quinta-feira, 7 de dezembro de 2017






Lançamento em Benavente de uma fotobiografia de Natércia Freire da autoria de Isabel Corte-Real. A fotobiografia de Natércia Freire “Da Memória Do Amor e Do Génio” foi lançada na tarde de sábado, 29 de Abril, na Câmara Municipal de Benavente perante uma plateia maioritariamente composta por mulheres e com a presença da editora Zita Seabra e do jornalista António Valdemar. A sessão foi presidida pela vereadora da Cultura da Câmara de Benavente, Ana Carla Gonçalves, e teve em Raquel Oliveira a protagonista de dois momentos emocionantes de declamação de poemas.



António Valdemar foi a Benavente falar da vida e Obra de Natércia Freire elogiando também o seu percurso profissional e de vida como jornalista e escritora. António Valdemar conviveu de perto com Natércia Freire no Diário de Notícias, onde entrou nos anos sessenta, quando Natércia Freire era igualmente responsável pelo suplemento Artes e Letras onde escreviam nomes cimeiros da cultura portuguesa.

“É uma das grandes autoras da literatura portuguesa. Em 2019 comemoramos o centenário do seu nascimento que coincide com os centenários de outros grandes vultos da literatura como é o caso de Jorge de Sena, Sophia de Mello Breyner Anderson, Joel Serrão e José Hermano Saraiva”, lembrou. Na sua opinião é preciso deitar mãos à obra para que a comemoração da data de homenagem a Natércia Freire não seja ofuscada pela de outros igualmente grandes nomes da cultura portuguesa”, referiu António Valdemar.
Depois de recordar que Natércia Freire deu guarida a todas as tendências literárias enquanto coordenadora do Artes e Letras, António Valdemar disse que juntava “o seu obscuro nome ao de David Mourão-Ferreira, Jorge de Sena e Natália Correia que lhe dedicaram livros e escreveram cartas e depoimentos onde enalteceram o seu espírito aberto a todas as ideias e ideais assim como a sua enorme tolerância”.
Para enaltecer a qualidade da Obra poética citou passagens de um estudo de António Ramos Rosa que fala de Natércia Freire a propósito do Prémio Nacional de Poesia que lhe foi atribuído em 1971. Para o académico, investigador e jornalista falta, na actualidade, uma compilação dos seus textos num novo livro que possa ser incluído no Plano Nacional de Leitura. “É justo e seria uma forma de promover a autora como ela merece junto das novas gerações”, disse António Valdemar que terminou a sua conferência realçando a ligação da autora a Benavente e ao seu património, ao rio Sorraia e à Lezíria, ao mar verde a que se juntaria mais tarde o mar da Parede e por fim o mar dos Algarves, lugares onde viveu e também marcaram a sua obra.
Isabel Corte-Real falou do desafio de escrever sobre a mulher e a poeta que foi sua mãe e lembrou o quanto Natércia Freire era uma mulher de Benavente mas também da Póvoa de Santa Iria e da Parede, lugares onde viveu. “Na nossa casa acolheram-se muitos poetas e escritores como Vinicius de Moraes”, lembrou Isabel Corte-Real que tem ainda memória dos encontros da sua mãe com Clarice Lispector, Cecília Meireles e muitos outros escritores e poetas que deixaram nome e obra. “Nesses tempos havia tempo para tardes de chá na nossa casa; a minha mãe juntava muitos escritores em casa. Eu ainda não sabia ler e já sabia poemas de cor, de os ouvir recitar a minha mãe que era uma grande leitora antes de ser grande escritora” recordou.
“A minha mãe escreveu quase até fechar os olhos. Foi sempre uma mulher vertical. A sua Obra sofreu com o saneamento que lhe fizeram no Diário de Notícias mas não foi isso que lhe roubou o amor à palavra e à escrita”, acentuou.
Para além de ser uma grande escritora, Isabel Corte-Real realçou o papel da sua mãe como mulher e esposa de José Izidro, o primeiro médico de Samora Correia e mais tarde da Povoa de Santa Iria. “A minha mãe era uma mulher de ajudar os outros como hoje ninguém ajuda. Visitava casas pobres e degradadas, limpava e arrumava, e em muitos casos ajudava no asseio íntimo de muitas pessoas que viviam sozinhas”. Para Isabel Corte-Real, a escrita e a organização desta fotobiografia teve como princípio orientador a Obra literária de Natércia Freire, as relações socais, o seu espírito solidário e a sua fé.


































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