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Os rostos da República de A a Z: Bernardino Machado (02)
Bernardino Machado dá os seus primeiros passos de criança “acompanhando meu Pai nos seus cuidados pelo município da nossa terra natal”, Famalicão.
O pai, António Luís Machado Guimarães emigrara, de Joane para o Brasil, onde casou com D. Praxedes de Sousa Ribeiro. Estes foram os primeiros barões de Joane mas Bernardino sempre se orgulhou da sua origem plebeia.
Após o regresso dos pais, a Joane, os estudos do Liceu foram efectuados no Porto e os superiores em Coimbra, onde frequentou Matemática e Filosofia, obtendo os primeiros lugares entre os colegas pertencentes à “geração deslumbrante” – como escreveu Júlio Brandão.
Faziam parte deste grupo figuras como Guerra Junqueiro, Gonçalves Crespo, o bracarense João Penha, Teixeira de Queirós, Alberto Braga, António Cândido, Alves de Sá, Mendes Bello e Júlio de Vilhena.
Guerra Junqueiro há-de descrever Bernardino como possuidor de “prodigiosa inteligência”, ao ponto de mais tarde ter desabafado: “nós adorávamo-lo”.
A teoria mecânica da reflexão e refracção da luz foi a sua dissertação de licenciatura e concorre a professor com a “Teoria matemática das interferências”, em 28 de Fevereiro de 1877.
Com 26 anos incompletos, começa a reger várias cadeiras até se fixar na de antropologia que foi criada mais tarde por sua proposta no Parlamento, em 1883.
Bernardino Machado abre em Coimbra uma nova maneira de ensinar em colaboração e convivência com os discípulos, iniciando-os na pesquisa científica, acentuando a defesa da autonomia universitária.
Dessa forma se entende que tenha recusado ser Reitor, cargo que lhe foi oferecido pela Monarquia e mais tarde pelo ministro António Sérgio, uma vez que defendia a eleição das autoridades académicas.
Grande admirador era Egaz Moniz que – será depois o primeiro prémio Nobel português, em medicina – mas Trindade Coelho define-o como a “alma” do Movimento Liberal que ele cria em Coimbra.
Participando em congressos internacionais, cá e lá fora, Bernardino Machado era definido por João de Deus (o da Cartilha Maternal), como “espírito de luz e coração de oiro”.
Destaca-se também como pedagogo com “Notas de um pae” que Carolina Michaelis classifica como “estudos de psicologia de infância dignos de Preyer”.
Em 1895, é eleito grão-mestre da Maçonaria, cargo que exerce até 1903. No ano seguinte, uma oração de sapiência na Universidade de Coimbra obtém extraordinária repercussão em todo o país: as linhas mestras da reforma das universidades que são aproveitadas pelo primeiro Governo da República, em 1911.
Em 1907, solidários com alguns estudantes expulsos demite-se de professor catedrático, numa atitude que Afonso Lopes Vieira classifica de “corajosa e bela”.
Uma grande manifestação em Lisboa, com Teófilo Braga como porta-voz, contribui para que seja reintegrado na Faculdade de Ciências de Coimbra. Bernardino agradece a decisão mas pede a aposentação.
Foi eleito por diversos círculos e convenceu os seus pares a criarem o ensino da antropologia em Portugal e o seu museu.
No Governo de Hintze Ribeiro, em 1893, última tentativa liberal da monarquia, aceita ser ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria para sair “das cadeiras do poder impoluto como entrara”, ao ponto de Rafael Bordalo Pinheiro o descrever como “caniço por fora e aço por dentro”.
Todavia, a sua herança era bem pesada e benéfica para o país como resultado do trabalho de dez meses de gestão.
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