domingo, 4 de novembro de 2018





Casa-Museu Leal da Câmara
Do "site" da Câmara Municipal de Sintra







Foi no dia 30 de Novembro de 1876, em Pangim (Nova Goa, Índia Portuguesa), que nasceu Tomás Júlio Leal da Câmara.

Embora órfão de pai apenas desde 1895 (com 19 anos de idade), é junto da mãe – D. Emília Augusta Leal – que o jovem se formará, extremamente ligado a esta e poupado pela mesma a todo o tipo de dissabores.

Tal educação, contudo, não fora suficiente para o ‘amolecer’, pois demonstra, desde tenra idade, um ser insubmisso e indócil, mesmo contestatário e possuidor de ideias novas, pelas quais se bate com denodo.
Já em Lisboa, e logo após a sua curta passagem pelo Curso Superior de Veterinária, em 1896, Leal da Câmara “(...) desertava para a vida de arte e boémia, que tal era o ofício de desenhador e caricaturista na velha Lisboa mole e patriarcal, à qual começava a arrepelar a epiderme cascuda de conformismo a furuncolose política anti-dinástica. (...) Era uma bandeira que aparecia pela primeira vez a defraldar nos ares pátrios um ideal cheio de promessas, um abanão à sornice lusitana (...)” [in Aquilino RIBEIRO, 1981, Leal da Câmara. Vida e Obra, edição dirigida artisticamente por Abel Manta e publicada pelos Serviços Municipais de Turismo da Câmara Municipal Sintra, a partir da edição de 1951, Sintra, p. 10].

Esta opção, acrescida da convição em ideais diferentes, fará com que nada, nem ninguém, seja poupado ao seu traço de genial e sarcástico caricaturista. A acidez que imprime nas suas obras e as suas simpatias pelo Republicanismo valer-lhe-ão longos anos de exílio, primeiro em Madrid, e, depois, em Paris.

A capital espanhola foi-lhe, no princípio, algo hostil. Muito perto da pátria lusa e da Lisboa “corrupta e pacata”, Madrid não lhe chegará a proporcionar grande realização. Será Paris, aonde chega em 1900, ano em que decorria a grande Exposição Universal, que lhe trará reconhecimento e glória. Aqui viverá, consecutivamente, durante cerca de 11 anos, trabalhando em muitos jornais e revistas parisienses (e francesas), mas não perdendo, todavia, o contato, não só com outros exilados seus conterrâneos, como com Portugal.

Em 1911, já depois de implantada a República Portuguesa, a 5 de Outubro do ano anterior, Leal da Câmara regressa a Lisboa, passando a colaborar em vários periódicos. Sucedem-se as exposições de mobiliário e de pintura, tal como as conferências dedicadas a temas diversos (Arte, Pintura, Publicidade, Caricatura, Desenho).
A tão almejada República, ou melhor, as ações dos seus intervenientes, acabam por desapontar o artista, levando-o a partir de novo para França, de onde, em 1915 – e motivado pela I Guerra Mundial – regressa definitivamente a Portugal.

Quatro anos depois, ingressa no Magistério Industrial, nas Escolas Infante D. Henrique e Faria de Guimarães, ambas no Porto.
Mais tarde, por volta de 1920, Leal transfere-se para Lisboa, aceitando um lugar de professor na Escola de Fonseca Benevides. Fixa residência na capital e casa, nesse mesmo ano, com Júlia da Conceição Azevedo, dileta colaboradora da escritora Ana de Castro Osório.

Data de 1923 a aquisição de um antigo casal saloio sito na Rinchoa, para onde se mudará o casal sete anos após a sua compra, passando a levar, desde esse então, e de certo modo, uma vida mais ‘sossegada’ e ‘contemplativa’.
Como professor, torna-se metodólogo, revolucionando o ensino feminino entre nós. Às suas ideias, mais arrojadas, mais modernas e mais consentâneas com a modernidade e com a lucidez didática, pedagógica e social que por toda a Europa se assiste, muitos dos seus pares e superiores hierárquicos se acabarão, com o tempo, por render.

Leal da Câmara aposenta-se em 1946, por limite de idade, deixando a sua vida de professor, entre homenagens e condecorações, e perante a unanimidade do reconhecimento público da sua obra neste campo.

No ‘Estado Livre da Rinchôa’, autêntico contraponto à cidade (a localidade era então verdadeiramente um simples lugar), viverá o Mestre entre 1930 e 1948, ano da sua morte, dedicando-se, durante todo esse tempo, sobretudo, à fixação pictórica dos costumes saloios que diretamente observa.

Ficará para sempre o seu humanismo, os seus ideais, a sua dedicação ao ensino e a sua conduta exemplar como cidadão perpetuadas nos inúmeros textos, referências e obras que lhe foram (e ainda são) dedicadas, tal como na acção científico-museológica que diariamente empreende a Casa-Museu de Leal da Câmara.



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