domingo, 5 de agosto de 2012












O quarto  texto sobre Bernardino Machado retirado do blogue "Braga agora"  -  clicar aqui

Os rostos da República de A a Z: Bernardino Machado (04)

A chamada Geração Portuguesa, nos fins do século XIX, criou literatos, historiadores, poetas, prosadores, filósofos, artistas e homens de ciência, mas raramente políticos.

Político de rara qualidade foi Bernardino Luís Machado Guimarães, um cientista que, na meia idade passa para a política e nesta, da direita para a esquerda. Depois de ser monárquico liberal, aos 40, passa a republicano socializante, aos 50, aparecendo entusiasmado com a Frente Popular espanhola, aos oitenta, para preconizar outra semelhante em Portugal, de modo a enfrentar a Ditadura, implantada em 1926.
Polivalente nos conhecimentos e nas formas de actividade, começou por ser um cientista apaixonado pela Física e pela Matemática. Nada de leis ou de filosofias ou autodidactismos, como tantos outros da sua geração.
O enriquecimento dos pais no Brasil, permitiram, no regresso a Joane, onde comprou o título de Barão, que Bernardino uma educação regular que lhe permitiu fugir da chacota da época: “-Foge, cão, que te fazem barão!”
Aos 15 anos ingressa na única Universidade, a de Coimbra, e aos 28 anos já era professor catedrático depois de se licenciar com uma tese sobre a “Refracção da luz” e se doutorar com a “Teoria Matemática das interferências”.
Com um curriculum tão brilhante abriam-se as portas da política, através do sogro, influente regenerador, o Conselheiro Miguel Dantas. A carreira académica apenas termina em 1907 mas os filhos iam nascendo até chegar aos vinte (com dois fora do casamento).
Além de chefe da Maçonaria, foi um grande pedagogo e assinou inúmeros artigos sobre temáticas escolares, chegando ao poder, em 1893, pela mão de Hintze Ribeiro, como ministro das Obras Públicas.
Seguem-se dez anos de travessia no deserto, após alguns meses como ministro, cargo que abandona desiludido e magoado, em que Bernardino conclui que o rotativismo não salvava a Monarquia e que o futuro pertencia à República.
Na Geração de 70 encontra o carinho e o lastro para dar corpo ás suas ideias, numa altura em que o partido Republicano se encontrava numa das suas maiores crises, devido a questiúnculas e rivalidades pessoais.
É de 31 de Outubro o seu famoso discurso: “organize-se o partido Republicano e a Nação salvar-se-á”. Se não pode governar o país, que tente governar um município e se não consegue então comece por governar uma paróquia... mas “seja um Partido republicano profundamente socialista” para “amparar todas as justas reivindicações dos pobres, dos humildes”.
Depressa é recebido com charanga e colocado ao lado de Afonso Costa, António José de Almeida e António Luís Gomes. O seu prestígio era tanto que, não sendo eleito, em 1906, o Governo enfiou 600 votos nas urnas para lhe dar a eleição mas ele recusou entrar o Parlamento com esta chapelada.
Deixa Coimbra e muda-se para Lisboa e , em 1908, no Regicídio, trava os jovens republicanos, argumentando que a República não podia fazer-se sobre um crime.
Repugnava-lhe a violência como meio de acção política e está excluído dos pormenores e da data da Revolução. Prevenido do assassinato de Miguel Bombarda, regressa a Lisboa, vindo de sua casa em Moledo do Minho, onde é feito Ministro dos Negócios estrangeiros do novo regime, passando a ser o inimigo número um da causa monárquica que se serviu de todas as armas, incluindo a calúnia.
Bernardino causava muitos ciúmes entre republicanos, especialmente em José Relvas e em João Chagas.







Sem comentários: