Com abraços apertados de gratidão para o Dr. Amadeu Gonçalves!
Transcrevemos, com a devida vénia, o seu último blogue:
segunda-feira, 9 de Junho de 2014
José de Macedo, O Confederalista
Prof. Ernesto Castro Leal e Prof. Norberto Ferreira da Cunha
No dia 6 de Junho, pelas 21h30, no Museu Bernardino Machado, realizou-se mais uma conferência do ciclo de conferências “Ideias e Práticas do Colonialismo Português”. O conferencista convidado foi o Professor Ernesto Castro Leal, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, que proferiu a conferência “A Ideia Colonial em José de Macedo”. Considerando inicialmente que José de Macedo é uma figura enigmática e muito importante para a história das ideias, salientou que a sua biografia é fragmentada é com alguns erros. Em 1896, ano em que termina o Curso de Comércio, José de Macedo já pertence a uma organização académica que tinha a intenção de realizar um movimento revolucionário. Sempre ligado às cooperativas de consumo, José de Macedo cria em Gaia “União e Trabalho” e em 1898 publica a “Socialização do Ensino”, focando a descentralização do ensino primário e fortemente influenciado por Bernardino Machado, e “O Cooperativismo”, numa base de pensamento de socialista reformista, sentido que terá sempre para as cooperativas coloniais. No Congresso Colonial de 1901 fala sobre “As Nossa Riquezas Coloniais” e em 1910 publica “A Autonomia de Angola”. Antes de 1910, e já em Angola, dirige o jornal “A Defesa de Angola”,e ainda na metrópole com “A Luta” pretendia a concentração democrática. O Prof. Castro Leal focou que a elite maçónica republicana de Angola defendia uma autonomia progressiva para a colónia e que José de Macedo, um livre-pensador e um radical anticlerical, considerava que as políticas monárquicas para as colónias eram descentralistas e em 1903 é afastado da direcção do jornal “A Defesa de Angola”, devido ao que defendeu no texto “Contractos Serviçais em Angola”. Será em Angola que José de Macedo entra na Maçonaria com o nome simbólico de Benoit Malon, estando já em 1907 na Loja Solidariedade de Lisboa, fundada em 1906 por Magalhães Lima, que considerava o seu pai espiritual. Para além de Magalhães Lima, José de Macedo será influenciado por pensadores como Alexis Tocqueville ou Benoit Malon. Considerando que José de Macedo achava que a corrente dominante era a descentralista, havendo expressões centralistas, a proposta de José de Macedo era uma proposta gradualista, explorando as ideias da reforma colonial de Júlio Vilhena e de Aires de Ornelas. José de Macedo defendia três estados (Luanda, Benguela e Moçâmedes) a fundar numa confederação, rejeitando e criticando o modelo centralista francês e preferindo o modelo colonial inglês, projectando uma descentralização administrativa e financeira para uma progressiva autonomia nativista. A independência só aparece em caso de não se desenvolver a autonomia. Contra a proposta de alienação das colónias de Oliveira Martins, José de Macedo ao defender o regime confederalista para a colónia de Angola, o poder delegava-se aos estados. Desiludido com os socialistas e nunca se iludindo com os republicanos, José de Macedo será o “intelectual orgânico da República”, na expressão de Gramsci que o Prof. Castro Leal usou para caracterizar José de Macedo na I República.
O Prof. Castro Leal ofereceu ao Museu Bernardino Machado a revista do Centro de História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, cuja publicação se efetua desde 2010, sendo o seu respetivo coordenador. Em 2010 o tema foi“Republicanismo, Socialismo e Democracia”, em 2011 “República e Liberdade”,2012 “Monarquia e República”, 2013 “Liberalismo e Antiliberalismo” e o número de 2014 “Pátria e Liberdade”, no qual se encontra o texto de Norberto Ferreira da Cunha com o título “Bernardino Machado e as Liberdades Municipais”.
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