quinta-feira, 8 de agosto de 2013




Do blogue do Dr. Amadeu Gonçalves  -  dopresente -  clicar aqui, que tem vindo a editar uma cronologia pedagógica de Bernardino Machado, transcrevemos a notícia do jornal "Novidades" de 23 de Maio de 1899, sobre a sessão solene celebrada em honra de Antero de Quental pelos estudantes de Coimbra, em 20 de Maio de 1899.

“Intelectualíssima, a impressiva comemoração que no sábado último a geração literária de Coimbra prestou ao extraordinário espírito que se chamou Antero de Quental. / Numa agremiação superior de elementos intelectivos, os mais lídimos e os mais alevantados, em tudo bem a par do comemorado, a festa dos de Coimbra assinalou-se luminosamente, deixando após si um rasto consolador de esperança e de triunfo. / Fio a fio, se destrinçou a figura colossal do Poeta, que diga-se com honra, é além do inconfundível espírito, o cérebro talvez mais culminante duma época. / Num superior plano mental foi passada através duma crítica revividora toda a Obra empolgante do Vidente. E foi isto tão nobremente feito, que não é lisonja repetir-se que a actual geração literária da nobilíssima Coimbra se afirma numa ascendência poderosa de talento e de critério. / Foi uma festa absolutamente intelectual. Houve estudo e talento repassado duma rara superioridade pairando em tudo. / Foi cumprido à risca o programa anunciado. . / Abriu a sessão Alberto Pinheiro que, em rápidas palavras, expôs a necessidade duma reforma social no nosso meio. Terminou pedindo a Bernardino Machado, o espírito sempre secundando tudo o que for nobre, a aceitar a presidência. / Uma vez na presidência, o sr. dr. Bernardino Machado, em discurso, referiu-se ao papel de Antero, à sua suprema e criatianíssima bondade, que era por assim dizer a sua verdadeira moral social. / Foi eloquentíssimo e comoveu vivamente. / Seguiram-se os Cativos, recitados por Lopes Vieira, um novo cheio de inteligência. / Luís de Albuquqerque e Cândido de Viterbo preencheram a parte artística, e por tal brilhantíssimo foi ela feita, que o auditório, todo ele o que de melhor e mais fino se pode reunir, saudou sinceramente os dois artistas. / Viterbo foi magnífico, sobretudo quando cantou o soneto À Virgem, composição do estranho artista Th. Borba. A música é uma elegia alada e lagrimosa num céu nocturno de catedral antiga. Empolga, arrebata a estranha música. / Seguiu-se Alberto Pinheiro, conferenciando com desusada proficiência sobre o Poeta. Foi justíssimo, ainda nas suas frases bárbaras da crítica. / Saudado abundantemente. / Seguiu-se-lhe Severo Portela. A conferência que leu foi a sua bela e artística Crença de Antero. A sua prosa teve cambiantes esplêndidos, contornando o pessoalismo da sua análise sempre vincada duma arte fina. / Foi por vezes inclemente para a época de hoje, convencional e falsa. Obra toda pessoal, ressaibada, talvez, da sua admiração tão especial por Antero, impressionou singularmente. É um trecho magnífico de prosa portuguesa este, onde o novel artista vazou a plasticidade da sua maneira literária. / Seguiram-se depois Augusto de Castro, Alexandre de Albuquerque e António macieira. / Depois de falar Severo Portela o sr. dr. Bernardino Machado entregou a presidência ao sr. dr. Filomeno da Câmara, amigo e camarada de Antero de Quental, manifestação esta que o último agradeceu ao terminar o sarau em comovido discurso, mostrando quanto o Poeta foi grande e quanto era nobre e valiosa uma geração que como esta o adorava. / Merece referência a ornamentação do salão do Instituto sob a direcção de uma inteligente senhora. Entre damascos ricos o retrato de Antero encimado por uma palma. À direita uma bela alegoria a aguarela sob o soneto / Sonho que sou um cavaleiro andante. / Palmeiras e damascos preenchiam a ornamentação elegantíssima. / O sr. dr. Júlio Henriques dispôs por sua mão as plantas ornamentais que, diga-se de passagem, imprimiam ao amplo recinto um aspecto encantador. / Seria nosso desejo relatarmos ainda mais circunstanciadamente o brilhante sarau e fá-lo-íamos se não fosse a estreiteza do espaço de que dispomos. / Teríamos ainda a dizer dos oradores que nele tomaram parte, como, por exemplo, Augusto de Castro, filho, que em frase quente conferenciou perto de meia hora, mas somos obrigados a pôr de parte o nosso intento. / Em um dos números próximos ultimaremos a narrativa, ainda incompleta, dessa festa excepcional. “Anthero de Quental”. In Novidades. Lisboa (23 Maio 1899) - 1 recorte de imprensa



Encontrámos também outras notícias sobre a homenagem prestada a Antero:






























 Já transcrevemos no blogue do dia 6 de Julho de 2010  -  clicar aqui  -  a alocução proferida por Bernardino Machado:







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