segunda-feira, 13 de janeiro de 2014




A propósito duma caricatura de Bernardino Machado





Na 1.ª República,  no dia 14 de Agosto, e desde 1920,  celebrava-se a festa de Nuno Álvares Pereira, festa do heroísmo. A proposta de lei que criou o dia de feriado, foi apresentada durante o governo de António Granjo, e aprovada por unanimidade na Câmara dos Deputados e no Senado.



Bernardino Machado era na altura senador.




 

 


















Também a propósito da caricatura, fui reler o texto de Ernesto Castro Leal sobre a história da Cruzada.

Ernesto Castro Leal - Análise Social, vol. XXXIII (148), 1998 (4.°), 823-851
A Cruzada Nacional D. Nuno Álvares Pereira e as
origens do Estado Novo (1918)

"O presente texto enraíza-se num estudo histórico que pretendeu contributo
para o esclarecimento crítico das origens simbólicas, ideológicas e políticas do
Estado Novo a partir da acção da organização cívico-política Cruzada Nacional
D. Nuno Álvares Pereira. O objectivo era fundamentar a tese de que, se
a «matriz ideológica original» do Estado Novo foi a democracia cristã/catolicismo
social, dentro de uma leitura autoritária e antiliberal, e se as «matrizes
ideológicas concorrenciais» para a definição desse regime autoritário conservador
foram o Integralismo Lusitano e o nacional-sindicalismo, já a matriz
ideológica sincrética da síntese salazarista deveu muito à Cruzada, enquanto
significativo lugar de convergência de várias tradições políticas e morais
nacionalistas.
A Cruzada Nacional D. Nuno Álvares Pereira surgiu em Junho de 1918
e extinguiu-se em Outubro de 1938, período durante o qual se definem duas
fases principais da sua dinâmica política (1918-26 e 1927-38), que, por sua
vez, devem subdividir-se em nove subfases (1918-20, 1921-23, 1924-25,
1926, 1927-28, 1929-31, 1932-34, 1935-36 e 1937-38). Dessas subfases destacaram-
se quatro momentos principais em relação ao processo de audiência
nacional (sócios, estruturas e influência institucional): 1918, 1921-23, 1926
e 1929-36. Uma organização com as características elitistas da Cruzada, que
sobreviveu vinte anos, num tempo de várias mudanças de regimes políticos,
teve inevitavelmente momentos de mobilização — anos de 1918, 1920-23,
1926, 1929-31 e 1935-36 —, mas assistiu a outros de quase inacção — 1919,
1924-25, 1927-28, 1932-34 e 1937-38.
O que persistiu foi uma espécie de liga patriótica de elites, com sede em
Lisboa, adquirindo projecção em determinadas cidades e vilas, em particular
Viana do Castelo, Braga, Bragança, Porto, Viseu, Coimbra, Vila Nova de
Ourém, Santarém, Torres Vedras, Oeiras, Lisboa, Estremoz, Funchal e Ponta
Delgada. A história essencial da Cruzada revela-nos que em 1918-23
propugnou por um recentramento conservador da República, e daí as fortes
polémicas com os monárquicos em 1918 e com os seareiros em 1921; em
1924-26 enraizou-se no campo dos agentes políticos, económicos e ideológicos
promotores do derrube institucional da República, promovendo o grupo
Filomeno da Câmara-Nobre de Melo-Gomes da Costa; em 1927-38 inseriu-
se no campo do autoritarismo conservador institucional, apesar de ter
formulado algumas advertências críticas.
As atitudes historiográfícas que inserem a Cruzada Nacional D. Nuno
Álvares Pereira, ora na área das «organizações do patronato», ora na área dos
grupos do «fascismo e direita radical», reduzem, obviamente, a percepção
desse agrupamento elitista conservador a aspectos muito particulares e datados.
Se é verdade a convergência política (dinamizada por Henrique Trindade
Coelho) entre a Cruzada e a União dos Interesses Económicos, com a
presença de algumas notabilidades nos dois agrupamentos, durante os anos
de 1924-26, tal não é suficiente para concluirmos pela sua natureza de grupo
económico de interesses. Do mesmo modo, a adopção de um discurso programático
com alguns enunciados mussolinescos por parte de um segmento
da sua elite dirigente (tutelada por Martinho Nobre de Melo), somente nos
seis primeiros meses de 1926, também não é suficiente para concluirmos
pela sua natureza de grupo político fascista".







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