domingo, 2 de março de 2014







Do blogue  -  dopresente  - do Dr. Amadeu Gonçalves - retiramos a notícia da passada conferência do dia 28 de Fevereiro:




Na apresentação do conferencista convidado, o Prof. Miguel Santos, o Prof. Norberto Cunha, coordenador científico do Museu Bernardino Machado, referiu-se que seria apresentada a “outra faceta de Paiva Couceiro, para além das invasões couceiristas”. De facto, na segunda conferência do Ciclo “Ideias e Práticas do Colonialismo Português”, o Prof. Miguel Santos na conferência com o título “O Pensamento e a Acção Colonial de Paiva Couceiro” apresentou ao auditório do Museu Bernardino Machado uma outra faceta de Paiva Couceiro. Partindo do princípio de que no pensamento colonialista de Paiva Couceiro temos não só o “militar, mas também o pensador”, cujo pensamento não pode ser desligado de outros pensadores. Partindo da análise de obras como “Relatório de Viagem entre Bailundo e as Terras do Mucusso” (1892), passando pelo título “Experiência de Tracção Mecânica na Província de Angola” (1902) até à sua “Profissão de Fé” (1944), o Prof. Miguel Santos pretendeu analisar analisou a “teoria do império” em Paiva Couceiro no âmbito de uma filosofia política, sendo a questão a saber se esta mesma teoria foi inovadora. Ora, se na Europa são as elites que fazem a colonização, em Portugal são os militares que a desenvolvem. Neste âmbito, o Prof. Miguel Santos apresentou três mecanismos, três ideários de colonização para percebermos a contextualização do pensamento de Paiva Couceiro neste âmbito, o colonial: o comercial, a plantação e a ocupação efectiva do território no seu povoamento, para o desenvolvimento da agricultura. Defendendo Paiva Couceiro a autonomia progressiva para as colónias, em particular para Angola, tal desenvolvimento deveria ser feito pelo conhecimento territorial e, paralelamente, não há construção de um território se não houver vias de comunicação. Neste âmbito, Paiva Couceiro pertenceu a uma geração a que os historiadores designaram como a “ocupação cientificizada do espaço”. Desta forma, e tendo como pano de fundo o exemplo do Brasil, Paiva Couceiro acreditava na terceira perspectiva atrás apresentada, através do aculturamento, da misecinização para o aparecimento de novas culturas, sendo este o caminho da desconstrução para a construção da autonomia das colónias, não propriamente a “independência”. Numa perspectiva económica, Paiva Couceiro desenvolveu um modelo específico, denominado pela agricultura, pelo comércio, sendo este só possível com o desenvolvimento das infra-estruturas, apelando a uma “civilização do trabalho”, aqui divergindo do pensamento de Oliveira Martins. Nas palavras de Paiva Couceiro, “o trabalho é o elemento estruturante da soberania para a construção de uma nova identidade”, entrando aqui o papel da instrução, do ensino. Classificando o pensamento colonial de Paiva Couceiro como sendo um “nacionalismo tradicionalista”, o Prof. Miguel Santos, num segundo momento da sua conferência, analisou a seguinte ideia: se há ou não no pensamento de Paiva Couceiro um objectivo colectivo, o qual recorre à tradição historiográfica identitária. Neste pensamento, temos não só uma visão decadentista do mundo moderno, como igualmente o reforço da componente decadentista que põe em causa a qualidade da raça e ameaça o futuro do país. Por outro lado, temos em Paiva Couceiro um certo imperialismo, uma espécie de “Teoria do Império”, sendo esta a oportunidade do surgimento da Pátria, numa concepção historicista. Portugal surge aqui, na busca das qualidades étcnico-rácicas enquanto povo colonizador, com um objectivo colectivo, estando aqui igualmente um pensamento determinista, na busca das qualidades inatas dos portugueses, indo-se até aos lusitanos.
O Prof. Miguel Santos ofereceu ao Museu Bernardino Machado os seguintes títulos: “Imperialismo e Ressurgimento Nacional: o contributo dos monárquicos africanistas” (2003), “Luís de Magalhães, Oliveira Martins e a “Vida Nova” (2003), “O Mito da Atlântida nas Leituras Historiográficas do nacionalismo Monárquico” (2008), “Arlindo Vicente e a Oposição: as eleições presidenciais de 1958” (2009), “A Contra-Revolução na I República: 1910-1919” (2010), “A República e as Letras” (2010) “Presidentes: entre o público e o privado” (2011) e “As Ditaduras na História Política Contemporânea: contributos para um debate” (2011).

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