O Monumento a Teófilo Braga
A contribuição de Bernardino Machado
O monumento no Jardim da Estrela |
Maghalhães Lima discursando na inauguração do monumento a Teófilo Braga 16 de Outubro de 1927 |
Diário de Lisboa - 15 de Outubro de 1927 |
Actualmente o monumento encontra-se em Ponta Delgada, em frente ao Forte de S. Brrás |
o convidado
Teófilo: o monumento retirado
por ANTÓNIO VALDEMAR*
05 junho 2010
05 junho 2010
Tudo ou quase tudo o que envolve a doutrinação e o estabelecimento institucional da República encontra-se associado à presença e intervenção de Teófilo Braga. Ao desencadear as comemorações do centenário de Camões, em 1880, Teófilo passou a ser uma referência contínua. De tal modo que, em 1910, foi o presidente do Governo Provisório. Quando a revolução do 14 de Maio de 1915 derrubou a ditadura de Pimenta de Castro, houve que restaurar o sistema democrático. Teófilo, uma reserva moral e cultural, ocupou a Presidência da República, num momento histórico.
Natural de São Miguel, aos 18 anos, Teófilo dirigiu-se para Coimbra a fim de cursar Direito, que terminou com distinção. Mas, ao habilitar-se para professor da universidade, foi preterido por outro candidato com ligações privilegiadas. Tentou, em seguida, leccionar na Politécnica do Porto, mas voltou a ser rejeitado. Finalmente concorreu à cátedra de literatura do Curso Superior de Letras. Conseguiu vencer apesar de Pinheiro Chagas ter as maiores protecções políticas e literárias.
Nunca mais regressou à ilha. Correspondeu-se com amigos e fazia questão de assumir as suas origens. Afirmou, de forma categórica, num inquérito: "Sempre me interessou tudo o que pudesse interessar os Açores (…). Tenho orgulho de ser açoriano (…). Nunca reneguei a minha terra, sou ilhéu, nasci nesses rochedos donde irradiou o espírito das autonomias."
Radicou-se em Lisboa desde 1872 e em Lisboa faleceu a 28 de Fevereiro de 1924. Lisboa foi a sua casa e o seu túmulo. Nunca atravessou a fronteira. Homem de extrema sobriedade concentrou-se na paixão do estudo e na paixão da política. Resumiu o quotidiano a pequenos trajectos de rotina, entre a casa na Estrela, a escola onde leccionava, no edifício da Academia das Ciências e na própria Academia da qual foi vice--presidente. Ia a São Bento, para as pesquisas na Torre do Tombo. Alargava os passos ao Chiado para consultas na Biblioteca Nacional e, à Rua do Arsenal, para a tertúlia da Livraria Carrilho Videira, que editava autores republicanos. Andava nos transportes públicos apoiado a um velho chapéu-de- -chuva, mesmo quando era Presidente da República.
A sua obra de investigação e crítica da literatura portuguesa, com largas centenas de títulos, estende-se desde a Idade Média à Questão Coimbrã e, também, inclui o aprofundamento das raízes e tradições do povo português. O ensino representou uma forma de subsistência, enquanto a luta partidária fazia parte de um exercício de militância cívica.
Teófilo faleceu em 28 de Janeiro de 1924. Tal como João de Deus e Guerra Junqueiro, teve honras nacionais, que o sepultaram no Panteão Nacional, ao tempo nos Jerónimos. Em 1925, Alfredo Guisado, poeta do Orpheu, vice- -presidente da câmara municipal, inscreveu-o na toponímia. A rua onde residia, Travessa de Santa Gertrudes, ficou a chamar-se Rua Teófilo Braga. Por iniciativa da câmara municipal, a 16 de Outubro de 1926, era inaugurado, no Jardim da Estrela, um monumento a Teófilo Braga , da autoria de Teixeira Lopes. No livro Ao Correr da Pena. Memórias de Uma Vida, Teixeira Lopes refere que, em 1916, Teófilo posara para o escultor.
Em pleno salazarismo, duro e anti-republicano, o monumento foi retirado do Jardim da Estrela e seguiu para Ponta Delgada. Isto aconteceu na década de 40. Também nesta década, Délio Santos, professor da Faculdade de Letras e deputado salazarista, inviabilizou, mesmo com oposição e escândalo universitário, uma tese de licenciatura acerca de Teófilo apresentada por Mário Soares.
Mantendo, como é evidente, o monumento em Ponta Delgada, impõe-se, contudo, no ano do centenário da República, recolocar Teófilo em Lisboa, que foi a sua outra ilha e o seu cais aberto para implantar a República. Existem diversos moldes de Teixeira Lopes. Haverá, portanto, que proceder à fundição de um dos bustos para o integrar no Jardim da Estrela ou em qualquer outro lugar nobre da cidade. Constitui uma obrigação indeclinável da câmara municipal; é reparar uma injustiça provocada por ódio político.
*Jornalista e olisipógrafo
Natural de São Miguel, aos 18 anos, Teófilo dirigiu-se para Coimbra a fim de cursar Direito, que terminou com distinção. Mas, ao habilitar-se para professor da universidade, foi preterido por outro candidato com ligações privilegiadas. Tentou, em seguida, leccionar na Politécnica do Porto, mas voltou a ser rejeitado. Finalmente concorreu à cátedra de literatura do Curso Superior de Letras. Conseguiu vencer apesar de Pinheiro Chagas ter as maiores protecções políticas e literárias.
Nunca mais regressou à ilha. Correspondeu-se com amigos e fazia questão de assumir as suas origens. Afirmou, de forma categórica, num inquérito: "Sempre me interessou tudo o que pudesse interessar os Açores (…). Tenho orgulho de ser açoriano (…). Nunca reneguei a minha terra, sou ilhéu, nasci nesses rochedos donde irradiou o espírito das autonomias."
Radicou-se em Lisboa desde 1872 e em Lisboa faleceu a 28 de Fevereiro de 1924. Lisboa foi a sua casa e o seu túmulo. Nunca atravessou a fronteira. Homem de extrema sobriedade concentrou-se na paixão do estudo e na paixão da política. Resumiu o quotidiano a pequenos trajectos de rotina, entre a casa na Estrela, a escola onde leccionava, no edifício da Academia das Ciências e na própria Academia da qual foi vice--presidente. Ia a São Bento, para as pesquisas na Torre do Tombo. Alargava os passos ao Chiado para consultas na Biblioteca Nacional e, à Rua do Arsenal, para a tertúlia da Livraria Carrilho Videira, que editava autores republicanos. Andava nos transportes públicos apoiado a um velho chapéu-de- -chuva, mesmo quando era Presidente da República.
A sua obra de investigação e crítica da literatura portuguesa, com largas centenas de títulos, estende-se desde a Idade Média à Questão Coimbrã e, também, inclui o aprofundamento das raízes e tradições do povo português. O ensino representou uma forma de subsistência, enquanto a luta partidária fazia parte de um exercício de militância cívica.
Teófilo faleceu em 28 de Janeiro de 1924. Tal como João de Deus e Guerra Junqueiro, teve honras nacionais, que o sepultaram no Panteão Nacional, ao tempo nos Jerónimos. Em 1925, Alfredo Guisado, poeta do Orpheu, vice- -presidente da câmara municipal, inscreveu-o na toponímia. A rua onde residia, Travessa de Santa Gertrudes, ficou a chamar-se Rua Teófilo Braga. Por iniciativa da câmara municipal, a 16 de Outubro de 1926, era inaugurado, no Jardim da Estrela, um monumento a Teófilo Braga , da autoria de Teixeira Lopes. No livro Ao Correr da Pena. Memórias de Uma Vida, Teixeira Lopes refere que, em 1916, Teófilo posara para o escultor.
Em pleno salazarismo, duro e anti-republicano, o monumento foi retirado do Jardim da Estrela e seguiu para Ponta Delgada. Isto aconteceu na década de 40. Também nesta década, Délio Santos, professor da Faculdade de Letras e deputado salazarista, inviabilizou, mesmo com oposição e escândalo universitário, uma tese de licenciatura acerca de Teófilo apresentada por Mário Soares.
Mantendo, como é evidente, o monumento em Ponta Delgada, impõe-se, contudo, no ano do centenário da República, recolocar Teófilo em Lisboa, que foi a sua outra ilha e o seu cais aberto para implantar a República. Existem diversos moldes de Teixeira Lopes. Haverá, portanto, que proceder à fundição de um dos bustos para o integrar no Jardim da Estrela ou em qualquer outro lugar nobre da cidade. Constitui uma obrigação indeclinável da câmara municipal; é reparar uma injustiça provocada por ódio político.
*Jornalista e olisipógrafo
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