CAMPO DO TARRAFAL, ILHA DE SANTIAGO, CABO VERDE
Àlvaro Leite Ribeiro
Publicado a 19/05/2013
Visitei neste domingo, 19 de maio de 2013, a Colônia Penal do Tarrafal, situada no lugar de Chão Bom do concelho do Tarrafal, na ilha de Santiago (Cabo Verde). A prisão foi criada em 1936 pelo Governo português da época. O Campo do Tarrafal, ou Campo de Concentração do Tarrafal, começou a funcionar em 29 de Outubro de 1936, com a chegada dos primeiros prisioneiros.
O Campo encerrou em 1954, por pressão internacional após a Segunda Guerra, e foi reaberto entre 1961 e 1962, sob a denominação de Campo de Trabalho do Chão Bom, para receber prisioneiros oriundos das colônias portuguesas. Manteve-se como prisão até 1974 (e não 1984, como disse no início do vídeo).
Se o Campo do Tarrafal passa à história como o «Campo da Morte Lenta» o deve, principalmente, à famosa «frigideira», uma caixa de cimento para onde eram enviados os presos que ficavam de «castigo».
Ainda que este vídeo mostre um lugar de tristes lembranças, um colega e amigo não resistiu em fazer uma brincadeira, como poderão ver.
O Campo do Tarrafal, Patrimônio Nacional de Cabo Verde, pretende ser transformado, um dia, em Patrimônio da Humanidade.
O Campo encerrou em 1954, por pressão internacional após a Segunda Guerra, e foi reaberto entre 1961 e 1962, sob a denominação de Campo de Trabalho do Chão Bom, para receber prisioneiros oriundos das colônias portuguesas. Manteve-se como prisão até 1974 (e não 1984, como disse no início do vídeo).
Se o Campo do Tarrafal passa à história como o «Campo da Morte Lenta» o deve, principalmente, à famosa «frigideira», uma caixa de cimento para onde eram enviados os presos que ficavam de «castigo».
Ainda que este vídeo mostre um lugar de tristes lembranças, um colega e amigo não resistiu em fazer uma brincadeira, como poderão ver.
O Campo do Tarrafal, Patrimônio Nacional de Cabo Verde, pretende ser transformado, um dia, em Patrimônio da Humanidade.
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Por António
Valdemar
Público - 08/11/2013
Há nomes que perduram com as tatuagens da
ignomínia e da vergonha. Revivem na memória da crueldade e da infâmia e com tão
profundo impacto que nos levam a execrar os que se encontram na origem da
concretização institucional de todas as formas de coação e reclusão.
Um dos nomes tristemente célebres - no itinerário da
repressão e da violência que marcaram o salazarismo, nas cadeias de Caxias, do
Aljube, de Peniche e da ilha Terceira e nas prisões de Angola, de Moçambique,
da Guiné e de Timor - ficou a ser o Tarrafal, na ilha do Sal, no arquipélago de
Cabo Verde. Os presos eram submetidos à tortura, à sede, à fome, ao isolamento
prolongado. Assim, o Tarrafal ficou conhecido como "o campo da morte
lenta". A história do Tarrafal, investigada por Alfredo Caldeira e Susana
Martins numa obra com prefácio de Mário Soares, pormenoriza com rigor
documental o que foi aquela prisão, desde os primórdios até ao encerramento, a
1 de Maio de 1974.
A estrutura das colónias penais decorreu sob a tutela de
Manuel Rodrigues, ministro da Justiça, que se inspirou nos modelos da Alemanha
de Hitler; a colaboração do capitão Agostinho Lourenço, diretor da PIDE; e
execução de projetos do eng. Luís Vitória de França e do arq.º Cotinelli Telmo.
Abriu em Outubro de 1936, para a reclusão de antifascistas:
uns comunistas e anarquistas; outros apenas opositores à ditadura,
"Reviralho" e Maçonaria; outos, ainda, apoiantes da aliança com a
Inglaterra na II Guerra Mundial. (O caso do jornalista Cândido de Oliveira é
emblemático.) O último sobrevivente das sucessivas levas de centenas de presos
e numerosos mortos do primitivo Tarrafal é Edmundo Pedro, hoje homenageado, ao
completar 95 anos e que continua vigoroso e modelo de cidadania.
Devido a pressões internacionais, Salazar determinou, em
1954, o encerramento provisório. Mas, com a eclosão da guerra colonial, o
ministro do Ultramar Adriano Moreira, em 1961, restabeleceu o Tarrafal. Passou
a denominar-se "Campo de Trabalho de Chão Bom". Também em Angola, o
ministro Adriano Moreira estabeleceu outra colónia com a denominação
"Campo de Trabalho de Missombo". Destinavam-se à prisão de militantes
dos movimentos nacionalistas africanos.
Nesta segunda fase, o Tarrafal encarcerou mais de duas
centenas de nacionalistas de Angola, Guiné e Cabo Verde. Alguns ali faleceram.
Cumpriram ali pesadíssimas penas quatro escritores: Luandino Vieira, Mendes de
Carvalho, António Cardoso e António Jacinto. Quase toda a obra de Luandino
Vieira posterior a Luuanda - o livro que lhe deu renome nacional e
internacional - foi escrita na prisão. Outros políticos, intelectuais e
militares, como, por exemplo, Malagatana Valente, Rui Nogar, Luís Bernardo
Honwana e José Craveirinha, entre tantos mais, estiveram em Machava e Madalane,
em Moçambique; outros foram para a ilha das Galinhas, na Guiné; e mais outros,
ainda, para São Nicolau e Missombo, em Angola.
A luta contra a guerra colonial teve expressão
significativa, dentro e fora de Portugal. Daí o ministro da Educação de Salazar
Inocêncio Galvão Teles encerrar, a 21 de Maio de 1965, a Sociedade Portuguesa
de Escritores, por atribuir o Grande Prémio de Novelística ao livro Luuanda, de
Luandino Vieira. Todos os membros do júri foram interrogados e presos pela
PIDE: Augusto Abelaira, João Gaspar Simões, Fernanda Botelho, Alexandre Pinheiro
Torres e Manuel da Fonseca.
A sede, em Lisboa, da Sociedade Portuguesa de Escritores, na
Rua Escola Politécnica, foi vandalizada. Elementos da extrema-direita, ligados
à Legião Portuguesa e à Brigada Naval, destruíram todo o recheio. Apenas escapou
o retrato de Aquilino Ribeiro, feito pelo pintor Rui Filipe.
A conferência Rota dos Presídios no Mundo Lusófono, que,
recentemente, se efetuou em Cabo Verde, defendeu que os núcleos
concentracionários do salazarismo devem ser preservados; que interessa aprofundar
numerosos crimes e atentados, até agora ignorados e branqueados e, também,
impedir a atribuição de distinções honoríficas a responsáveis pelo Tarrafal.
As prisões políticas do salazarismo e do marcelismo - outra
conclusão importante - terão de ser devidamente estudadas, no âmbito da CPLP,
classificadas pela UNESCO e incluídas no património da resistência. Devem
constituir tema de reflexão. Não podem, nem devem, resvalar no esquecimento.
Jornalista e investigador
A exposição abre com dois painéis sobre o Campo do Tarrafal, um sobre a sua
criação, em abril de 1936, como colónia penal, e que encerrou em 1946, e, o
outro, sobre a sua reabertura, como campo de reclusão dos independentistas
africanos, em 1961.
O “Campo da Morte Lenta”, como ficou conhecido, foi criado na sequência da guerra civil espanhola e como prevenção para evitar o seu alastramento a Portugal.
O dispositivo legal, de 23 de abril de 1936, [Decreto-Lei n.º 26 539] determina que se trata de uma colónia penal destinada a cidadãos «desafetos do regime», que pelos seus antecedentes eram considerados perigosos e, por isso, devendo ser isolados em campos de concentração.
O Campo do Tarrafal abriu as suas portas em 29 de outubro de 1936, para lá encerrar os sindicalistas do “18 de Janeiro” de 1934, os marinheiros da Organização Revolucionária da Armada (ORA), que tentaram a sublevação em 8 de setembro de 1936, assim como os anarco-sindicalistas da CGT e republicanos que conspiravam contra a Ditadura. Nesta primeira leva foram 152 pessoas.
O “Campo da Morte Lenta”, como ficou conhecido, foi criado na sequência da guerra civil espanhola e como prevenção para evitar o seu alastramento a Portugal.
O dispositivo legal, de 23 de abril de 1936, [Decreto-Lei n.º 26 539] determina que se trata de uma colónia penal destinada a cidadãos «desafetos do regime», que pelos seus antecedentes eram considerados perigosos e, por isso, devendo ser isolados em campos de concentração.
O Campo do Tarrafal abriu as suas portas em 29 de outubro de 1936, para lá encerrar os sindicalistas do “18 de Janeiro” de 1934, os marinheiros da Organização Revolucionária da Armada (ORA), que tentaram a sublevação em 8 de setembro de 1936, assim como os anarco-sindicalistas da CGT e republicanos que conspiravam contra a Ditadura. Nesta primeira leva foram 152 pessoas.
Em 1946, vivia-se ainda a euforia do fim da Segunda Guerra Mundial e a
derrota do nazi-fascismo, Salazar foi pressionado pelos aliados a realizar
eleições, que anunciou «tão livres com as da livre Inglaterra», e a encerrar o
campo de concentração do Tarrafal, o derradeiro a permanecer aberto.
As eleições terminaram em farsa e o Tarrafal só encerrou em janeiro de 1954.
Em 1961, com a eclosão da luta armada em Luanda, por determinação do então ministro do Ultramar, Adriano Moreira, a prisão foi reaberta, passando a designar-se de “Campo de Trabalho do Chão Bom”, e ficou destinada a receber os que em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique lideravam os movimentos de libertação anticoloniais e independentistas.
As eleições terminaram em farsa e o Tarrafal só encerrou em janeiro de 1954.
Em 1961, com a eclosão da luta armada em Luanda, por determinação do então ministro do Ultramar, Adriano Moreira, a prisão foi reaberta, passando a designar-se de “Campo de Trabalho do Chão Bom”, e ficou destinada a receber os que em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique lideravam os movimentos de libertação anticoloniais e independentistas.
Nesse período, recusadas as propostas de Nehru para uma entrega negociada
do que o regime denominava de Estado da Índia, deu-se, em dezembro de 1961, a
anexação dos territórios de Goa, Damão e Diu.
Houve a despromoção do general Vassalo e Silva e dos oficiais que depuseram armas para evitar a perda de vidas, houve o desencadear da luta armada em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique, sem que o então ministro do Ultramar se desse conta da importância de encetar o diálogo político com os dirigentes dos movimentos de libertação. Pelo contrário, como ilustra um dos livros expostos, da sua autoria e editado pela Agência Geral do Ultramar, a ação destes movimentos é qualificada de «traição à Pátria».
No envolvimento que procura dar ao visitante o tom é de rigor e sobriedade.
A direção da SPA realça o trabalho de jornalista e historiador de António Valdemar e a organização do espaço, proporcionando ao visitante um visão rápida ou pormenorizada dos painéis, segundo a sua disponibilidade, concebida e cenografada por Fernando Filipe.Parte inferior do formulário
Houve a despromoção do general Vassalo e Silva e dos oficiais que depuseram armas para evitar a perda de vidas, houve o desencadear da luta armada em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique, sem que o então ministro do Ultramar se desse conta da importância de encetar o diálogo político com os dirigentes dos movimentos de libertação. Pelo contrário, como ilustra um dos livros expostos, da sua autoria e editado pela Agência Geral do Ultramar, a ação destes movimentos é qualificada de «traição à Pátria».
No envolvimento que procura dar ao visitante o tom é de rigor e sobriedade.
A direção da SPA realça o trabalho de jornalista e historiador de António Valdemar e a organização do espaço, proporcionando ao visitante um visão rápida ou pormenorizada dos painéis, segundo a sua disponibilidade, concebida e cenografada por Fernando Filipe.Parte inferior do formulário
1 comentário:
Há ainda gente viva que colaborou nestas monstruosidades, e nem foi julgada nem condenada.
Há gente viva que chora com saudades dêsses tempos e não é julgada.
Mas há muito mais gente viva que se lembra...
Um abraço, Sá Marques, do Quintino de Barros
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