segunda-feira, 21 de outubro de 2013



Recordar Republicanos
Abílio Marçal - I

Neste fim de semana estive a consultar os dois tomos, recentemente editados, da obra - "As Missões Laicas em África na 1ª República em Portugal", da autoria de Pedro Marçal Vaz Pereira, que o meu querido Amigo Dr Emílio Ricon Peres gentilmente me disponibilizou. Um apertado abraço de gratidão!



















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Dados biográficos de Abílio Marçal, retirados da Wikipedia, com a devida vénia.

"Abílio Marçal (de nome completo Abílio Corrêa da Silva Marçal) nasceu na então aldeia de Cernache do Bonjardim em 3 de Junho de 1867, tendo falecido em 23 de Junho de 1925, também nesta aldeia. O seu pai era António Corrêa de Sá da Cunha Castelo Branco, licenciado em Farmácia na Universidade de Coimbra, sendo o Farmacêutico, ao tempo, de Cernache do Bonjardim. António Corrêa da Silva, como passou a ser conhecido nesta aldeia, casou com Eduviges da Conceição Marçal, filha de José Marçal da Silva e Maria da Conceição, conhecida vulgarmente por Maria Angelina, que era mãe solteira. Deste casamento nasceram 11 filhos, sendo Abílio Marçal o primogénito.
A mãe de Abílio Marçal, Eduviges Marçal, morreu de parto, em 24 de Dezembro de 1880, já que a data de nascimento da última filha, também ela Eduviges, é coincidente com a da sua morte. Coube então à filha mais velha, Maria da Conceição Marçal, com a idade de 10 anos, tomar conta dos irmãos, tendo dois acabado por se licenciar, sendo um deles Abílio Marçal. Por morte do pai de Abílio Marçal, em 1902, a família mudou-se para a célebre casa da Rua Torta, onde o Dr. Abílio Marçal, em princípio nunca chegou a viver, já que nessa altura já era casado e tinha um filho.
Aluno externo do Real Colégio de Missões Ultramarinas, licenciou-se em Direito em 1892 na Universidade de Coimbra. Durante este período foi um jornalista interventivo, com vários artigos publicados. Finalizado o curso, voltou para Cernache do Bonjardim onde abriu um escritório de advocacia. O outro irmão, o Dr. José Marçal, licenciou-se em medicina, vindo a exercê-la em Ferreira do Zêzere. Em 1917 era Governador Civil de Castelo Branco, único cargo político que exerceu.
Durante a Monarquia, Abílio Marçal, foi militante do Partido Progressista Dissidente, tendo aderido ao PRP – Partido Republicano Português, após a implantação da República, partido em que sempre militaria. Pertenceu então aos seus órgãos directivos, mormente à Junta Consultiva em 1915, 1920 e 1922, ao Conselho Arbitral, em 1919. Em 1924 concorreu ao Directório do PRP, mas não foi eleito. Foi igualmente membro de diversos centros republicanos em Lisboa, Cernache do Bonjardim e Sertã. Amigo pessoal do Dr. Afonso Costa, de quem tinha sido colega de curso em Coimbra, foi seu secretário durante o período da discussão da reforma do Colégio das Missões.
Abílio Marçal foi eleito deputado em quatro legislaturas, 1915, 1919, 1921 e 1922. Esta sua primeira eleição aconteceu em 13 de Junho de 1915, tendo tomado posse a 23 de Junho desse mesmo ano. No seu primeiro manifesto eleitoral datado de 3 de Junho de 1915, e enviado à população do seu círculo eleitoral já se propunha fazer a reforma do Colégio das Missões, com a criação de um curso liceal, com internato e externato, a instalação de uma escola de agricultura na Mata do Bonjardim, a fundação de oficinas e observatório meteorológico, a conclusão da ponte da Bouçã e a estrada que a ligaria ao distrito de Leiria, a fundação de um jardim escola João de Deus, o lançamento da linha telegráfica por Ferreira do Zêzere e Figueiró dos Vinhos, elevação a serviço completo da estação telégrafo-postal de Cernache do Bonjardim e a instalação da Guarda Nacional Republicana e por fim a conclusão do mercado Bittencourt. Propunha-se ainda a instalar a luz eléctrica e a fazer passar por Cernache do Bonjardim o comboio. Seria eleito Vice-Presidente da Câmara dos Deputados em 21 de Junho de 1920 e Presidente da Câmara dos Deputados em 2 de Dezembro de 1920,com 78 votos, cargo que desempenhou até 1 de Junho de 1921, altura em que o Parlamento foi dissolvido. Enquanto deputado teve uma intervenção muito activa, apresentou muitos projectos lei e sendo relator de muitos outros.
Integrou ainda as seguintes comissões parlamentares: 1915, Legislação Civil e Comercial, Administração Pública, Orçamento e Código Administrativo e Verificação de Poderes; 1916-17, Legislação Civil, Comercial e Administração Pública, Orçamento e Código Administrativo e Administração de Poderes (2ª); 1919, Trabalhos Parlamentares, Administração Pública, Legislação e Orçamento; 1921, Administração Pública, Orçamento, Verificação de Poderes (3ª) e Interparlamentar de Comércio; 1922, 1ª Comissão de Verificação de Poderes, Administração Pública, Colónias, Orçamento e Interparlamentar de Comércio, Instrução Especial e Técnica, Orçamento e Colónias. Seria ainda nomeado Vogal substituto do Conselho Superior da Administração Financeira do Estado.
Foi eleito para Presidente da Câmara dos Deputados, precisamente na época em que seguiram para África as primeiras missões laicas. Grande impulsionador da reforma do Colégio das Missões Ultramarinas, integrou todas as comissões, que trabalharam nesta, tendo apresentado um projecto de reforma do então Instituto das Missões Ultramarinas, projecto este praticamente adoptado na sua totalidade.
É nomeado por Decreto de 20 de Dezembro de 1913 Director Interino do Colégio das Missões Ultramarinas. Em 19 de Junho de 1915 toma posse na Sala do Concelho do Colégio das Missões Ultramarinas, sendo testemunha e reitor do mesmo Hermínio José Quintão. Em Outubro de 1915 funda o Liceu Colonial no Colégio das Missões, evitando assim de vez, que este fosse encerrado e transferido para Lisboa, onde muitos sectores republicanos pretendiam fundar um colégio de “ Artes e Ofícios” para formar agentes, que seguissem para África e aí exercessem a política ultramarina da altura. Foi Reitor do Liceu Colonial, entre 1915 e 1917, tendo este sido um pólo importante do ensino naquela região das Beiras.
Em 11 de Setembro de 1917, é-lhe reconfirmado o cargo de Director do Instituto de Missões Coloniais, sendo novamente testemunha o já então Administrador do mesmo, Hermínio José Quintão. O Diploma de Funções Públicas é assinado por dois grandes vultos da nossa 1ª República, Teófilo de Braga e Magalhães Lima, ao tempo respectivamente Presidente da República e Ministro da Instrução. Foi igualmente Procurador Geral das Missões Laicas. A reforma do Colégio viria a ser concretizada em 9 de Setembro de 1917, depois de muitas lutas políticas travadas pelo Dr. Abílio Marçal e que trariam grandes alterações na sua estrutura, apesar de estar contemplada no artigo 189º da Lei da Separação de Abril de 1911.
Foi sob a sua orientação, que seguiram para as nossas colónias as primeiras missões laicas civilizadoras. Contudo tal só viria a acontecer apenas em 1920, depois de concluídos os primeiros cursos de agentes civilizadores, que duravam três anos.
Homem de um só crer, e de uma só vontade, foi a sua determinação férrea e persistência naquilo que acreditava, que fizeram com que a reforma do Colégio de Missões fosse uma realidade. O Colégio de Cernache, com o seu Instituto de Missões Laicas e o liceu agregado, foi um notável estabelecimento de ensino, que em muito contribuiu para o desenvolvimento de toda a zona da Beira Baixa e uma referência desta nesta região e no país inteiro. Foi ainda Administrador do Concelho da Sertã em 1904, na época da Monarquia, e voltaria a sê-lo na República, em 1913.
Foi ainda Presidente da Câmara da Sertã, eleito em 4/11/1917, Presidente da Comissão Auxiliar da Câmara Municipal da Sertã na construção dos Paços Municipais e outros melhoramentos, constituída para reconstruir o edifício da Câmara Municipal, que tinha sido destruído por um incêndio, vogal executivo da Comissão Executiva da Câmara da Sertã (vereador), nos mandatos de 1919-20 e 1921-22. Com o fim do Sidonismo, é eleito, em Setembro de 1919, Presidente da Comissão Executiva Municipal da Sertã, cargo que desempenhou até 29 de Dezembro de 1922.
Em Março de 1916 e em 1921 foi substituto do Juiz de Direito da Comarca da Sertã. Como atrás referi, foi no início da sua vida parlamentar secretário do Dr. Afonso Costa, tendo nascido entre os dois uma forte amizade, que duraria toda a 1ª República. Ambos estiveram presos na ditadura de Sidónio Pais, Abilio Marçal em Coimbra, e Afonso Costa no forte de Elvas. Seria libertado em 15 de Dezembro de 1918, tendo-lhe sido entregue um “Salvo Conducto” para poder regressar a Cernache do Bonjardim. Foi ainda Secretário do Grupo Parlamentar do Partido Republicano Democrático e em 1917 foi nomeado secretário do governo da República. Convidado várias vezes para Ministro da República, recusou sempre este cargo. Foi sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa e da Sociedade de Propaganda de Portugal, esta última a génese da promoção do turismo no nosso país. É durante a sua presidência da Câmara dos Deputados, que se desenrolou em 1921, na cidade de Lisboa, a importante Conferência Interparlamentar do Comércio. Abílio Marçal tinha sido precisamente nomeado nesta legislatura membro da Comissão Administrativa e Interparlamentar de Comércio.
Na sua terra natal, Cernache do Bonjardim, foi um grande impulsionador do teatro. Fundou um grupo dramático, tendo escrito, ensaiado e representado várias obras, e composto ainda diversas cançonetas. Ficou célebre a representação de crítica social da vida em Cernache. Estas peças eram levadas à cena no Teatro Sernachense, onde já em 1883, com a idade de 16 anos, participava como actor. O Teatro Bonjardim veio substituir o Sernachense e em 1884 já se representavam peças neste teatro. O Clube Bonjardim era fundado em 20 de Fevereiro de 1885 e mais tarde seria construído o edifício do Teatro Bonjardim, em cuja fundação participou. Contudo no seu chalé de Cernache do Bonjardim, construído em 1903, existia no piso superior um salão onde foram representadas muitas peças. Ainda hoje quem visitar aquela casa, que se encontra ao total abandono, poderá ver no tecto as roldanas, que seguravam o pano da boca de cena. Seria realizada em Cernache do Bonjardim uma homenagem ao grande actor Taborda e a Alfredo Keil. Para o efeito foi constituída uma Comissão de Festejos a Taborda e Keil, da qual fazia parte o Dr. Abílio Marçal.
Em 7 de Abril de 1899 daria aqui uma récita o grande actor Taborda, acompanhado por Alfredo Keil, autor do hino nacional, conhecido na altura como “ O Hino Patriótico «A Portuguesa»”. Seriam nessa mesma noite representadas ainda as comédias "Convido o Coronel", "Tio Torquato" e "A Prova do Crime", participando Abílio Marçal nestas duas últimas, nos papéis respectivamente de Torquato e Simplicio. O actor Taborda representaria na comédia "Convido o Coronel", o papel de Tio Mateus. Alfredo Keil tocaria ao piano, em primeira audição em Portugal, a peça "Serrana".
Em 19 de Abril de 1899, Abílio Marçal enviava para o seu Eco da Beira a seguinte noticia:
A Comissão dos Festejos solicitou de Taborda autorização para dar o seu nome ao teatro de Cernache, o que este, muito comovido aceitou. Este assunto será tratado na primeira reunião da assembleia geral de sócios. Daqui para a frente o Teatro Bonjardim passaria a designar-se por Teatro Taborda. O Dr. Abílio Marçal foi presidente da Direcção do Teatro Taborda em 1916, à qual já pertencia em 1915. Era possuidor de uma importante colecção de peças de teatro, das quais muitas levou à cena em Cernache do Bonjardim. Sem televisão, cinema ou mesmo rádio, o teatro era na realidade a grande força cultural e social do século XIX e início do XX. Foi ainda um notável escritor de cançonetas, muitas delas cantadas no Teatro Taborda. Chegou mesmo a escrever algumas peças de teatro, como Uma Visita a Rilhafoles ou mesmo a transcrever peças de teatro estrageiras como Dar Corda Para Se Enforcar!, para serem representadas em Cernache do Bonjardim. Chegou ainda a elaborar um catálogo das peças representadas no Teatro em Cernache onde se atingiram as 240 representações, um número notável para a época. Foi ainda director do jornal Eco da Beira, de 16 de Agosto de 1914 a 1 de Agosto de 1918, no período republicano deste jornal da Sertã e no período monárquico, aparece pela primeira vez em 12 de Agosto de 1898 como Director Político. Com a reforma do Colégio das Missões, é criado o Boletim das Missões Coloniais, do qual foi igualmente o seu director. Nestas duas publicações desenvolveu uma intensa actividade jornalística e travou muitos e duros combates políticos. Dirigiu a Filarmónica de Cernache do Bonjardim, que evitou que desaparecesse, e trouxe para esta aldeia a Guarda Nacional Republicana.
Em 1909, integrava uma comissão, que representava três beneméritos de Cernache, e que era composta por mais dois cunhados, Isidoro de Paula Antunes, casado com Maria da Conceição Marçal e Filipe da Silva Leonor, casado com Adelaide Correia da Silva Marçal. Os beneméritos eram António Pereira Bittencourt, Governador do Estado Brasileiro de Manaus, José do Rosário e Joaquim Antunes, que pretendiam construir e oferecer a Cernache do Bonjardim, uma escola para raparigas, um mercado, a capela no cemitério e proceder a melhoramentos no teatro Bonjardim, em especial a construção do seu foyer. Todos estes projectos se concretizaram, com destaque para o célebre Mercado Bittencourt, que foi inaugurado em 2 de Julho de 1916. As escolas devem ter sido as criadas ao lado do teatro, nessa altura Bonjardim. Para o acto benemérito da construção deste mercado, não deve ter sido estranha a amizade de Isidoro Paula Antunes, que tinha feito fortuna no Brasil, com o governador de Manaus, que a seu convite visitou Cernache do Bonjardim. Promoveu um conjunto assinalável de obras públicas, com destaque para os melhoramentos da Ponte da Bairrada, a construção da estrada que atravessava esta ponte, a construção da estrada que ligava o concelho de Ferreira do Zêzere a Figueiró dos Vinhos, e a estrada distrital que ligava Casal do Gavião a Oleiros. Coube a Abílio Marçal a tarefa de promover a construção da ponte da Bouçã sobre o rio Zêzere, que ligaria as duas margens deste rio e desta forma o concelho de Figueiró dos Vinhos e da Sertã. A assinatura das primeiras empreitadas decorreu no mês de Novembro de 1914 e em Junho de 1915 as obras decorriam já a bom ritmo. Foi ainda um dos beneméritos que participou na construção do hospital de Sertã, decorria o ano de 1904. Coube ainda a Abílio Marçal a introdução da electricidade em Cernache do Bonjardim. Na qualidade de Director do Instituto de Missões Ultramarinas mandou instalar no Instituto um gerador eléctrico, que fornecia electricidade a toda a instituição. Após esta instalação começa a receber pedidos de outras entidades, como os correios e o Pároco de Cernache do Bonjardim, para que lhes fosse fornecida electricidade. Caberia àquelas instituições a instalação dos circuitos eléctricos, contudo no caso da igreja de Cernache, o Dr. Abílio Marçal, na qualidade de Director do Instituto de Missões Coloniais, pagou a instalação eléctrica, sendo esta paga pelo pároco, conforme pudesse. Este fornecimento seria alargado a toda a vila, cujos habitantes pagavam o seu consumo ao Instituto das Missões Laicas e mais tarde ao Seminário das Missões, após a extinção das primeiras com o fim da 1ª República.
Aproveitando a instalação eléctrica, manda construir no cimo da “torre sanitária” do Instituto de Missões Coloniais um depósito de água, , sendo esta bombeada para aquele por uma motor eléctrico e fornecendo água canalizada para as instalações do Instituto, o que para a época foi um enorme melhoramento. Casou em 31 de Dezembro 1896 com Angelina Eva Nogueira da Silva, filha de Joaquim Nunes da Silva, natural de Cernache do Bonjardim e de Carlota Amélia Nogueira, natural de Beja. Joaquim Nunes da Silva tinha imigrado para Elvas, onde se viria a tornar um importante homem de negócios e um político de prestígio, tendo sido Presidente da Câmara Municipal de Elvas. Deste casamento do Dr. Abílio Marçal, nasceu apenas um filho, o Dr. Jorge Marçal, que se formou em medicina na Universidade de Coimbra
O Dr. Abílio Marçal foi um grande democrata e republicano, combateu todas as aventuras ditatoriais durante a 1ª República, o que lhe valeu em 1918, no sidonismo ou “Dezembrismo”, ter sido demitido de Director do Instituto de Missões Coloniais, e preso durante algumas semanas na Penitenciária de Coimbra. O seu último acto político foi a sua presença no Congresso do Partido Republicano Português, que se realizou em Lisboa nos dias 6 e 7 de Junho de 1925. Já muito doente, não deixou de estar presente neste Congresso, onde pretendia tratar de importantes assuntos políticos."




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