalismo destituído de conteúdo. Já tinham, por exemplo, manifestado a relação profunda do homem com a ilha Roberto Mesquita, (1871/1923), poeta de âmbito nacional, com o livro póstumo Almas Cativas, uma das figuras marcantes do movimento simbolista que viveu e morreu nas Flores, uma das ilhas mais isoladas dentro da própria região; e Vitorino Nemésio (1901/1978) poeta, romancista e professor universitário que, residindo em Lisboa ou em Coimbra e, durante alguns anos, em Montpellier e Bruxelas, ficou quase sempre voltado para o universo da infância e adolescência na sua terra, a Praia da Vitória, na ilha Terceira.
Literatura açoriana? Literatura de significação açoriana? Um espaço açoriano na literatura portuguesa? As três interrogações (e outras mais) justificam-se perante uma extensa produção cultural, em relação íntima com a terra, numa aliança da Geografia com a História.
A campanha política para a autonomia (que surge em S. Miguel, residindo os seus líderes em Ponta Delgada) está na origem do decreto de 2 de março de 1895 que apenas consagrou algumas medidas administrativas que deram lugar às Juntas Gerais em Ponta Delgada, Angra e, mais tarde, na Horta, dos três distritos autónomos, com os respetivos governadores civis, sempre bastante subordinados ao Poder Central.
Uma descentralização alargada só se definiu, a 2 de Abril de 1976, na Constituição Política que fixou as Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira. Passou, então, a existir um Governo próprio, uma Assembleia Regional eleita por sufrágio universal, de harmonia com o princípio da representação proporcional e um ministro da República que superintendia as funções administrativas desempenhadas pelo Estado na Região e as coordena com as funções exercidas pela própria região.
Entre a literatura de viagem e a crónica, mencionam-se os livros de Júlio de Castilho e de Bulhão Pato acerca dos Açores, detendo-se ambos em redor da cidade e das suas referências emblemáticas.
Já neste século XX publicaram-se dois livros fundamentais: Mês de Sonho, de José Leite de Vasconcelos, que abriu caminho para as investigações na etnografia, na antropologia, e na linguística, e As Ilhas Desconhecidas, de Raul Brandão, que surpreendeu a essência da paisagem geográfica e humana do arquipélago. Fascinou-se com os jardins de Ponta Delgada.
Nos jardins de Ponta Delgada ressaltam alguns tópicos do universo vegetado que Raul Brandão fixou em todos os matizes do verde, uma luz cheia de pasmos e abismos.
Outros livros em que a crónica de viagem se concilia com a reportagem e onde Ponta Delgada se destaca: Ilha das Três Formusuras, de Sousa da Costa; Ilha Verde, de Maria Lamas; Primavera nas Ilhas, de Hugo Rocha; Terras de Maravilha, de Odemiro César.
Um capítulo de Pequenos Mundos e Velhas Civilizações, de Ferreira de Castro, apresenta-nos a cidade em ligação com o mar, num tempo ainda de costas voltadas para ele. Muitos outros, vindos de fora, detiveram-se, igualmente, na cidade: Francisco José Viegas, Crime em Ponta Delgada (e os seguintes títulos da sua obra «policial»); Joaquim Manuel de Magalhães, Do Corvo a Santa Maria; e Agustina Bessa Luís, em páginas do Concerto dos Flamengos e no guião para o filme de Manoel de Oliveira, com o título Party.
Vitorino Nemésio escreveu sobre Ponta Delgada numa das crónicas de O Corsário das Ilhas e deixou inédito o primeiro capítulo de um romance incompleto Ponta Firme. Esse texto notável decorre num lupanar da cidade – a casa de Funchala, aquando de uma visita, por ocasião ele lima ida aos Açores de universitários do Orfeão Académico de Coimbra.
Narrativas históricas publicadas no século XIX e no início do século XX, de autoria de Guilherme Read Cabral, Francisco Maria Supico e Francisco Faria e Maia, assinalaram personalidades, acontecimentos, lugares e edifícios civis, religiosos e militares. Mas tem surgido em textos de ficção, em narrativas que traduzem o circunstancial imediato, o real quotidiano ou os símbolos e metáforas de insularidade, o homem dos Açores e as componentes físicas e psicológicas da insularidade.
Ainda com o Cais de Alfândega, a varanda de Pilatos, o Aterro, com as suas pontes de carvão e o espaço rural das cercanias, Ponta Delgada encontra-se registada por Manuel Ferreira, em O Alevante do Isco, Matança do Minhoca e em O Barco e o Sonho, que mereceu uma série de televisão. Muitas crónicas de Armando Cortes-Rodrigues, em A Voz do Longe e outras dispersas na «Nota da Semana», que começou no Correio dos Açores e prosseguiu no Açores, retratam essa atmosfera já tão distante: decorrem no cenário do Jardim José do Canto e traçam o perfil de figuras ela sua simpatia (e antipatia) que deixavam de pertencer ao número dos vivos.
A cidade com bancos e cambistas, em redor da Matriz, participa na efabulação de 50 Pesos Argentinos, de Rui Guilherme de Morais, e em inúmeras crónicas que também Rui Guilherme de Morais tem publicado, regularmente, no [jornal] Atlântico-Expresso e na [revista] Açorianíssima.
Escreveu Dias de Melo um livro sobre Ponta Delgada com o título inequívoco Cidade Cinzenta, e Fernando Aires dela se ocupou em Cidade Cercada e nos sucessivos tomos do diário Era uma vez o Tempo. Se bem que predomine um universo rural em O meu Reino não é deste Mundo e Gente Feliz com Lágrimas, João de Melo deixou alusões à cidade aberta para o mar, a evasão e a fuga de opressões múltiplas. Da geração dos anos quarenta assinalam-se, entretanto, estórias de Eduíno Borges Garcia, entre as quais Os Invasores e a narrativa incompleta e dispersa num jornal, Uma História de Guerra, de Eduardo de Vasconcelos Moniz. O começo do cinema, do automóvel, a maçonaria, a agitação durante a primeira guerra mundial surgem nas Memórias das Ilhas Desafortunadas, de Manuel Barbosa.
O ESPAÇO RURAL EM TRANSIÇÃO
O desenvolvimento agrícola e comercial determinou o aparecimento de áreas demarcadas que perduraram, apesar das alterações nos últimos anos; os bairros piscatórios da Calheta e de Santa Clara; um sector agrícola, desde o Foral da Misericórdia ao Monte da Mãe de Deus, até à Fontinha do Maranhão, que dá acesso aos Arrifes; uma zona estufeira que se distribuía da Pranchinha até à Fajã de Baixo; e o núcleo residencial de grandes proprietários e das classes dirigentes da Arquinha, em Sant’Anna e na antiga Rua de S. Brás ou da Fonte Velha (atual Rua Machado dos Santos), que se prolongava do Convento de S. João (hoje Teatro Micaelense) até ao Mosteiro da Esperança. No centro e na baixa radicava-se o comércio. O rosto da cidade tem sofrido alterações no decurso dos tempos. Mas ainda subsistem vestígios dos primeiros espaços residenciais e comerciais. Um dos testemunhos vivos é a Rua dos Mercadores inserida, durante quatro séculos, nas imediações da Alfândega. Tudo ainda permanecia envolvido num passado remoto, mantinha-se o perfil arquitetónico e urbanístico inventariado por Luís Bernardo de Athayde e os usos e tradições recolhidas ao vivo, também por Luís Bernardo de Athayde e mais tarde por Carneiro da Costa. É a cidade ainda do capote e capelo, e dos velhos carros de cavalos, os landeaux das coxeiras Machado & Viveiros, que Silva Júnior gostava de referir, com uma ponta de saudade e outra de melancolia, nas suas crónicas, e que perdura nos bilhetes postais de Evaristo Travassos e dos primeiros tempos da fotografia de Gilberto Nóbrega.
VULCÕES, SISMOS, TEMOR E CASTIGO
O fenómeno religioso é uma das motivações frequentes. O vulcanismo determinou a constituição geológica e definiu o temperamento e o caráter das populações. Francisco Arruda Furtado, Luís Ribeiro e Vitorino Nemésio, ao pronunciarem-se acerca do comportamento e religiosidade dos açorianos, concluem que se fundamentam, essencialmente, na superstição e no medo, perante a iminência constante dos sismos, das intempéries e outras calamidades frequentes.
Impera o temor que se traduz no emprego da palavra castigo, acerca de qualquer contrariedade, um grande desastre, ou um pequeno prejuízo, como a morte de um animal doméstico. «O conceito de divindade vingativa», observou Luís Ribeiro, «predomina sobre o de Deus misericordioso, caridade e amor.» José Leite de Vasconcelos, a propósito do sentimento religioso nos Açores, classificou a comemoração do Espírito Santo como «uma festa nacional de todos os corações, de todas as classes e de todas as idades» (Mês de Sonho). Para Nemésio, em Mau Tempo no Canal, as festas do Espírito Santo «enchem a Primavera das ilhas de um movimento fantástico, como se homens e mulheres imitando os campos florissem». E acrescenta: «A alma do ilhéu é cândida e tenaz; quer um Deus vivo e alegre; chama-o à intimidade do seu pão e das suas ervas húmidas.» Apesar da hegemonia do profano sobre o sagrado, do ímpeto eufórico das comemorações do Espírito Santo, nos seus primórdios associadas, também, aos receios e pavores em face do vulcanismo – a liturgia da penitência é uma das constantes no quotidiano público e privado das populações. Inspirada na Contra Reforma e em oposição às festas do Espírito Santo, existe o culto do Santo Cristo, de São Miguel.
A imagem no convento da Esperança, peça do património artístico dos Açores, é atribuída a uma oferta do Papa Paulo III às freiras que terão ido a Roma solicitar a bula para a fundação do mosteiro. O coro baixo está revestido de azulejos policromados da autoria de Oliveira Bernardes. Assinala-se, todavia, o Tesouro do Senhor Santo Cristo: o relicário, a coroa e o resplendor, tudo em ouro cravejado de pedras preciosas. Depois da custódia de Belém, no Museu das Janelas Verdes, em Lisboa, pode considerar-se o mais valioso conjunto de ourivesaria do País.
O padre José Clemente, da Congregação do Oratório, em 1763, escreveu Vida da Venerável Madre Teresa da Anunciada, Religiosa do Convento da Esperança, da Cidade de Ponta Delgada. Esta obra com sucessivas edições relata a origem de uma devoção que se estendeu às outras ilhas e ganhou raízes profundas nos emigrantes, onde quer que estejam. Tem Hugo Moreira publicado numerosos trabalhos de investigação histórica, a propósito de todos os aspetos do culto, dos que o instituíram, do acervo de arte ali existente e do funcionamento do convento da Esperança, através dos séculos.
Por seu turno, Urbano de Mendonça Dias foi um dos inúmeros escritores açorianos que retomou o tema que encontrou na poesia uma abundante produção de Oliveira San-Bento. Recentemente, Fernando Dacosta dedicou um livro ilustrado com fotografias de Jorge de Barros, ao culto do Santo Cristo, no contexto da religiosidade nas ilhas.
MEMÓRIAS, INTIMIDADE
Entre os livros de memórias, os anos quarenta e cinquenta mereceram páginas de Maria da Graça Ataíde, no segundo volume das suas memórias; de Margarida Jácome Correia em Amores da Cadela Pura; e de Breno de Vasconcelos, em Paz Cinzenta. Inserem-se na transição da cidade velha para a Ponta Delgada que se modificará no centro histórico e no litoral com o plano de urbanização de João António de Aguiar, cujo primeiro troço da marginal será inaugurado em junho de 1952.
Um grande poeta como Antero nasceu em Ponta Delgada. Referiu-se à cidade em cartas e num artigo de jornal, escrito – era ainda muito jovem – a propósito da urgência da construção da doca. O apego de Antero à sua ilha e à sua cidade são evidentes mas não podem ser objeto das tradicionais considerações da chamada literatura açoriana. Antero constitui um modelo ou um símbolo de universalidade. Nos Sonetos encontramos o desespero do século XIX, o itinerário do homem na pluralidade das suas contradições e dos conflitos ideológicos de uma época. É certo que o encontro de Antero com a morte decorreu ao cair da noite, numa praça de Ponta Delgada, num dia abafado, cinzento, asfixiante, com todos os ingredientes da insularidade. Para disparar contra si próprio dois tiros de revólver, a fim de por termo à existência, escolheu, todavia, um cenário que já se enquadrara no seu sonho de infinito e na sede de absoluto: «(…) Junto ao mar sentei-me tristemente/ olhando o céu pesado e nevoento/ e interroguei, cismando, esse lamento/ que saía das cousas, vagamente/ que inquieto desejo vos tortura/ seres elementares, força obscura?/ Em volta de que ideia gravitais? Mas na imensa extensão, onde se esconde/ um bramido, um queixume, e nada mais.»
De resto, a sua poesia não reflete nem a cidade, nem a ilha, nem o arquipélago. O mar de Antero é bem outro, e não estabelece a relação do homem com a sua circunstância, à semelhança do que acontece com Roberto de Mesquita e com Vitorino Nemésio.
Tem Ponta Delgada muitos outros poetas que nela nasceram e viveram. Mas julgo que nenhum deles ainda fez um poema significativo à cidade, tal como Marcolino Candeias, a propósito de Angra. Apesar disto, o quadro geográfico e humano da cidade perdura em poemas de Eduíno de Jesus, de Jacinto Soares de Albergaria e de Emanuel Jorge Botelho. Poderá não haver referências explícitas, mas Ponta Delgada e os seus lugares e os seus habitantes encontram-se em símbolos codificados ou em mensagens subliminares. Já Natália Correia foi muito mais explícita numa das páginas do livro Não Percas a Rosa, no qual dificilmente se distingue onde começa a prosa e onde acaba a poesia.
Todos eles e outros mais procuraram retratar os dias iguais, a chuva lenta, as manhãs sem claridade, as tardes que desmaiam em prantos, as noites que começam e se prolongam em soluços. Toda uma vida sem cor e sem alegria, com traumas sociais, retaliações diárias, ressentimentos agravados está sempre perante o mar, nesse mar que Vitorino Nemésio assim caraterizou: «O mar é livre de se mover, não de mudar de sítio. O ilhéu morre de mobilidade numa situação perpétua.?
Reunidos em livro ou dispersos em jornais e revistas têm ficado muitos textos acerca de Ponta Delgada, quer em poesia, quer em ficção, quer em crónicas e artigos de jornais, quer ainda em abordagens de natureza histórica.
Mas quantos outros projetos, ideias, sonhos e anotações do quotidiano se perderam em numerosas tertúlias que têm existido na cidade, a partir do século XIX. Por exemplo, a casa de António Feliciano de Castilho, onde se associou o empenho dos problemas da cultura e de educação ao desenvolvimento económico e social. O Grémio Trovador, dos poetas ultrarromânticos e de jornalistas em que Francisco Maria Supino foi a figura de maior evidência; os Esotéricos que, no final do século XIX, acompanharam o movimento simbolista colaborando, entretanto, na página de quinta-feira do Diário dos Açores e no semanário O Preto no Branco. Poderia ainda mencionar as tertúlias de José Bruno Carreiro e Diogo Ivens; do Bar Jade e do Café Gil, estas duas últimas a par de literatura e do cinema, também inseridas, antes do 25 de Abril, na luta da oposição democrática. Relativamente aos pontos de encontro atuais serão de incluir, entre outros, a Tabacaria Açoreana e o Café Royal onde se conjuga a literatura e a política, mas sem a homogeneidade dos grupos anteriores.
CRÍTICA, IRONIA E SARCASMO
A relação com a cidade nem sempre tem sido cordial. Ponta Delgada é, por vezes, muito mais rejeitada e odiada do que amada. Esse sentimento acentua-se fundamentalmente em torno de situações, grupos sociais e individuais. A ironia e o sarcasmo dos açorianos, e com especificidades no micaelense, reveste-se de características muito próprias.
Na literatura que acolhe Ponta Delgada como cenário podemos incluir o poema heroico-cómico Saltapíada, de José da Costa. Transposição do Hissope, de António Diniz da Cruz e Silva, por um árcade póstumo de Ponta Delgada, mestre de meninos e notável explicador de latim, conhecedor extraordinário da língua portuguesa. Decorre a Saltapíada em torno de um episódio surgido na celebração das Endoenças na Matriz de Ponta Delgada, quando ainda eram acompanhadas pela música do Padre Serrão. Mas também há a musa irónica de Rolando Viveiros, em redor das pequenas frivolidades mundanas e a malícia sem maldade das gazetilhas e redondilhas de Alá, nome de marca de António Lima Araújo, espírito jovial, um sorriso agradável de Ponta Delgada até aos anos sessenta.
Dos exilados voluntários e involuntários destacam-se dois livros cruéis: Horas de Ócio. Memórias de um Juiz Hipocondríaco; e Mormaço, de Ferro Alves, resultado das primeiras levas de deputados, após a implantação da ditadura militar que inicia o fascismo em Portugal. Acrescentaria as crónicas mordazes de Carolina Homem Cristo, nos anos quarenta, que deram lugar a uma resposta indignada de Afonso da Cunha, no Correio dos Açores.
Todavia, nasceu, viveu e morreu em Ponta Delgada um dos mais ferozes detratores das figuras de proa da cidade: José Augusto da Costa Resende. Ainda hoje poucos desejam evocá-lo. Manuel Barbosa traçou-lhe uma apreciação sumária num livro de perfis micaelenses. Nos jornais A Ventosa, A Ventosa Sarjada, e O Sinapismo, Ponta Delgada e as chamadas «boas famílias» foram impiedosamente arrasadas, ora em textos com o seu nome ou com o pseudónimo de Aníbal Metralha. Deixou um livro de sonetos, de recorte bocagiano, A Tocha, em que se assinalam chicotadas de sarcasmo nos ídolos com pés-de-barro, na mediocridade atuante, nos novos-ricos e nos falsos ricos, nos tabus morais, culturais, políticos e religiosos de uma sociedade convencional e hipócrita.
NATUREZA E VIAGENS
Viajantes e naturalistas desde os fins do século XVIII manifestaram interesse pelos Açores. As ilhas estavam incluídas na rota da índia e do Brasil. A importância estratégica do arquipélago em pleno Atlântico era indiscutível. Descobriram nas ilhas um tesouro para o estudo e a investigação das ciências naturais. Mas, numa Europa agitada pela Revolução Francesa, também se buscava um local de repouso em íntimo contato com a natureza. Houve ainda os que procuravam no clima benigno dos Açores remédio para certas doenças. Por um motivo ou por outro surgiram numerosos visitantes e com eles uma literatura de viagens, de investigação científica, de registo dos usos e costumes, do temperamento e caráter das populações.
Em muitos livros de estrangeiros está descrita a vida social e política de Ponta Delgada. Das páginas mais curiosas destacam-se as de John Webster, publicadas em Boston em 1821, e de que há uma tradução no Arquivo dos Açores. Webster residiu em S. Miguel entre 1817 e 1818 a fim de colher informações sobre a constituição geológica da ilha. Contudo, o mais importante dessa obra são as observações a propósito da vida quotidiana. Sob vários pontos de vista, Webster é bastante cáustico, retratando um meio boçal e retrogrado.
Entretanto passaram duas gerações. Sentiram-se os efeitos da educação e do ensino e o relato dos irmãos Bullar [Henry Bullar e Joseph Bullar] já denuncia outros hábitos. Entre tantos exemplos destaca-se «O baile em Ponta Delgada», uma das grandes evocações do livro Um Inverno nos Açores e um Verão no Vale das Furnas.
Duas obras de ficção decorrem em S. Miguel situando muitos episódios em Ponta Delgada: Dona Josefa, de Matilde do Canto, com carta-prefácio de Romain Rolland. Matilde do Canto, de resto, primeira mulher do escritor Canto da Maia, passou longas temporadas em Ponta Delgada. Contatou os diferentes estratos sociais. Viveu por dentro do quotidiano de Ponta Delgada, que só se alterou com a II Guerra Mundial. Outro dos livros a citar é L’Essui-Glase, de Christine Garnier, hóspede frequente de Cristiano Frazão Pacheco. Não poderia ter encontrado melhor cicerone para conhecer a ilha.
Apesar de ter passado apenas algumas horas em Ponta Delgada deu-nos uma visão profunda da cidade e da ilha Ernest Jünger. Trecho a que deu o título «O Vendedor de Peixe», integrado no livro O Coração Aventuroso, contém pequenos lapsos, próprios de um passageiro em trânsito. Dá-nos, contudo, o quadro real e simbólico, de antiga cidade, do fim dos anos vinte ou da década de trinta. Poucos como Ernest Jünger apanharam ao vivo e por dentro os fatores da insularidade e as vicissitudes do isolamento.
Ser de uma ilha e dentro desta ilha de uma pequena ou de uma cidade como Ponta Delgada é bem diferente do que ser de qualquer outro sítio de um continente, mesmo quanto se trate de um local com o peso da interioridade, ou os condicionalismos da distância e a ausência de comunicações e transportes.
Logo nas Saudades da Terra, Fructuoso colocou este problema ao comparara o espaço da ilha a uma sepultura cercada pelo mar. António Cordeiro também fez questão de afirmar a sua origem e condição de açoriano, tanto na História Insulana, como noutros livros da sua autoria, Loreto Lusitano, Virgem Senhora da Lapa. Com efeito, não se declara, apenas, no título dos seus livros, padre jesuíta, mas também, «lusitano, insulano, angrense». Acentuou, por exclusão de partes, o que um seu contemporâneo, D. Francisco Manuel de Melo, afirmava: «A melhor das cinco partes do mundo é a Europa, a melhor da Europa é a Hispânia, a melhor da Hispânia é Portugal, a melhor de Portugal é Lisboa, a melhor de Lisboa é o Rossio e o melhor do Rossio são as casas de meu pai onde vejo os touros no lado da sombra.»
Do passado mais recente desapareceram o Cais da Alfândega, local inevitável da entrada e saída de Ponta Delgada; o mercado do Corpo Santo e o Aterro, com o Café Roberto e as velhas pontes para carga e descarga de carvão, data de fins de 1946 o primeiro plano de urbanização. Dele resultou a Marginal, cujo primeiro troço se inaugurou em 1952. Construíram-se, entretanto, edifícios para atividades ligadas ao quotidiano de Ponta Delgada: a Capitania do Porto, a Alfândega, o Comando Naval, os Correios, a Repartição das Finanças, o primeiro centro comercial, vários hotéis e o único arranha-céus até agora existente e que continua a ser motivo de controvérsia.
Numa praça com arcadas, de traça neo-pombalina, instalaram-se serviços públicos ou de interesse público: agências bancárias, escritórios, representações consulares. Só nos últimos cinquenta anos é que Ponta Delgada se voltou para o mar – deve-se à marginal e à sua continuidade numa via rápida para a periferia e em direção à costa norte ao sul da ilha.
Com nova expressão arquitetónica surgiu, igualmente, uma nova dinâmica na cidade: o hangar da Marinha, junto ao Castelo, e o Cais da Sardinha foram aproveitados para o turismo e a restauração. O Clube Naval e as piscinas representam outros espaços de lazer e de convívio. A juventude reúne-se, à noite, no espaço da marina e em salas de dança e bares que atravessam toda a cidade e arredores.
Apesar de tudo isto, restam exemplos numerosos do passado histórico com a marca de várias épocas e estilos e com a evidência de transformações nesse mesmo património arquitetónico e no contexto urbanístico em que se integra.
Mesmo sem as condições geográficas da baía de Angra, passagem obrigatória das naus que regressavam da Índia e do Brasil, sede da Provedoria das Armadas, o tráfego marítimo oriundo do reino e do estrangeiro, também escalava em Ponta Delgada. A ilha produzia abundância em cereais, pastel, laranjas e, mais tarde, ananases, que seguiam para diversos países da Europa. Foram muitos os que vieram e se ligaram à ilha e à cidade.
Embora sem o privilégio da Horta e de Angra, cenários de um romance com a estrutura, a dimensão e a qualidade da escrita de Mau Tempo no Canal, de Vitorino Nemésio, assim Ponta Delgada ao longo dos séculos, ficou assinalada em obras e páginas notáveis a pretexto das singularidades da paisagem, das caraterísticas da ocupação humana e de manifestações culturais, sejam elas de natureza erudita, sejam elas de caráter popular.
Trata-se de um reencontro com as sucessivas cidades que tem havido em 450 anos de Ponta Delgada. De um diálogo ou, quantas vezes, monólogo com a face visível e oculta da cidade, o espaço rural das periferias urbanas transformou-se, mas de Santa Clara à Calheta de Pedro de Teive, apesar das modificações que surgiram, permanece, de dia e noite, o mar – presença dominadora, sinal de ancoragem, metáfora de travessia. Aliança de tradição com o quotidiano, do real com o imaginário, e todos outros vínculos da memória coletiva.
António Valdemar