Sampaio Bruno e a urgência de ser eleito sócio da Academia das Ciências
--divulgada uma carta inédita e confidencial para Teófilo Braga
Uma carta confidencial de
Sampaio Bruno para Teófilo Braga a pedir –
lhe que fosse eleito com urgência para a Academia das Ciências, constituiu o
tema de uma comunicação de António
Valdemar, apresentada, em
sessão daquela instituição e no âmbito das comemorações do centenário da morte
do pensador,
jornalista, erudito e notável figura cívica e cultural do Porto, ligada aos
primórdios do Partido Republicano e ao movimento revolucionário do 31 de
Janeiro de 1890
«Não possui qualquer
fundamento -- começou
por referir António Valdemar -- a
informação da Grande
Enciclopédia Portuguesa
Brasileira ao
salientar que Sampaio Bruno «formou-se em Medicina em 1876 e passou ainda a
frequentar a Antiga Escola Politécnica do Lisboa, mas em 1878 teve de abandonar
os estudos por falta de saúde». (vol. 26 – Pág. 891). Nos estudos
biográficos e críticos de Joel Serrão verifica-se que Sampaio Bruno apenas frequentara e não concluíra a Antiga
Escola Politécnica do Porto. Não possuía qualquer curso».
Noutro passo ao divulgar e
comentar a carta inédita e confidencial de Bruno para Teófilo Braga, afirmou
António Valdemar :
«Sampaio Bruno pretendia
ocupar a direção da Biblioteca do Porto. O lugar encontrava-se vago, pela morte
do diretor e fundador da Biblioteca Eduardo Allen (1824 - 1899), sócio da
Academia das Ciências, licenciado em Direito por Coimbra.
«O acesso, contudo,
permanecia-lhe vedado, não por motivos políticos, pela filiação republicana e
intervenção no 31 de Janeiro. Era exigido um curso universitário. Sampaio Bruno
debatia-se com a falta de habilitações para ocupar o cargo. Procurou ser eleito
sócio da Academia das Ciências de Lisboa. O seu mérito era amplamente
reconhecido. Tinha admiradores, amigos pessoais, conterrâneos e correligionários
políticos em ambas as classes da Academia das Ciências de Lisboa. Sampaio Bruno
admitiu que tal distinção ultrapassaria os obstáculos e as exigências
institucionais.
«Contudo,- esclareceu
António Valdemar -- o
tempo de decisão das Academias não se compadece, nem coincide com o ritmo das
tramitações burocráticas. Ignoro que diligências se fizeram. Se houve
formalização da proposta; se chegou a ser apreciada e submetida à votação a
candidatura de Bruno.
Entretanto, acentuou António Valdemar «o cargo
de diretor da Biblioteca do Porto foi ocupado por António Rocha Peixoto (1868 – 1909) licenciado pela Escola
Politécnica do Porto, arqueólogo,
etnógrafo e historiador. Passados alguns anos, Sampaio Bruno ingressava
na Academia das Ciências de Portugal, fundada em Lisboa a 18 de Abril de 1907, que funcionou
pouco mais de uma década, se estendeu a todo o Pais e chegou inclusive à
Galiza.
«Esta Academia - que
resultou de uma cisão polemica com a Academia das Ciências de Lisboa - incluiu,
logo de início, numerosos sócios de prestígio alguns deles da Academia das
Ciências de Lisboa como Teófilo, (um dos organizadores), Conde de Sabugosa, Alfredo
da Cunha, Teixeira de Queiroz, Sousa Viterbo, Consiglieri Pedroso, Gonçalves
Viana. Entre os propostos destaca-se Sampaio Bruno. A Academia das Ciências de
Portugal teve o mérito de corrigir algumas injustiças, até que, de
condescendência em condescendência, abriu indiscriminadamente a porta a
carreiristas intelectuais e oportunistas políticos.»
Mais adiante disse António
Valdemar: «Só em 1909,
Sampaio Bruno, conseguiu, finalmente, com a morte de Rocha Peixoto ser nomeado
bibliotecário e a seguir diretor da Biblioteca Municipal do Porto. A sua obra
reflete o Porto cívico e cultural de outros tempos e do seu tempo: o
Porto de Antero de Quental, a presidir à Liga Patriótica do Norte. O Porto literário de Eça de
Queiroz, à frente da Revista
Portugal. O Porto
de Camilo, de António Nobre e Raul Brandão e de Manuel Teixeira Gomes a tentar
fazer o curso de Medicina. O Porto do pintor Marques de Oliveira (mestre de
Henrique Pousão), que retratou o mar e o areal da Póvoa de Varzim. O Porto de
Soares dos Reis que, de insatisfação a insatisfação, e sufocado por
intrigas e invejas, num desesperado encontro com a morte, resvalou nas garras
do suicídio. O Porto medularmente republicano de Rodrigues de Freitas de
Basílio Teles, de Aurélio Paz dos Reis (o criador do cinema português) »
A concluir António Valdemar
observou: «Ainda Sampaio Bruno
viveu seis anos enraizado na Biblioteca do Porto. A descobrir e editar velhos
manuscritos. Sempre a trabalhar. A escrever n’ A Aguia de Teixeira de Pascoais e de
Leonardo Coimbra. A receber uma carta de Fernando Pessoa para colaborar no
Orpheu. »
Inicio e final da carta de Sampaio Bruno para Teófilo Braga
Inicio e final da carta de Sampaio Bruno para Teófilo Braga
Sem comentários:
Enviar um comentário