Do blogue do Dr. Amadeu Gonçalves - dopresente - clicar aqui, que tem vindo a editar uma cronologia pedagógica de Bernardino Machado, transcrevemos a notícia do jornal "Novidades" de 23 de Maio de 1899, sobre a sessão solene celebrada em honra de Antero de Quental pelos estudantes de Coimbra, em 20 de Maio de 1899.
“Intelectualíssima, a impressiva comemoração que no sábado último a geração
literária de Coimbra prestou ao extraordinário espírito que se chamou Antero de
Quental. / Numa agremiação superior de elementos intelectivos, os mais lídimos
e os mais alevantados, em tudo bem a par do comemorado, a festa dos de Coimbra
assinalou-se luminosamente, deixando após si um rasto consolador de esperança e
de triunfo. / Fio a fio, se destrinçou a figura colossal do Poeta, que diga-se
com honra, é além do inconfundível espírito, o cérebro talvez mais culminante
duma época. / Num superior plano mental foi passada através duma crítica
revividora toda a Obra empolgante do Vidente. E foi isto tão nobremente feito,
que não é lisonja repetir-se que a actual geração literária da nobilíssima
Coimbra se afirma numa ascendência poderosa de talento e de critério. / Foi uma
festa absolutamente intelectual. Houve estudo e talento repassado duma rara
superioridade pairando em tudo. / Foi cumprido à risca o programa anunciado. .
/ Abriu a sessão Alberto Pinheiro que, em rápidas palavras, expôs a necessidade
duma reforma social no nosso meio. Terminou pedindo a Bernardino Machado, o espírito sempre secundando tudo o que for
nobre, a aceitar a presidência. / Uma vez na presidência, o sr. dr. Bernardino
Machado, em discurso, referiu-se ao papel de Antero, à sua suprema e
criatianíssima bondade, que era por assim dizer a sua verdadeira moral social.
/ Foi eloquentíssimo e comoveu vivamente. / Seguiram-se os Cativos, recitados por Lopes Vieira, um novo cheio de inteligência.
/ Luís de Albuquqerque e Cândido de Viterbo preencheram a parte artística, e
por tal brilhantíssimo foi ela feita, que o auditório, todo ele o que de melhor
e mais fino se pode reunir, saudou sinceramente os dois artistas. / Viterbo foi
magnífico, sobretudo quando cantou o soneto À
Virgem, composição do estranho artista Th. Borba. A música é uma elegia
alada e lagrimosa num céu nocturno de catedral antiga. Empolga, arrebata a
estranha música. / Seguiu-se Alberto Pinheiro, conferenciando com desusada
proficiência sobre o Poeta. Foi justíssimo, ainda nas suas frases bárbaras da
crítica. / Saudado abundantemente. / Seguiu-se-lhe Severo Portela. A
conferência que leu foi a sua bela e artística Crença de Antero. A sua prosa teve cambiantes esplêndidos,
contornando o pessoalismo da sua análise sempre vincada duma arte fina. / Foi
por vezes inclemente para a época de hoje, convencional e falsa. Obra toda
pessoal, ressaibada, talvez, da sua admiração tão especial por Antero,
impressionou singularmente. É um trecho magnífico de prosa portuguesa este,
onde o novel artista vazou a plasticidade da sua maneira literária. /
Seguiram-se depois Augusto de Castro, Alexandre de Albuquerque e António
macieira. / Depois de falar Severo Portela o sr. dr. Bernardino Machado
entregou a presidência ao sr. dr. Filomeno da Câmara, amigo e camarada de
Antero de Quental, manifestação esta que o último agradeceu ao terminar o sarau
em comovido discurso, mostrando quanto o Poeta foi grande e quanto era nobre e
valiosa uma geração que como esta o adorava. / Merece referência a ornamentação
do salão do Instituto sob a direcção de uma inteligente senhora. Entre damascos
ricos o retrato de Antero encimado por uma palma. À direita uma bela alegoria a
aguarela sob o soneto / Sonho que sou um
cavaleiro andante. / Palmeiras e damascos preenchiam a ornamentação
elegantíssima. / O sr. dr. Júlio Henriques dispôs por sua mão as plantas
ornamentais que, diga-se de passagem, imprimiam ao amplo recinto um aspecto
encantador. / Seria nosso desejo relatarmos ainda mais circunstanciadamente o
brilhante sarau e fá-lo-íamos se não fosse a estreiteza do espaço de que
dispomos. / Teríamos ainda a dizer dos oradores que nele tomaram parte, como,
por exemplo, Augusto de Castro, filho, que em frase quente conferenciou perto
de meia hora, mas somos obrigados a pôr de parte o nosso intento. / Em um dos
números próximos ultimaremos a narrativa, ainda incompleta, dessa festa
excepcional.
“Anthero de Quental”. In Novidades. Lisboa (23 Maio 1899) - 1 recorte de imprensa
Encontrámos também outras notícias sobre a homenagem prestada a Antero:
Já transcrevemos no blogue do dia 6 de Julho de 2010 - clicar aqui - a alocução proferida por Bernardino Machado:
Encontrámos também outras notícias sobre a homenagem prestada a Antero:
Já transcrevemos no blogue do dia 6 de Julho de 2010 - clicar aqui - a alocução proferida por Bernardino Machado:
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