terça-feira, 16 de outubro de 2018






Rua 16 de Outubro, o dia da Leva da Morte, que hoje é Serpa Pinto





A Rua Serpa Pinto em 1918, no troço que viria a ser a Rua 16 de Outubro (Foto: Joshua Benoliel, Arquivo Municipal de Lisboa)
A Rua Serpa Pinto em 1918, no troço que viria a ser a Rua 16 de Outubro
(Foto: Joshua Benoliel, Arquivo Municipal de Lisboa)
A Rua 16 de Outubro lembrava esse dia de 1918 em que presos políticos anti-sidonistas foram mortos num tiroteio em plena Rua Vítor Cordon, acontecimento que ficou conhecido como Leva da Morte.
No final do século XIX, pelo Edital municipal de 07/09/1885, a Rua Nova dos Mártires (que foi a quinhentista Rua do Saco) tomou  o nome do explorador africano Serpa Pinto , que entre 1879 e 1884 atravessara África, de Angola à contracosta, feito considerado assombroso para a época.
Passados 39 anos, o Edital municipal de 17/10/1924 determinou que a parte da Rua Serpa Pinto compreendida entre o Largo do Directório (hoje Largo de São Carlos) e a Rua Vítor Cordon se passasse a denominar Rua da Leva da Morte, desta forma gravando na memória de Lisboa os acontecimentos de 16 de outubro de 1918.
O episódio sinistro que ficou conhecido como Leva da Morte nasceu da eclosão em Coimbra, no dia 12 de outubro, de uma revolução constitucionalista contra o poder do Presidente-Rei Sidónio Pais. O Governo decretou o estado de sítio e encheu as prisões  de presos políticos, na sua maioria gente do Partido Republicano Português. Ao final da tarde de 16 de outubro,  os 153 detidos no Governo Civil de Lisboa, rodeados por 253 guardas,  saíram do edifício para rumarem à estação de comboios do Cais do Sodré, para serem transferidos para os fortes de São Julião da Barra, Alto do Duque e Caxias, num cortejo estranhamente encabeçado por corneteiros e tambores. Quando a coluna chegou à Rua Vítor Cordon soou um tiro e, a partir daí desencadeou-se um forte tiroteio com os guardas a disparar quase à toa em todas as direcções. A rua ficou atapetada com 7 mortos (6 presos e um guarda) e 60 feridos (31 presos e 29 guardas). Na época, a  versão que pareceu mais óbvia foi a de que o massacre fora preparado pela polícia sidonista e daí a necessidade dos tambores e das cornetas para avisar quem do exterior iria intervir.
Contudo, a Rua Leva da Morte dada no último trimestre de 1924, isto é 6 anos após o sucedido, viu o seu nome suavizado passados quase 3 meses, já que pelo Edital de 05/01/1925 a edilidade alfacinha alterou o topónimo para Rua 16 de Outubro, embora com a legenda «Homenagem aos republicanos vítimas da Leva da Morte 1918».
Passados 12 anos, pelo Edital camarário de 12/08/1937, a Rua 16 de Outubro foi incorporada na Rua Serpa Pinto, no prosseguimento da política que vingou com a instalação da vereação representante do Estado Novo na CML, a partir de Julho de 1926, em que progressivamente foram eliminados os topónimos republicanos e substituídos pelos antigos topónimos do tempo da Monarquia.

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