quinta-feira, 11 de julho de 2019







Abraços apertados de felicitações ao meu caríssimo Amigo António Valdemar













“António Valdemar, Uma Enciclopédia Itinerante”
Por Adelino Correia-Pires - 11 de Julho, 2019

O jornalista António Valdemar teve uma rubrica na RTP onde partilhava histórias sobre a História, uma vez por semana. Foto: Arquivo RTP
Quando soube da notícia*, que me desculpem os outros, avultou o Amigo. Estou a vê-lo entrar pela porta da livraria e a saudar-me com afecto, do alto da sua imponente figura: “meu querido amigo!”
António Valdemar, entra, senta-se no sofá do alfarrabista e fala como respira. Como se fosse ele o cicerone de toda a história do passado século em Portugal. Conhece os acontecimentos e os protagonistas. Quem foi e quem poderia ter sido. O que aconteceu e o que esteve para acontecer. Com paixão, com detalhe, com pormenor.
Como sobre ele escreveu Mário Soares, de quem foi aluno, velho amigo e confidente, “…António Valdemar é um erudito, um homem de vastíssima cultura, conhecedor como poucos da história contemporânea portuguesa e das suas principais personalidades literárias, políticas, científicas, artísticas e universitárias…”
Poderia falar-vos da sua notável biografia. Que possui a carteira profissional número 1, emitida pela Comissão da Carteira Profissional dos Jornalistas. Que é sócio de várias Academias, tendo sido Presidente da Academia Nacional de Belas Artes. 
Poderia falar-vos do seu amor pela República, pelos Açores, pelos Jornais, pelas Artes ou pela Cultura. 
Poderia falar-vos também da sua vasta bibliografia, de Almada Negreiros com quem conviveu e escreveu, de Vitorino Nemésio de quem foi amigo e biógrafo ou de Aquilino e das histórias que não vêm nos livros. 
Poderia até contar-vos coisas que sei que um dia vos serão contadas por ele, quando resolver publicar as suas memórias, algo que figurará como um verdadeiro património da nossa história contemporânea.
Poderia falar-vos de tudo isso, mas falo-vos “apenas” do privilégio de o ter sentado aqui, no sofá do alfarrabista, sempre que lhe apetece, desfiando histórias, avivando memórias. Tantas, que nenhuma enciclopédia algum dia poderia albergar.
E falo-vos de alguém que, quando hoje lhe telefonei a felicitá-lo, me confidenciou: “sabe, Adelino, emocionei-me. São os 82 anos e uma vida a homenagear os outros. Desta vez tocou-me a mim…”
Justo, mais que justo, meu Amigo.

*(António Valdemar foi ontem distinguido com o título de Sócio-Honorário da Associação Portuguesa de Escritores. Foram também galardoados Álvaro Siza Viera, Eduardo Lourenço, José-Augusto França, Carlos do Carmo e Rui Mendes.)










 SAPO Mag.
10 de Julho de 2019

Associação Portuguesa de Escritores homenageia "nomes maiores da cultura portuguesa"

Álvaro Siza, António Valdemar, Carlos do Carmo, Eduardo Lourenço, José-Augusto França e Rui Mendes foram hoje homenageados com a atribuição do título de Sócio Honorário da Associação Portuguesa de Escritores, em ambiente de tertúlia, num restaurante lisboeta.
 Seis nomes da cultura nacional homenageados pela Associação Portuguesa de Escritores
No inicio da cerimónia, José Manuel Mendes, presidente da direcção da Associação Portuguesa de Escritores (APE), destacou que estas seis personalidades – um arquitecto, um jornalista, um cantor, um ensaísta, um historiador e um actor – foram escolhidos em Assembleia Geral por unanimidade dos sócios.
“Foram escolhidos pelo que sabemos ser a vida pública, a obra singular e marcante da vida de cada um deles e pela proximidade connosco, unidos pela arte”, acrescentou.
Esta distinção insere-se na política da APE de “assumir uma intervenção cultural em domínios diversos, não confinada a qualquer visão estrita da literatura”.
“A APE é um lugar onde a literatura não está separada das outras áreas da cultura”, explicou José Manuel Mendes, destacando sobretudo a relevância de Eduardo Lourenço.
“Ele não gostaria de ser considerado uma unanimidade universal” mas foi uma “figura única no panorama português, não só o filósofo, mas aquele que pensou Portugal, na vida pública, política, literária, [na] história e [na] antropologia”, destacou, seguido de uma sonora ovação pelos presentes.
As palavras foram acolhidas pela irmã do ensaísta, ausente da cerimónia por razões de saúde, tal como o historiador José-Augusto França, que teve em sua representação um amigo.
O local escolhido para a cerimónia de homenagem foi o restaurante “As velhas”, em Lisboa, onde se reuniram cerca de 30 pessoas, entre homenageados, amigos e convidados, e onde, em ambiente de tertúlia, se trocaram ideias, partilharam memórias e se ouviu tocar Suítes para violoncelo solo, de Johann Sebastian Bach, pelo violoncelista Ricardo Mota.
Apesar de se terem distinguido em áreas culturais diferentes, todos os homenageados estão “unidos pela palavra, a palavra tocada pela arte”, justificou o presidente da APE.
“Nas palavras nos encontramos todos: na voz inconfundível de Carlos do Carmo, na obra de ficcionista e historiador de José-Augusto França, na palavra escrita de António Valdemar, que não gosta que se diga que é escritor, mas sim jornalista, na de Rui Mendes, aquele que deu lume às palavras que pôde interpretar e interpretou”.
Eduardo Lourenço leu Portugal e “marcou-nos a todos” com essa leitura, enquanto Álvaro Siza Vieira é autor de obra de “uma precisão, de um rigor, que está muito perto da elaboração literária do escritor”, acrescentou.
Pegando na deixa, o arquitecto enfatizou essa relação com a literatura: “Vejo rigor, perfeição, exigência”.
“O que mais me impressiona e estimula [na literatura] é esse rigor, enquanto o que acontece na arquitetura é fruto de um grande trabalho. Na poesia, esse rigor é ainda maior: cada palavra tem de estar no sítio certo, no momento certo e entre eles tem de haver um ritmo”, considerou Siza Vieira.
Para o secretário-geral da APE, Luís Machado, a cerimónia de homenagem àqueles “seis nomes maiores da cultura portuguesa” foi um “momento memorável, um momento sublime e de alta elevação”.
“E não foi por acaso a escolha do espaço [restaurante 'As velhas'], uma referência do património histórico-cultural de Lisboa, que foi, no passado mês de maio, com 95 anos de existência, classificada como Loja com História”.
Luís Machado aproveitou o momento para contar precisamente um pouco da história daquele restaurante de mesas corridas, fundado por duas sexagenárias, que o batizaram como “As velhas”, e herdeiro da Carvoaria da Glória.
Neste regresso ao passado, o secretário-geral da APE recordou algumas efemérides que marcaram o ano da fundação do restaurante, como a prisão de Alves dos Reis, acusado de falsificar notas de 500 escudos, a inauguração do Cinema-Teatro Tivoli, os recitais de Guilhermina Suggia, o nascimento de Carlos Paredes, o fim da publicação da revista Athena, dirigida por Fernando Pessoa, e a presença de Manoel de Oliveira nos clubes Bristol e Maxim’s.
Entre peixinhos da horta e bacalhau no forno, mousse de chocolate e melão, café e Porto de Honra, servidos sob comando do casal Guadalupe e José Gonçalves, os homenageados foram dizendo algumas palavras: Carlos do Carmo recordou uma história em que a violoncelista Guilhermina Suggia se espantou com uma oferta que lhe fora feita reagindo com a expressão “esse dinheiro todo para tocar rabecão?”, Rui Mendes leu o poema “Morte ao meio-dia”, de Ruy Belo, e António Valdemar emocionou-se ao agradecer publicamente a presença no almoço do filho do seu único amigo ainda vivo, dos Açores.
A tertúlia terminou com um brinde e com a entrega dos cartões e diplomas que oficializaram o título de sócios honorários aos seis homenageados.




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