PEDIDO DE CRIAÇÃO DE UM MUSEU DO POVO PORTUGUÊS OU DO HOMEM PORTUGUÊS
António Jorge Dias (Porto, 31 de Julho de 1907 – Lisboa, 5 de Fevereiro de 1973) – Etnólogo português, nascido no Porto. Estudou Filologia Germânica na Universidade de Coimbra e, entre 1938 e 1947, foi leitor de português nas universidades alemãs de Rostock, Munique e Berlim, e nas espanholas de Santiago de Compostela e Madrid.
Especializou-se em Etnologia na Alemanha, onde fez doutoramento em 1944, com a tese “Vilarinho dos Furnas, Uma Aldeia Comunitária“, na Universidade de Munique.
Regressou a Portugal em 1947 e ingressou no Centro de Estudos de Etnografia Peninsular do Porto (1947), nele se criando uma secção de etnografia sob a sua direcção. Paralelamente, exerceu funções de docente na Faculdade de Letras de Coimbra. A criação do Centro de Etnografia e a publicação da sua tese sobre Vilarinho marcaram o renascimento do interesse científico pelas tradições nacionais e pela discussão do conceito de cultura na sua universidade.
Em 1956, a convite do Instituto Superior de Estudos Ultramarinos, veio para Lisboa, sendo encarregado de proceder a levantamentos etnológicos no Ultramar, e recebendo a cátedra e a regência da especialidade no Instituto (1957). Em 1962 foi criado o Centro de Estudos de Antropologia Cultural, a que foi acrescentando o Museu de Etnologia do Ultramar, defendendo na universalidade da etnologia.
Deixou publicada mais de uma centena de trabalhos que muito contribuíram para o levantamento das tradições e das leis locais da cultura portuguesa. Deles se destacam Os Arados Portugueses e as suas Prováveis Origens (1948), Rio de Onor, Comunitarismo Agro-pastoril (1953) e Os Macondes de Moçambique (1964-70)
Fonte: Enciclopédia Universal Multimédia da Texto Editora (1997) – texto adaptado
Ainda sobre Jorge Dias…
“Para podermos compreender as posições e a trajectória de Jorge Dias, temos que procurar conhecer melhor a sua trajectória pessoal, não basta referir as vantagens proporcionadas pela classe em que nasceu e pela educação que teve. Temos que levar em consideração a sua subjectividade e inserir o seu percurso pessoal no contexto histórico em que decorreu. O pouco que ainda hoje se sabe da sua juventude permite, de qualquer modo, ver nele um inconformado com o destino mais provável de um membro da classe média abastada, destinado aos negócios, como o pai, ou a uma ocupação profissional rendosa. Quando jovem sentiu a atracção pelo mundo rural e pelas aldeias de montanha, pela vagabundagem, como lhe chamou, ligada a um sentimento de liberdade profundo, em contraste com o que lhe ofereceria a vida da cidade. Chegou mesmo a pensar viver no campo com amigos, alguns dos quais permaneceriam os seus companheiros intelectuais mais íntimos até ao fim. Esta paixão pelo mundo rural traduziu-se numa vocação etnográfica que o levou ao estudo do campesinato, em particular do que parecia mais distante da vida urbana do seu tempo e meio. No fim de contas, como explicou numa carta a Ernesto Veiga de Oliveira, a etnografia permitir-lhes-ia levar a vida sonhada, acompanhada do conforto de um ordenado (João Leal, A energia da antropologia…, 2008).
O campesinato era objecto de estudo pela etnografia portuguesa desde as últimas décadas do século XIX, pois se ele podia ser, na óptica membros das classes urbanas letradas, que viam os outros a partir da sua própria posição, um grupo marcado pelo arcaísmo e pela distância face à cultura letrada, para outros, tocados pelo nacionalismo a partir do romantismo, ele era um fiel depositário das tradições nacionais mais autênticas, pela ausência de exposição ao que vinha de fora. A etnografia, a etnologia, tal como a filologia, a história, a arquelogia ou a geografia, às vezes cultivadas por uma mesma pessoa – como sucedeu com Leite de Vasconcelos – e todas animadas pelo sopro nacionalista, haviam-se desenvolvido nas últimas décadas do século XIX. Jorge Dias é um herdeiro dessa tradição, a que pertencem Adolfo Coelho, Rocha Peixoto, Consiglieri Pedroso, Teófilo Braga e José Leite de Vasconcelos (J. Leal, Etnografias Portuguesas…, 2000, pp. 27-61). Com uma formação nas humanidades, não será um praticante da antropologia física, introduzida no ensino universitário no século XIX.
O tempo em que se forma Jorge Dias está muito longe dos dias mais brilhantes dos primeiros etnólogos portugueses. A etnografia produzida em Portugal, sem grande eco no ensino universitário, tinha-se transformado num saber voltado para as peculiaridades regionais, despojado do cosmopolitismo e das ambições sistemáticas do passado.”
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