quinta-feira, 9 de março de 2017


Políticos e intelectuais de esquerda, nas mais diversas circunstâncias, incorporam no discurso falado e escrito, portugalidade ignorando a verdadeira origem do termo e quais os seus fundamentos ideológicos. Por seu turno, dicionários de uso corrente não registaram portugalidade, enquanto mencionam latinidade, ocidentalidade e outras designações relativas à história , à tradição de um povo ou de vários povos e suas afinidades sociais e culturais.
Uma das referências obrigatórias nesta matéria é Alfredo Pimenta que se orgulhava, aliás, de ser o doutrinador da portugalidade, «do nacionalismo integral, do autoritarismo contra-revolucionário, do tradicionalismo católico e integral».
Rejeitava tudo quanto fosse «católico progressivo, á maneira de Maritain e seus sequazes portugueses» ; ainda rejeitava «o termo equívoco , confuso e neutro de Cristão». Intitulava-se «católico intemeratamente fiel ao Credo fixado na Professio fidei tridentina , em 13 de Novembro de 1534; católico conscientemente informado no Syllabus ; católico português empregando todos os esforços para que a Nação regresse á sua missão Fidelíssima, mas não tocada dum Fideísmo progressivo e anarquizante  das consciências.
Batalhava contra a república e a democracia. Exigia o regresso da «monarquia que fez Portugal, a monarquia pura, a monarquia tradicional, a que vem de 1128, se afirma em Ourique, se consolida em Aljubarrota, rasga o caminho marítimo da Índia, cria o Império, sucumbe devagar em Alcácer, e ressuscita em 1640 , para cair, apunhalada pelas costas em 1834 , em Évora Monte».
Em Guimarães, Alfredo Pimenta ao defender o regime de Hitler e de Mussolini, congratulava-se por ver na arena do mundo e á frente dos destinos de Portugal «um Homem, com H grande» (...) «que não anda turisticamente pelas salas das conferências, nem é chamado aos conclaves dos medíocres, porque os confundiria a todos. Esse homem é português , e dispõe tão só da sua inteligência culta, da dialéctica honesta das suas razões sinceras, da profundeza e da substancia das suas doutrinas sãs – e chama-se Salazar». E em face do exemplo, da conduta e do poder discricionário desse homem providencial que, também, se arrogava de permanecer «orgulhosamente só » Alfredo Pimenta interrogava com veemência : «Mocidade Portuguesa masculina, onde estão as tuas manifestações viris e audazes, braço erguido, na saudação que primitivamente te ensinaram? Legião Portuguesa, onde estão as tuas paradas sensacionais, face aos teus chefes a acolher-te, braço estendido, em saudação que todos conhecíamos e entendíamos?»
Proferia Alfredo Pimenta estas afirmações (*) a 11 de Outubro de 1947. Além do repúdio frontal do comunismo e de todo o bloco soviético não era, também, menos radical em relação aos Estados Unidos. Será melhor transcrever, na íntegra, a sua condenação e repulsa ante « a América e essa chafarica da ONU, sucessora correcta e aumentada daquela outra chafarica de Genebra ( Sociedade das Nações ) que Deus tenha e mantenha nas profundas dos infernos. Tudo aquilo, nessa máquina geradora da Paz, é comédia mais ou menos gangsteriana, ou vampismo holywoodesco, que está a pedir, isso, sim, em dia de sessão plenária, bomba atómica certeira.»
Mesmo depois da derrota de Mussolini e de Hitler, Alfredo Pimenta o auto proclamado «doutrinador da portugalidade », preconizava a «unidade espiritual da Europa, pela conjugação da Águia germânica e da Loba romana », com o autoritarismo de « Salazar, nosso orgulho e nosso bem».
Posto isto não restam quaisquer dúvidas: portugalidade é, afinal, a mistura, a amalgama e o cacharolete de fascismo, de nazismo e de salazarismo.
(*) Porto Editora, 8.ª Edição, J. Almeida Costa e Sampaio e Melo (pag. 1304) - Qualidade do que é portuguesismo, verdadeiramente, nacional da cultura portuguesa





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