Correspondência trocada entre Bernardino Machado e o Conde de Monsaraz
Do acervo da Fundação Mário Soares (Espólio da Família Machado Sá Marques) reproduzimos as cartas dirigidas a Bernardino Machado e as fotocópias das cartas enviadas ao Conde de Monsaraz (oferecidas por seu neto António Duarte Nuno de Azevedo de Monsaraz).
Conde de Monsaraz
Para leitura das cartas clicar por duas vezes sobe a imagem
"Filho de Joaquim Romão Mendes Papança e de D. Maria Gregória de Évora Macedo, António de Macedo Papança nasceu em Reguengos de Monsaraz em 18 de Julho de 1852.
Passou a sua infância na Quinta das Vidigueiras e fez os estudos secundários na Escola Académica de Lisboa. Em 1869, com 17 anos, matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra onde, em 1874, obteve o grau de Bacharelato.
Ingressou na vida política como militante do Partido Progressista liderado por Anselmo Braancamp, tendo sido eleito deputado pelo círculo de Évora em 1886. Tomou posse como Par do Reino, na Câmara Alta, em 17 de Março de 1898.
Casou em 1888 com D. Amélia Augusta Fernandes Coelho Simões, filha de Joaquim António Simões, grande proprietário e negociante da Figueira da Foz e, também, membro do Partido Progressista. Deste casamento nasceu, em 28 de Fevereiro de 1889, um único filho, Alberto de Monsaraz.
Foi concedido a António de Macedo Papança, em 17 de Janeiro de 1884, por Decreto de D. Luís, o título de Visconde de Monsaraz. D. Carlos, por Decreto de 3 de Janeiro de 1890, concedeu-lhe o título de Conde de Monsaraz.
Em 1906 foi agraciado com a Comenda da Ordem de S. Tiago de Espada e em 1907 com a Grã-Cruz da Ordem de Afonso XII, de Espanha.
Eleito Sócio Correspondente da Academia Real das Ciências no dia 8 de Abril de 1886, sob proposta assinada por Bulhão Pato, Pinheiro Chagas, Visconde de Benalcanfor e Vilhena Barbosa, Macedo Papança foi também Sócio do Instituto de Coimbra e da Sociedade de Geografia de Lisboa, para além de também ter sido eleito Sócio Correspondente da Academia Brasileira de Letras, em 7 de Outubro de 1910, sob proposta assinada por Alcino Guanabara, Silva Ramos, Valentim de Magalhães, José do Patrocínio e Filinto de Almeida, tendo sucedido ao dramaturgo norueguês Henrik Ibsen como ocupante da Cadeira 13, cujo patrono foi o brasileiro Domingos Borges de Barros.
Entre 1905 e 1911 residiu em Coimbra para poder acompanhar os últimos estudos secundários e a formatura em Direito de seu filho Alberto.
Monárquico convicto, Macedo Papança exilou-se voluntariamente na Suiça e depois na França, após a proclamação da República em Portugal, tendo regressado ao país na Primavera de 1913. Pouco tempo depois, no dia 17 de Julho desse ano, falecia na sua residência em Lisboa. Encontra-se sepultado na Figueira da Foz.
António de Macedo Papança escreveu a sua primeira poesia aos 14 anos e vários poemas da sua juventude foram reunidos na obra Crepusculares, dedicada a sua mãe e editada em 1876.
Em 1880 vê a luz do dia Catarina de Ataíde, um poema em três cantos. Obra publicada no âmbito do centenário de Camões, foi recitada pelo próprio autor, a convite do Instituto de Coimbra, na Sala dos Capelos da Universidade de Coimbra onde a numerosa assistência, em pé, aplaudiu vivamente o poeta.
Em 1882, por ocasião de mais um centenário, desta vez o do Marquês de Pombal, publica Telas Históricas um conjunto que reúne os poemetos O Grande Marquês e A Lenda do Jesuitismo.
Macedo Papança fez a tradução, em 1892, da obra Griselia, um mistério em 3 actos, 1 prólogo e 1 epílogo da autoria de Armand Silvestre e Eugène Morandé. Nesse ano publica também Poesias, uma das mais belas colecções de líricas da língua portuguesa, obra que incluiu os títulos Do Último Romântico e Páginas Soltas.
Em 1903 é publicado Bemvinda, um poema dramático em 5 cantos.
Em 1906, escreve a letra do Hino das Escolas (musicado por Augusto Machado), a solicitação do Departamento de Instrução Pública.
Em 1908 publica Musa Alentejana, por muitos considerada a sua obra maior. Em conjunto com uma nova edição desta obra, é publicada postumamente em 1954 a obra poética Lira de Outono (composta por Poemas do Alentejo e Últimas Poesias), que tinha permanecido inédita no espólio do autor.
Colaborou em diversos jornais e revistas e traduziu outros textos, para além de Griselia, como por exemplo a ópera D. César de Bazan, de Jules Massenet com libreto de Adolphe d’Ennery, Jean Henri Dumanoir e Jules Chantepie, ou o drama Severo Torelli, de François Coppée.
Considerada na cena literária portuguesa como uma obra poética que recolheu e espelhou as influências do parnasianismo francês de Leconte de Lisle, Théodore Banville ou Théophile Gautier (escola literária cujos rigorosos cânones formais foram muito divulgados em Portugal através da revista A Folha, publicada em Coimbra entre 1868 e 1873), a produção literária do Conde de Monsaraz liberta-se desses condicionalismos na sua fase final, sobretudo nos anos passados em Coimbra a acompanhar o filho, e surge recheada de um profundo saudosismo pelas origens de nascimento e infância do autor e pelas recordações dos seus antepassados. Como refere Hipólito Raposo, no prefácio a Lira de Outono, "Lá nos ermos do Alentejo, dos húmidos alvores do Guadiana, vinham refluir-lhe na alma as lembranças da infância, as crendices populares e os enleios de amor, as figuras ainda vivas ou já mortas, a abastança e a alegria dos anos da sua criação na vila de Reguengos."
Também Mário Beirão se refere a esta mudança de Macedo Papança: "A sua sensibilidade de homem do descampado venceu o convencionalismo, o brilho falso, exterior, da literatura poética da geração a que pertenceu e de que sofre, por algum tempo, natural influência; e, apartando-se do literato, do parnasiano, deu-nos um Poeta de singular dizer e de rica e livre inspiração. Desaparecido o ser formal, ficou o cantor da luz de oiro dos plainos que reverberam, extasiados, para além do Tejo."
Em Reguengos de Monsaraz existe, à semelhança do que acontece em diversas localidades, uma rua denominada de Conde de Monsaraz. A Escola Secundária de Reguengos de Monsaraz ficou enriquecida com a denominação de Escola Secundária Conde de Monsaraz. No prédio conhecido por Palácio Rojão pode ler-se um texto sobre o poeta numa lápide colocada na fachada principal. Em Julho de 2002 o Município promoveu uma sessão evocativa do 150º aniversário do nascimento de António de Macedo Papança e a edição de 2006 do certame Monsaraz Museu Aberto encerrou com um espectáculo equestre baseado na obra escrita do Conde de Monsaraz.
Foram consultados os periódicos reguenguenses O Eco de Reguengos e Jornal de Reguengos e ainda a edição conjunta de Musa Alentejana e Lira de Outono (Lisboa: Livraria Ferin, 1954) e a obra Nobreza de Portugal e do Brasil (Lisboa: Editorial Enciclopédia, Zairol, 1960-1989)"
Sem comentários:
Enviar um comentário