quarta-feira, 1 de novembro de 2017



Recordar Cesina Bermudes  -  1



Cesina Bermudes

Biografia
Nascida na freguesia dos Anjos, era filha do escritor teatral e ensaísta Félix Bermudes e de sua esposa, Cândida Bermudes.
Frequentou o Liceu Camões, sendo a única rapariga numa turma de quinze rapazes. Licenciou-se na Faculdade de Medicina de Lisboa em 1933 (1932?), fez o Internato Geral em 1933-1934 e o Internato de Cirurgia e a especialidade de Obstetrícia em 1936-1937 (1937-1938?)., nos Hospitais Civis de Lisboa. Foi assistente de Anatomia do professor Henrique de Vilhena (1879-1958).
Posteriormente, contaria em entrevistas que decidira ser médica aos onze anos de idade, quando um tio materno, de nome Lacerda e Melo, falou-lhe do que era ser médico de aldeia e fazer visitas a gente pobre e sem cobrar nada. A figura desse tio terá inspirado o personagem "João Semana", imortalizada pelo escritor Júlio Dinis na obra "As Pupilas do Senhor Reitor" (1867).
Ainda na década de 1940 viveu o despertar de sua consciência política, tendo assinado, em 1945, as listas do Movimento de Unidade Democrática (MUD), subscrevendo a constituição no seu seio de uma Comissão de Mulheres.
Concluiu o doutoramento na Faculdade de Medicina de Lisboa – a primeira mulher no país a fazê-lo - em 1947 com 19 valores (num máximo de 20 valores).
Em 1948 apoiou a candidatura de Norton de Matos às eleições presidenciais portuguesas de 1949, integrando a Comissão Central do Movimento Nacional Democrático Feminino (MNDF), juntamente com Maria LamasMaria Isabel Aboim InglêsEma Quintas Alves e Manuela Porto. Como uma das dirigentes da respectiva Comissão Eleitoral Feminina em Lisboa, discursou em favor do seu candidato em diversos comícios. Juntamente com Ermelinda Cortesão e Luísa de Almeida, marcou presença na Assembleia de Delegados realizada no Centro Republicano António José de Almeida a 7 de fevereiro de 1949, em que se decidiu pela não ida às urnas daquele candidato.
Foi presa por integrar a Comissão Central do Movimento Nacional Democrático Feminino, sendo submetida a interrogatórios e recolhida ao Forte-prisão de Caxias a 14 de outubro de 1949, de onde foi libertada três meses depois, a 14 de janeiro de 1950. Entretanto, devido às suas convicções antissalazaristas, foi doravante impedida de lecionar na Faculdade de Medicina de Lisboa e viu-se assim obrigada a seguir carreira docente na disciplina de Puericultura em diversas escolas industriais.
Em 1950, esteve envolvida na constituição do Comité Nacional de Defesa da Paz, juntamente com Maria Isabel Aboim Inglês, Maria Lamas e Virgínia Moura.
Quando da trasladação dos restos mortais do antigo Presidente da República Manuel Teixeira Gomes (1923-1925), em outubro de 1950, marcou presença no cortejo fúnebre rumo ao cemitério de Portimão com centenas de outros oposicionistas ao regime.
Em 1954 partiu para Paris para estudar as técnicas do parto psicoprofiláctico (vulgarmente denominado "parto sem dor") no curso do obstetra francês Fernand Lamaze. Foi precursora desse método em Portugal juntamente com os médicos Joaquim Seabra-Diniz (1914-1996), Pedro Monjardino (1910-1969) e João dos Santos (1913-1987), que encontrou naquela capital. De volta a Portugal divulgou o método em diversas revistas médicas, de que se destacam os artigos "Bases Científicas do Parto sem Dor" (1955) e "Notas Soltas sobre o Parto sem Dor" (1957).
Assinou, com Virgínia Moura, o documento comemorativo do 10.º aniversário do MUD (1955) e, em 1957, integrou, com as escritoras Maria Lígia Valente da Fonseca Severino e Natália Correia, a Comissão Cívica Eleitoral de Lisboa, uma iniciativa da oposição com vista a intervir legalmente nas eleições que se avizinhavam.
Apoiou a candidatura de Arlindo Vicente (1958) e, depois, a do General Humberto Delgado às eleições presidenciais portuguesas de 1958. Posteriormente, deixou de ter visibilidade política para se manter disponível para a assistência médica a mulheres do Partido Comunista Português (PCP), nomeadamente na ajuda a parturientes a viverem na clandestinidade.

Vida associativa  -  Foi campeã de natação, participou em corridas de bicicletas e de automóveis. Escrevia regularmente para o jornal República (1956). Foi membro da Sociedade Anatómica de Portugal e da Sociedade Anatómica Luso-Espanhola-Americana.

Seguindo o exemplo do pai, pertenceu, desde 1927, à Sociedade Teosófica de Portugal (STP), onde desempenhou as funções de secretária-geral. Acreditava na reencarnação e optou pela alimentação vegetariana.



CESINA BERMUDES (1908 - 2001)
Uma mulher notável, com um papel importante na Resistência antifascista.

1. Cesina Borges Adães Bermudes nasceu em Lisboa a 20 Maio de 1908 e faleceu a 9 Dezembro 2001. Conhecida como Cesina Bermudes, esta cidadã de cultura polifacetada, com grande prestígio na sociedade portuguesa do século XX, foi uma médica, obstetra, investigadora e feminista.
Era filha do escritor teatral e ensaísta Félix Bermudes. Frequentou o Liceu Camões, sendo a única rapariga numa turma de quinze rapazes. Licenciou-se em Medicina, em 1933. Fez o Internato Geral em 1933/34 e o internato de cirurgia em 1937/38. Contou em entrevistas que decidira ser médica aos onze anos quando um tio materno, de nome Lacerda e Melo lhe falou do que era ser médico de aldeia e fazer visitas a gente pobre e sem cobrar nada. A figura desse tio seria o "João Semana" imortalizada pelo escritor Júlio Dinis, no livro, depois filme e série televisiva "As Pupilas do Sr. Reitor". Cesina Bermudes depois de ser assistente na cadeira de Anatomia e Clínica Geral especializou-se em Obstetrícia. 
Prestou provas de doutoramento em 1947, tendo obtido a nota de dezanove valores, mas o regime de Salazar não lhe permitiu fazer uma carreira de docente em medicina e foi professora de Puericultura nas escolas industriais. Em 1954 partiu para Paris para estudar o que de mais avançado havia quanto a partos. Foi Cesina Bermudes quem introduziu em Portugal o método do "parto sem dor", que era uma novidade nos recuados anos cinquenta do séc. XX.

2. Começou a ter consciência política nos anos quarenta, simpatizando com o único partido que se opunha a Salazar (PCP). Na década de 40, desenvolveu intensa actividade política de oposição ao salazarismo. Em 1945 assinou as listas do MUD, subscrevendo a constituição no seu seio de uma Comissão de Mulheres. Envolveu-se, em 1948-1949, na campanha presidencial do General Norton de Matos, sendo uma das dirigentes da respectiva Comissão Eleitoral Feminina em Lisboa. Esteve, então, ao lado de Maria Lamas e de Aboim Inglês. Discursou em vários comícios. 
Juntamente com Ermelinda Cortesão e Luísa de Almeida, marcou presença na Assembleia de Delegados de 7 de Fevereiro, realizada no Centro Republicano António José de Almeida, em que se decidiu pela não ida às urnas daquele candidato.



Presa em 14 de Outubro de 1949, por integrar a Comissão Central do Movimento Nacional Democrático Feminino, e submetida a interrogatórios, ficou em prisão no Forte de Caxias, de onde foi libertada três meses depois, a 14 de Janeiro de 1950.

Em 1950, esteve envolvida na constituição do Comité Nacional de Defesa da Paz, juntamente com Maria Isabel Aboim Inglês, Maria Lamas e Virgínia Moura.
Aquando da trasladação dos restos mortais do antigo Presidente da República Manuel Teixeira-Gomes, em Outubro de 1950, marcou presença no cortejo fúnebre rumo ao cemitério de Portimão com centenas de outros oposicionistas.
Assinou, com Virgínia Moura, o documento comemorativo do 10.º aniversário do MUD (1955) e, em 1957, integrou, com as escritoras Maria Lígia Valente da Fonseca Severino e Natália Correia, a Comissão Cívica Eleitoral de Lisboa, uma iniciativa da Oposição com vista a intervir legalmente nas eleições que se avizinhavam.
Apoiou a candidatura de Arlindo Vicente e, depois, a do General Humberto Delgado. Posteriormente, deixou de ter visibilidade política para se manter disponível para a assistência médica a mulheres clandestinas do Partido Comunista Português, nomeadamente na ajuda a parturientes vivendo na clandestinidade.
3. Foi campeã de natação, participou em corridas de bicicletas e de automóveis. Foi uma das introdutoras das técnicas do «parto psicoprofilático» (parto sem dor) em Portugal, depois de ter estado em Paris, em 1954, num curso sobre aquele tema, em que encontrou os médicos Joaquim Seabra-Dinis (1914-1996), Pedro Monjardino (1910-1969) e João dos Santos (1913-1987).
Figura muito respeitada no meio médico, deixou vários textos dispersos por revistas médicas sobre a sua especialidade, de que se destacam "Bases Científicas do Parto sem Dor", 1955 e "Notas Soltas sobre o Parto sem Dor", 1957. Escrevia regularmente para o jornal República (1956).
Seguindo as pisadas do pai, pertenceu, desde 1927, à Sociedade Teosófica, onde desempenhou as funções de secretária-geral, acreditava na reencarnação e optou pela alimentação vegetariana.

Concedeu, a 7 de Fevereiro de 2000, uma entrevista a Ilda Soares de Abreu e Maria Teresa Santos, publicada na revista Faces de Eva.
Faleceu a 9 de Dezembro de 2001, com 93 anos.


Biografia da autoria de Helena Pato
Biografia escrita a partir de:
http://silenciosememorias.blogspot.pt/…/0483-cesina-bermude…
http://netbiografias.blogspot.pt/…/cesina-borges-adaes-berm…






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