terça-feira, 2 de abril de 2013



Os artistas e a política
Carmen de Burgos referindo-se ao ministro dos estrangeiros de Portugal, Alberto da Veiga Simões, escreveu: "... só tenho pena que outros cargos na governação e na diplomacia não sejam confiados a mais artistas, escritores e mesmo pintores. È um erro pensar que os artistas são boémios, desordenados e incapazes de realizarem qualquer missão de responsabilidade."

No trágico dia 19 de Outubro de 1921, toma posse o governo de Manuel Maria Coelho, sendo ministro dos estrangeiros Alberto da Veiga Simões. É este ministro que recebe as manifestações de preocupação do corpo diplomático pelas ocorrências sangrentas. Os vários governos europeus temiam a hipótese de uma revolução bolchevista em Portugal. É neste ambiente de intranquilidade política que Carmen de Burgos vem a Lisboa, conforme a referência que Ana de Castro Osório fez a Bernardino Machado, na carta de 2 de Dezembro de 1921, que aliás transcrevemos em anterior blogue. Á chegada a Lisboa Carmen de Burgos foi entrevistada pelo jornal diário "A Capital".

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Dados biográficos  de Carmen de Burgos retirados do portal do Instituo Cervantes
  Carmen de Burgos Seguí. (Rodalquilar –Almería–, 10 de diciembre de 1867 – Madrid, 9 de octubre de 1932). Periodista, escritora, traductora, pedagoga y activista. Firma bajo el pseudónimo de Colombine.
Se casa a los 16 años y tiene tres hijos. Tras el fallecimiento de dos de ellos y tras su divorcio, parte hacia Madrid donde desarrolla su preocupación por los grupos sociales menos favorecidos.
Implicada en la causa republicana, lucha por los derechos de las mujeres y los niños, la oposición a la pena de muerte, el divorcio y el sufragio universal. Esta lucha se ve materializada en 1920 con la creación de la Cruzada de las Mujeres Españolas. Llega a presidir la Liga Internacional de Mujeres Ibéricas e Hispanoamericanas.
Al obtener el título de Maestra, es destinada a Guadalajara en 1901. Entre 1907 y 1909 es trasladada a la Normal de Toledo y en 1909 regresa a la Escuela Normal Central de Maestras de Madrid. Durante algunos años de su estancia en Madrid mantiene una relación con Ramón Gómez de la Serna.
En 1908 funda la Alianza Hispano-Israelí en defensa de la comunidad sefardita internacional. Su difusión se realiza a través de la Revista Crítica. En 1911 es nombrada profesora de la Escuela de Artes y Oficios de Madrid, trabajo que compatibiliza con clases a ciegos y sordomudos.
Fue miembro activo de diversas asociaciones como la de la Prensa o el Ateneo. Escribió cientos de artículos en periódicos madrileños como El Globo, Diario Universal, La Revista Universal, La Correspondencia de España y ABC entre otros, siendo la primera corresponsal de guerra en España. También escribió para otras publicaciones como Tribuna Pedagógica o La Educación. Fue redactora de El Heraldo y El Nuevo Mundo de Madrid.
Toda su lucha social se ve reflejada en sus escritos. Publica más de 50 historias cortas, muchas publicadas por entregas en El Cuento Semanal. Las más destacadas son: El tesoro del Castillo (1907), Senderos de vida (1908), El hombre negro (1916), La mejor film (1918), Los negociantes de la Puerta del Sol (1919), El "Misericordia" (1927) o Cuando la ley lo manda (1932).
También publica diversas novelas como La hora del amor (1916), La rampa (1917), Los espirituados (1923) o Quiero vivir mi vida (1931). Entre sus ensayos prácticos de temática social y mujer, destacan: Arte de saber vivir (1918), El arte de ser mujer (1922) o La mujer moderna y sus derechos (1927).







Alberto da Veiga Simões

Encontrámos no espólio de Bernardino Machado  -  Fundação Mário Soares - Casa Comum, uma carta de Angelo da Fonseca para Bernardino Machado, apadrinhando Alberto da Veiga Simões:





Prémio Fundação Mário Soares 2002
"Na edição do corrente ano, o Júri, deliberou atribuir o Prémio Fundação Mário Soares 2002 ao trabalho "Alberto da Veiga Simões - Esboço de uma biografia política" da autoria da Dra. Lina Maria Gonçalves Alves Madeira pela sua dissertação académica."

 

(...) a história também é feita, inegavelmente, por grandes homens. Devido a questões de personalidade, formação, conduta ou mera casualidade, salientaram-se face aos seus contemporâneos. Nem sempre por merecimento próprio, o certo é que alcançaram a notoriedade negada à maioria. O historiador não se deve ocupar exclusivamente deles. Porém, errado era, também, não prestar-lhes atenção. Sem cair nos «pecados» da «velha biografia», tantas vezes meramente apologética ou condenatória, e por isso mesmo viciada, faz sentido escrever a vida de alguém, tanto quanto possível de forma isenta, sem se assumir a postura de advogado de defesa ou de acusação. Assim o postulam os cultores da «nova biografia»: deixando de se circunscrever à existência de uma determinada figura, mais ou menos relevante, isolada da envolvência histórico-social que lhe serviu de esteio, procuram integrá-la no tempo e no espaço em que se notabilizou, explicitando as interacções registadas entre eles.

Alberto da Veiga Simões (Arganil, 1888 - Paris, 1954) foi, não obstante o ostracismo a que tem sido votado, um dos portugueses que marcaram, indelevelmente, as primeiras décadas do século XX. Não querendo alcandorá-lo ao estatuto de personagem principal da cena nacional e, em alguns momentos, internacional, não podemos remetê-lo para o lugar de mero figurante. Marcado pela época em que viveu, não deixou de lhe imprimir, também, a sua marca. Enquanto escritor, jornalista, político, diplomata e historiador, deixou-nos um legado que se impõe redescobrir.
O presente trabalho é, acima de tudo, um contributo para essa redescoberta. Um contributo muito limitado, prejudicado pelas limitações de quem o escreveu. Limitado porque superficial. Prejudicado pelas limitações da sua autora quer em termos de formação, quer em termos de fontes. Uma vida demasiado cheia não se compadece com um trabalho académico tão reduzido. Não podendo, portanto, designá-lo como uma biografia, designámo-lo como um esboço, predominantemente político. Uma personalidade extraordinariamente ecléctica tornava-se inevitavelmente difícil para alguém como nós, cuja formação não abrange a mesma versatilidade de conhecimentos. Uma carreira diplomática tão rica, com testemunhos em capitais tão diversas como Oslo, Praga, Viena, Budapeste ou Berlim, não se pode apreender cabalmente através de uma investigação historiográfica circunscrita aos arquivos do território nacional.
(...) O produto final que agora apresentamos poderá valer pela novidade de muitas das
revelações feitas e (...) por algumas pistas de investigação suscitadas. A parte inovadora corresponde à vida académica dos primeiros anos de juventude de Veiga Simões, bem assim como à sua passagem pelo jornalismo, actividade política e carreira diplomática. A vertente literária, a produção historiográfica e a estada em Berlim mereciam, inquestionavelmente, uma atenção mais cuidada (...).
Ao longo das páginas que se seguem, iremos acompanhar a trajectória de uma vida, ao menos nas suas linhas essenciais: desempenho académico, produção literária, trabalho jornalístico, actividade política e carreira diplomática. Mas, porque essa vida esteve condicionada e condicionou, também, alguns dos momentos da história nacional, e mesmo internacional, teremos a preocupação de contextualizá-la minimamente. Ao menos no plano político. Faremos, assim, pequenos enquadramentos históricos. Para não perdermos de vista a personagem central desta "trama", não mais do que isso.
Optámos pela actualização ortográfica das citações e dos documentos em anexo. Seguimos uma linha cronológica e narrativa — não regredindo, todavia, à cronologia e à narrativa de Langlois e Seignobos. Porque a história tem muitas escritas. Porque uma das riquezas da história reside, precisamente, na diversidade das suas escritas.







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