segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013




Recordando José Maria Alpoim
A propósito duma carta de José de Alpoim para Bernardino Machado


























Carta confidencial de José Alpoim para Bernardino Machado, escrita no dia 5 de Maio de 1907, após a saída dos ministros progressistas do governo de João Franco (2 de Maio) e antes do primeiro decreto ditatorial de 8 de Maio e a dissolução da Câmara dos Deputados, em 10 de Maio.




"Muito obrigado pelo seu bilhete. Tive grandissíma pena de que partisse sem eu o ver: a minha triste e afadiga vida não me deixou procura-lo: tudo se conjurou para o não poder abraçar: quando me propunha ir a sua casa, informaram-me de que partira.
Folguei que gostasse do meu discurso. Lá desfiz a mentira, espalhada até entre os seus correligionários, de que havia combinações políticas entre republicanos e dissidentes. Os seus invejosos de dentro da republica, já se amofinavam com o supor que tinhamos entendimentos ocultos. E as alminhas de Deus dos meus antigos correlegionários propalavam, com piedosa intenção, que nos unia um oculto conluio. Ficaram tranquilizados nos benditos corações!
O meu discurso foi sem refolhos nem biocos. Entendo realmente que a monarquia está perdida, se não mudar de vida. Pode durar, manter-se: mas eu acho perda, e assim lhe chamo, a sua queda no espírito público. A tropa não lhe dará, quando o divórcio seja absoluto, auxílio e alento: o trono não passará ao filho do rei, e feliz este, se o conservar por anos! É preciso mudar de vida, e governar como se governa em todos os países cevilizados. O rei de Itália dá exemplos ao seu primo, rei de Portugal. Se os reis soubessem, evitavam ao menos por longuíssimos anos a catástrofe da revolução. Não sabem: e os joão-francos perdem-os.
- Viu o projecto de reforma da carta constitucional? Podia ser mais liberal:  não satisfaz ainda todas as aspirações: mas, nas circunstâncias actuais,  era impossível ir mais longe. Diga-me, só para mim, a sua opinião.
- O governo dizem que vai fazer pesada ditadura, e anuncia-se que vão ser fechados todos os centros
republicanos.Nada disso me admira! E vejo já, pelo que ocorreu no Porto com o Centro de Matosinhos, que assim sucederá. Que formidáveis bandalhos! Não pertenço ao seu partido, mas irrita-me ver como uns imbecis, e covardes, sevandejam este pobre país. Acham mole e carregam! Vocês não reagem a valer. Deem-nos a nós, os dissidentes, a décima parte da sua força numérica, e veria como eles retrogadavam.  O Bernardino tem uma assombrosa energia, e vertiginosa actividade, mas está pouco menos do que só, e paralizam-no invejas e egoismos do seu agrupamento.. Está ministro o Martins de Carvalho. A transcrição dos seus artigos contra o rei, e contra o presidente do conselho, deviam ser os únicos artigos dos jornais republicanos. A ameaça da querela é impraticável pela lei de imprensa, e, para se realizar, o ministro teria de fazer declarações que o comprometeriam. Pois...pouco menos do que nada! E eu sei que o Martins de Carvalho conta com as relações, e dependências forenses, do João de Menezes, para não se seguir esse caminho.. O próprio Mundo só transcreve as mais pálidas: o que hoje nem é palidíssima sombra do que o Martins de Carvalho disse. Pois... silêncio! Agora, preparam-se festas grandiosas na Guarda, aos soberanos. Deus me livre de querer que o partido republicano organizasse qualquer manifestação tumultuante: mas ha mil formulas, legais e ordeiras, de manifestar ao reio descontentamento pelas ideias subversivas. A questão académica, diz a gente do governo, está quase a ser resolvida, vendo-se o escandalo de se pagar com o despacho, ou colocação, do filho do Manuel Eygdio da Silva no lugar de secretário do mº.  estrangeiros, para assim se pagar ao pai o influir no Diário de Notícias.  É revoltante! Tudo isto precisa de ser explorado. Não pode, não deve fazer-se questão política no caso dos estudantes: mas não é digno abandonar os sete rapazes. E o partido republicano, pelos lentes, seus correligionários - assim como a maçonaria - deviam mexer-se a valer. Se o não fazem, adeus centros, e jornais! Lembre-se do que lhe digo.
Perdoe-me esta franqueza. É o seu velho amigo de Coimbra. Não é o progressista-dissidente que fala ao republicano: é um afeiçoadíssimo seu. Não milito no seu partido, mas as nossas relações dão-me o direito de lhe falar assim - e a si, à sua lealdade, pois esta carta é só para si." 


Para enquadrar o conteudo da carta de José Alpoim no perído histórico nacional fizemos duas transcrições.
A primeira retirada do portal da "Exposição Passe, Cidadão!" - clicar aqui - do Curso I República e Republicanismo, de Maria Cândida Proença e Luís Farinha.

"Com a subida de João Franco ao poder a acção repressiva da ditadura viria a provocar uma mudança na definição da estratégia do PRP onde gradualmente a linha que defendia a acção revolucionária foi ganhando terreno perante a linha mais moderada. Esta modificação levou os republicanos a procurarem a aliança com outras forças. Entre as organizações que se juntaram ao PRP para levar a efeito o derrube da Monarquia pela luta armada, destacaram-se a Carbonária, entre os civis, e a Corporação dos Sargentos, entre os militares.
Com a agitação política e a repressão que se verificou ao longo de todo o ano de 1907, intensificou-se a campanha do Partido Republicano cuja propaganda revestia aspectos de extrema violência, como aconteceu na visita de João Franco ao Porto, onde as impressionantes manifestações de hostilidade deram origem a recontros entre o povo e a polícia, de que resultaram numerosas vítimas e um considerável número de prisões, ocorridas em consequência das agitadas manifestações de desagrado com que o ditador foi recebido à sua chegada a Lisboa.
A gravidade da situação do país e a obstinada atitude de João Franco no governo acabaram por quebrar as hesitações do Partido Republicano e conduzir à organização de um golpe revolucionário que contou com a
participação da Carbonária e dos dissidentes de José Alpoim. A participação da Carbonária foi decisiva, pressionando o Directório do PRP que se mostrava indeciso quanto à possibilidade de enveredar decisivamente pela via da revolução armada. Para a organização deste movimento, os contactos entre o Directório e a organização revolucionária foram estabelecidos através de António José de Almeida. Uma denúncia de um dos conjurados levou à prisão dos principais organizadores. A 28 de Janeiro de 1908 foram presos vários líderes republicanos, naquele que ficou conhecido como o Golpe do Elevador da Biblioteca. Afonso Costa e o Visconde de Ribeira Brava foram apanhados de armas na mão no dito elevador, conjuntamente com outros conspiradores, quando tentavam chegar à Câmara Municipal. António José de Almeida, o dirigente Carbonário Luz Almeida, o jornalista João Chagas, João Pinto dos Santos, e Álvaro Poppe contavam-se entre os noventa e três conspiradores presos. José Maria de Alpoim conseguiu fugir para Espanha. Alguns grupos de civis armados, desconhecedores do falhanço, ainda fizeram tumultos pela cidade, mas foram facilmente dominados pelas forças fiéis ao governo."

A outra trancrição é retirada do livro de José Adelino Maltez - "Tradição e Revolução" - IVol,









                                                                                          


No Centro Republicano Bernardino Machado, de Alcantara, no dia 23 de Maio de 1907, Bernardino Machado profere uma conferência sobre a ditadura e a situação política.

 



 




 










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