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Luís da Câmara Reis
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Diário de Lisboa 28 de Outubro de 1961 |
Diário de Lisboa 29 de Outubro de 1961 |
Luís da Câmara Reys
Luís da Câmara Reys - 40 anos ao serviço da Seara Nova
Luís da Câmara Reys foi o esteio da revista Seara Nova ao longo de 40 anos, desde a fundação em 1921 até à sua própria morte em 1961. Ele era a retaguarda administrativa e financeira do notável escol intelectual que a lançou e o posterior animador dos sucessivos grupos que a continuaram e aguentaram nas décadas seguintes. Sem nunca deixar de ser também o intelectual de vasta cultura que nunca cessou de colaborar nas suas páginas. E, no entanto, a sua vida e os seus escritos nunca mereceram, infelizmente, um estudo, por mínimo que fosse. Como se o gigantismo dos amigos e companheiros do grande projecto da Seara Nova de algum modo o relegassem para um segundo plano, sem que alguma vez se lhe fizesse a devida justiça. Com estas breves notas, tenciono apenas evocar o seu decisivo papel na vida da Seara e apelar a que outros levem a cabo esse estudo que bem merece, agora que se comemoram os 90 anos da revista.
Nascido em Lisboa, no seio de uma família oriunda da ilha Terceira, em 20 de Abril de 1885, cursou Direito na Universidade de Coimbra, onde se formou em 1907. Mas a sua vocação estava nas letras, mais do que nas leis, tendo preferido dedicar-se ao ensino liceal das línguas portuguesa e francesa e à colaboração em jornais e revistas. Chegou mesmo a publicar um livro de contos (Contos de Março), para além de duas peças de teatro e do livro de crónicas Paris. Em 1911 vamos encontrá-lo ao lado de Raúl Proença, Jaime Cortesão e António Sérgio no núcleo de fundadores da Renascença Portuguesa. Data de então a sua profunda amizade com Raúl Proença, a quem já em 1 de Maio de 1915 escreve a propor uma publicação "em que às doutrinas monarquizantes opuséssemos as nossas doutrinas", em nome da "propaganda levantada e exigente da Democracia", isto numa altura em que os partidários do Integralismo Lusitano levavam a cabo as suas conferências na Liga Naval, aproveitando a onda do governo de Pimenta de Castro.
Em 1920, Câmara Reys é já um dos elementos do famoso Grupo da Biblioteca, que reunia no gabinete de Jaime Cortesão, Director da Biblioteca Nacional desde 1919, e integrava ainda Raúl Proença, Aquilino Ribeiro, Raúl Brandão, Faria de Vasconcelos e Ferreira de Macedo. É este grupo que lançará a revista Seara Nova, órgão do Grupo com o mesmo nome, que se propunha reformar a República através de um amplo movimento de opinião pública em torno de um ambicioso programa de reformas institucionais, educativas e económicas, a impor por uma renovada elite intelectual aos dirigentes políticos dos diferentes partidos, com recurso a um governo excepcional de competências. Com Cortesão e Proença, Reys formará a comissão política do Grupo e da revista. Nessa qualidade participa activamente no Programa Mínimo de Salvação Pública de 1922, na formação da União Cívica como grande frente de intelectuais reformadores em 1923, na Carta Aberta ao Presidente Teixeira Gomes no mesmo ano , no Apelo ao Presidente Bernardino Machado em 1925 e, sobretudo, na Semana de Propaganda Antifascista em Março de 1926, tendo sido, com Rodrigues Miguéis, um dos dois oradores representantes da Seara na grandiosa sessão final no Ginásio do Liceu Camões.
O seu papel principal, porém, e aquele que mais tempo (e dinheiro!) lhe roubava era o da direcção administrativa e financeira da revista e da editora a ela acoplada. Não era fácil, com efeito, governar um tal barco, apesar do enorme sucesso que a revista grangeara, com uma tiragem inicial de 8.000 exemplares num país com mais de 50% de analfabetos...
Com a imposição da censura, em Junho de 1926, a situação agravou-se substancialmente. Os sucessivos cortes dos censores impediram a publicação da revista, que era já semanal, primeiro durante um mês e depois durante quase um ano entre Agosto de 26 e Abril de 27. De revista eminentemente política, vê-se obrigada a recorrer cada vez mais a colaboração de índole literária. Os seus principais fundadores estão exilados e Câmara Reys vê-se praticamente sozinho em Lisboa na direcção da revista, apoiando-se então sobretudo nos jovens Mário de Castro, Rodrigues Miguéis e Manuel Mendes.
O regresso de Sérgio em 1933, com a função de Director-delegado desde 7 de Junho de 1934, reforça o vector ensaístico da revista, enfeudando-a, porém, cada vez mais ao seu pensamento, e acaba por originar conflitos com Câmara Reys, a quem Sérgio acusa de "falta de tino administrativo". A saída de Sérgio em 1939 origina uma grave crise na revista, que sobreviverá com dificuldades nas duas décadas seguintes.
Em 20 de Maio de 1941, é Luís da Câmara Reys que profere o discurso de homenagem a Raúl Proença, no enterro no cemitério do Alto de São João. Proença fora para ele "a espinha dorsal da Seara Nova" e era agora cognominado como "o Cristo da nossa geração", depois de padecer nove anos de uma trágica doença psiquiátrica, em boa parte fruto das difíceis condições de vida no exílio.
Com participação autónoma nos movimentos de unidade democrática, como o MUD em 1946, onde é representado por Azevedo Gomes e Câmara Reys, o Grupo Seara Nova alimenta-se então de um discurso antifascista e reivindicativo das liberdades cívicas e a revista, na década de cinquenta, vai pouco além dos mil exemplares de tiragem, não ultrapassando setecentos o número de assinantes efectivos. As dificuldades financeiras explicam, por outro lado, a crescente irregularidade da publicação.
É nesta altura que a lucidez e a presciência de Câmara Reys se voltam a fazer sentir. Apercebendo-se da necessidade de injectar sangue novo na revista, reúne entre 1957 e 1958 um novo grupo seareiro, em que avultam nomes como Manuel Sertório, entretanto nomeado Director-Adjunto, Rui Cabeçadas, Nikias Skapinakis, Augusto Abelaira e Lopes Cardoso. A revista renasce em Janeiro de 1959, com novo aspecto gráfico, conteúdo mais variado e mais atento à problemática económico-social, numa linha de orientação claramente socializante. Câmara Reys, já septuagenário, nem por isso deixa de continuar a participar activamente no planeamento editorial de cada número da revista, empenhando-se nomeadamente no número comemorativo dos 40 anos da Seara Nova em Outubro de 1961, precisamente o mês em que morreria. Numa página suplementar a este número já impresso, a redacção da Seara presta-lhe uma última homenagem nos seguintes termos: "Registando, neste número de Seara Nova, ainda por ele inteiramente delineado, a grande dor de o havermos perdido, a quantos nos escutam e acompanham queremos, simplesmente afiançar que continuamos presentes, que continuaremos, na medida das nossas forças, e animados pelo seu exemplo, a luta de que nunca desertou. Outra maior homenagem, e mais querida ao seu coração, não poderíamos prestar ao companheiro morto. Seara Nova viverá, como ele queria que continuasse a viver, fiel às linhas mestras do ideário que tem sido o seu desde 1921".
Morreu, quase o poderíamos dizer, no seu posto. Na Seara, mas também nesse mesmo mês como candidato da Oposição Democrática nas eleições legislativas de 1961. Dele se pode dizer que esteve sempre em todos os grandes combates da oposição: em 1945/46 no MUD, a cuja primeira Comissão Central pertenceu, em 1949 como membro da comissão central dos serviços de candidatura de Norton de Matos, em 1958 na campanha de Humberto Delgado, depois de ter apoiado Arlindo Vicente, e nas várias comemorações anuais do 5 de Outubro.
No número da Seara seguinte à sua morte, faz-se alusão às suas Memórias, "a publicar no próximo ano". Desconhecemos por que razão tal não aconteceu, nem onde paira tão preciosa obra inédita.
Restam-nos as obras publicadas em vida, nomeadamente alguns livros escolares, e sobretudo a série de opúsculos publicados pela Seara Nova nos anos 40, sob o título "As Questões Morais e Sociais na Literatura", consagrados a autores como Raúl Brandão e Raúl Proença, entre outros, reunindo artigos a eles dedicados na Seara.
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Nascido em Lisboa, no seio de uma família oriunda da ilha Terceira, em 20 de Abril de 1885, cursou Direito na Universidade de Coimbra, onde se formou em 1907. Mas a sua vocação estava nas letras, mais do que nas leis, tendo preferido dedicar-se ao ensino liceal das línguas portuguesa e francesa e à colaboração em jornais e revistas. Chegou mesmo a publicar um livro de contos (Contos de Março), para além de duas peças de teatro e do livro de crónicas Paris. Em 1911 vamos encontrá-lo ao lado de Raúl Proença, Jaime Cortesão e António Sérgio no núcleo de fundadores da Renascença Portuguesa. Data de então a sua profunda amizade com Raúl Proença, a quem já em 1 de Maio de 1915 escreve a propor uma publicação "em que às doutrinas monarquizantes opuséssemos as nossas doutrinas", em nome da "propaganda levantada e exigente da Democracia", isto numa altura em que os partidários do Integralismo Lusitano levavam a cabo as suas conferências na Liga Naval, aproveitando a onda do governo de Pimenta de Castro.
Em 1920, Câmara Reys é já um dos elementos do famoso Grupo da Biblioteca, que reunia no gabinete de Jaime Cortesão, Director da Biblioteca Nacional desde 1919, e integrava ainda Raúl Proença, Aquilino Ribeiro, Raúl Brandão, Faria de Vasconcelos e Ferreira de Macedo. É este grupo que lançará a revista Seara Nova, órgão do Grupo com o mesmo nome, que se propunha reformar a República através de um amplo movimento de opinião pública em torno de um ambicioso programa de reformas institucionais, educativas e económicas, a impor por uma renovada elite intelectual aos dirigentes políticos dos diferentes partidos, com recurso a um governo excepcional de competências. Com Cortesão e Proença, Reys formará a comissão política do Grupo e da revista. Nessa qualidade participa activamente no Programa Mínimo de Salvação Pública de 1922, na formação da União Cívica como grande frente de intelectuais reformadores em 1923, na Carta Aberta ao Presidente Teixeira Gomes no mesmo ano , no Apelo ao Presidente Bernardino Machado em 1925 e, sobretudo, na Semana de Propaganda Antifascista em Março de 1926, tendo sido, com Rodrigues Miguéis, um dos dois oradores representantes da Seara na grandiosa sessão final no Ginásio do Liceu Camões.
O seu papel principal, porém, e aquele que mais tempo (e dinheiro!) lhe roubava era o da direcção administrativa e financeira da revista e da editora a ela acoplada. Não era fácil, com efeito, governar um tal barco, apesar do enorme sucesso que a revista grangeara, com uma tiragem inicial de 8.000 exemplares num país com mais de 50% de analfabetos...
Com a imposição da censura, em Junho de 1926, a situação agravou-se substancialmente. Os sucessivos cortes dos censores impediram a publicação da revista, que era já semanal, primeiro durante um mês e depois durante quase um ano entre Agosto de 26 e Abril de 27. De revista eminentemente política, vê-se obrigada a recorrer cada vez mais a colaboração de índole literária. Os seus principais fundadores estão exilados e Câmara Reys vê-se praticamente sozinho em Lisboa na direcção da revista, apoiando-se então sobretudo nos jovens Mário de Castro, Rodrigues Miguéis e Manuel Mendes.
O regresso de Sérgio em 1933, com a função de Director-delegado desde 7 de Junho de 1934, reforça o vector ensaístico da revista, enfeudando-a, porém, cada vez mais ao seu pensamento, e acaba por originar conflitos com Câmara Reys, a quem Sérgio acusa de "falta de tino administrativo". A saída de Sérgio em 1939 origina uma grave crise na revista, que sobreviverá com dificuldades nas duas décadas seguintes.
Em 20 de Maio de 1941, é Luís da Câmara Reys que profere o discurso de homenagem a Raúl Proença, no enterro no cemitério do Alto de São João. Proença fora para ele "a espinha dorsal da Seara Nova" e era agora cognominado como "o Cristo da nossa geração", depois de padecer nove anos de uma trágica doença psiquiátrica, em boa parte fruto das difíceis condições de vida no exílio.
Com participação autónoma nos movimentos de unidade democrática, como o MUD em 1946, onde é representado por Azevedo Gomes e Câmara Reys, o Grupo Seara Nova alimenta-se então de um discurso antifascista e reivindicativo das liberdades cívicas e a revista, na década de cinquenta, vai pouco além dos mil exemplares de tiragem, não ultrapassando setecentos o número de assinantes efectivos. As dificuldades financeiras explicam, por outro lado, a crescente irregularidade da publicação.
É nesta altura que a lucidez e a presciência de Câmara Reys se voltam a fazer sentir. Apercebendo-se da necessidade de injectar sangue novo na revista, reúne entre 1957 e 1958 um novo grupo seareiro, em que avultam nomes como Manuel Sertório, entretanto nomeado Director-Adjunto, Rui Cabeçadas, Nikias Skapinakis, Augusto Abelaira e Lopes Cardoso. A revista renasce em Janeiro de 1959, com novo aspecto gráfico, conteúdo mais variado e mais atento à problemática económico-social, numa linha de orientação claramente socializante. Câmara Reys, já septuagenário, nem por isso deixa de continuar a participar activamente no planeamento editorial de cada número da revista, empenhando-se nomeadamente no número comemorativo dos 40 anos da Seara Nova em Outubro de 1961, precisamente o mês em que morreria. Numa página suplementar a este número já impresso, a redacção da Seara presta-lhe uma última homenagem nos seguintes termos: "Registando, neste número de Seara Nova, ainda por ele inteiramente delineado, a grande dor de o havermos perdido, a quantos nos escutam e acompanham queremos, simplesmente afiançar que continuamos presentes, que continuaremos, na medida das nossas forças, e animados pelo seu exemplo, a luta de que nunca desertou. Outra maior homenagem, e mais querida ao seu coração, não poderíamos prestar ao companheiro morto. Seara Nova viverá, como ele queria que continuasse a viver, fiel às linhas mestras do ideário que tem sido o seu desde 1921".
Morreu, quase o poderíamos dizer, no seu posto. Na Seara, mas também nesse mesmo mês como candidato da Oposição Democrática nas eleições legislativas de 1961. Dele se pode dizer que esteve sempre em todos os grandes combates da oposição: em 1945/46 no MUD, a cuja primeira Comissão Central pertenceu, em 1949 como membro da comissão central dos serviços de candidatura de Norton de Matos, em 1958 na campanha de Humberto Delgado, depois de ter apoiado Arlindo Vicente, e nas várias comemorações anuais do 5 de Outubro.
No número da Seara seguinte à sua morte, faz-se alusão às suas Memórias, "a publicar no próximo ano". Desconhecemos por que razão tal não aconteceu, nem onde paira tão preciosa obra inédita.
Restam-nos as obras publicadas em vida, nomeadamente alguns livros escolares, e sobretudo a série de opúsculos publicados pela Seara Nova nos anos 40, sob o título "As Questões Morais e Sociais na Literatura", consagrados a autores como Raúl Brandão e Raúl Proença, entre outros, reunindo artigos a eles dedicados na Seara.
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Sobre a eleição do Primeiro Presidente da República
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