domingo, 27 de dezembro de 2009



A Ditadura de João Franco



Como resultado da ditadura de João Franco o Partido Republicano engrossava as suas fileiras num contínuo aumento de adesões. Depois da entrevista dada por D. Carlos ao jornalista Joseph Galtier, do jornal francês Le Temps, Augusto José da Cunha, antigo ministro, presidente da Câmara dos Pares e que fora professor do rei, aderiu ao partido, e dias depois, o Par do Reino Anselmo de Braamcamp Freire faz igualmente a sua inscrição no partido republicano.



No recente livro de Joaquim Romero Magalhães, "Vem aí a República! 1906-1910", lê-se:
"O grande crescimento do partido democrático ocorre precisamente durante e por causa da ditadura. Velhos liberais, como Anselmo Braamcamp Freire ou Augusto José da Cunha , pares do Reino e personalidades de grande prestígio aderem ao partido republicano. Porque para os liberais de antigas e provadas convicções João Franco estava a percorrer um caminho contrário ao liberalismo. Que achavam defendido nas propostas republicanas. Não se deixavam iludir pelas reiteradas afirmações do chefe dos regeneradores-liberais. Tinham-no bem próximo, sofriam-no e nada queriam provar com as suas atitudes cívicas. A ditadura, sabiam o que era, sentiam-na e não estavam dispostos a avalizá-la. E aderir à República não era fácil para um par do Reino. Era fazer o corte numa história de vida. Chegou mesmo a dizer-se que José Dias Ferreira se dispunha a dar semelhante passo - o que teria sido um importante trunfo para os republicanos. Não aconteceu , embora fizesse uma coferência num centro. Demite-se o magistrado Francisco Maria da Veiga de juiz de instrução criminal e José Francisco Trindade Coelho abandona o lugar de delegado do ministério público em Lisboa. Este por se recusar a vechar influentes personalidaes políticas. O juiz Veiga, juiz de instrução criminal, fora o terror de anarquistas, bombistas e republicanos cujas actividades investigava. Tinha espiões ao seu serviço. Mas também constava que dizia que era preciso João Franco ser Presidente do Conselho para se descubrirem bombas em Lisboa. Tinha sido bem visto pelo Paço, servindo o rei no negócio de compra de casas para instalar uma senhora da sua especial predilecção. Chegaram a chamar-lhe por isso alcoviteiro do rei. Mas o juiz Veiga sai do lugar de relações frias, senão cortadas com João Franco e sem a antiga confiança que D. Carlos nele depunha. Trindade Coelho, que durante anos como procurador régio desencadeara processos contra republicanos, no cumprimento das leis, desistia dessa tarefa em que deixara de se sentir à vontade. São dois exemplos de defecções que mostram que não houve engano de muita gente ao considerar sem sentido a ditadura de João Franco. Ou pelo menos sem ter dado pelo sentido reformador das instituições que se dizia querer defender a todo o custo. E para isso tendo em pleno o apoio do rei. Tudo parece resultar de uma improvização desajeitada, a que alguns querem encontrar um sentido bem definido. Mas a realidade decomentada não parece ajustar-se bem a qualquer exercício de especulação política."






Notícia da adesão ao Partido Republicano dos Pares do Reino, na Ilustração Portuguesa



Conselheiro Augusto José da Cunha num comício republicano


Bernardino Machado, em nome do Partido Republicano, visita, em 24 de Novembro de 1907, Anselmo Braamcamp Freire, proferindo as seguintes palavras:





1 comentário:

pn disse...

Este célebre juiz Veiga é quem interroga o jovem Aquilino, após a explosão no quarto da pensão da Rua do Carrião, em 1907, que vitima o médico e professor liceal de físico-química, dr. Gonçalves Lopes e o lojista Belmonte de Lemos. A ele o levando à esquadra do Caminho Novo, donde se evade a 12 de Janeiro de 1908, vinte e tal dias antes do regicídio.

Muito interessantes estes traços acessórios do magistrado.
Bom 2010, com essa chama sempre acesa...
paulo neto