O Presidente Bernardino Machado com o Ministro Plenipotenciário dos Estados Unidos da América em Portugal, Thomas H. Birch (1917)
Copiado, com a devida vénia, de flickr doYahoo
Thomas H. Birch foi Ministro Plenipotenciário dos Estados Unidos em Portugal de 15 de Dezembro de 1913 a 15 de Março de 1922.
Portugal e os Estados Unidos – relações no domínio da defesa
J. Calvet de Magalhães*
Primeira Guerra Mundial: a base naval americana em Ponta Delgada
"Com a entrada dos Estados Unidos na Primeira Guerra Mundial em Abril de 1917 e o recrudescimento da campanha submarina alemã no Atlântico Norte, a posição estratégica dos Açores para apoio ao combate anti-submarino passou a constituir um factor da mais alta importância para as autoridades navais americanas e para os comandos aliados. Portugal participava na guerra desde Março de 1916 e, em Janeiro de 1917, quando a campanha submarina alemã recrudesceu de vigor, surgiram várias inquietações sobre a segurança dos Açores. O presidente Wilson, em princípios de 1917, começou a dar sinais de querer interferir no conflito e, em 7 de Janeiro desse ano, o ministro americano em Lisboa, Thomas H. Birch, dirigiu uma nota ao governo português na qual se advogava a conveniência de estabelecer uma base naval nos Açores para fazer frente à intensa campanha submarina alemã e se solicitavam diversas facilidades de apoio às forças navais americanas que demandavam os portos açorianos. O governo português havia já solicitado ao governo britânico protecção naval para os arquipélagos portugueses no Atlântico e, no caso de a marinha britânica não poder desempenhar-se dessa tarefa, a cedência de seis destroyers devidamente artilhados. A 3 de Fevereiro de 1917, já depois de ser recebida a nota americana, o Foreign Office, em resposta às diligências feitas pela nossa legação em Londres, responde que não podiam ser fornecidos os navios solicitados. O governo português continuava, porém, hesitante quanto ao estabelecimento de uma base naval americana nos Açores e quando a autorização foi dada em Outubro de 1917 para a marinha americana arrendar um armazém em Ponta Delgada foi interpretada pelo State Department como anuência à instalação de uma base naval. Alexandre Braga, que geria interinamente a pasta dos Negócios Estrangeiros, comunicou, em 17 de Outubro, ao nosso ministro em Washington, Visconde d' AIte, que o estabelecimento de uma base naval nos Açores era um caso melindroso que exigia ponderação, convidando-o a dar a sua opinião sobre o assunto. AIte respondeu no dia imediato dizendo que «será perigoso fazer concessão pedida pelo governo americano sem ficar consignado, de modo absolutamente claro, que a concessão caducará inteiramente em dia determinado depois de terminada a guerra» e que «para maior segurança será melhor associar na mesma concessão a Inglaterra e a França ainda que não queiram estas potências utilizá-Ia». Entretanto, em 6 de Outubro, o governo britânico informava o governo português de que nas circunstâncias existentes na altura a Inglaterra estava impedida de prover à defesa do arquipélago dos Açores, considerando que o governo português faria bem em aceitar a ajuda militar oferecida pelo governo americano. A 30 desse mês o ministro americano em Lisboa dirigiu uma nota ao ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Soares, solicitando em nome do seu governo autorização para a instalação de uma base naval nos Açores para fazer face à campanha submarina alemã. A 8 de Novembro, Augusto Soares transmite ao ministro Birch o consentimento do governo português para essa instalação. Os jornais espanhóis, extremamente influenciados pela propaganda alemã e os emigrados políticos portugueses em Espanha, espalharam a notícia de que os Açores haviam sido ocupados pelas forças americanas, o que era, evidentemente, falso. Embora dotada de poucos meios, a base naval americana em Ponta Delgada desempenhou, todavia, um papel de enorme relevo na luta anti-submarina no Atlântico. Franklin D. Roosevelt, que ao tempo era subsecretário da Marinha, numa visita de inspecção que fez à Europa, visitou os Açores entre 15 e 18 de Julho de 1918. Roosevelt viajou no destroyer USS Dyer, que participou na escolta de um comboio de navios transportando mais de 20 mil homens destinados ao teatro europeu. Perto dos Açores, o destroyer deixou o comboio e dirigiu-se à Horta e depois a Ponta Delgada. O futuro presidente, na altura ainda muito jovem, teve uma calorosa recepção por parte das autoridades civis e militares e da população de Ponta Delgada e, segundo um dos seus biógrafos, aludia frequentemente, através da sua vida, a esta visita, romanceando até um pouco um encontro que o destroyer em que viajava tivera com um suposto submarino alemão. Durante as negociações sobre os Açores em 1943, numa carta que dirigiu a Salazar, Roosevelt não deixa de aludir a esta visita. Relatando a sua estadia nos Açores ao secretário da Marinha, Joseph Daniels, refere-se à base naval nos seguintes termos: «Em relação à situação naval, os Açores deverão necessariamente tomar-se um ponto de escala de grande frequência, durante o próximo ano, para os nossos novos destroyers, barcos Eagle, etc. Por exemplo, no dia seguinte à minha partida, o almirante Dunn (comandante da base) esperava 35 navios de guerra vindos dos Estados Unidos, 25 110 soldados e dez grandes barcos. Muitos destes navios chegaram com necessidade de reparações e as facilidades de reparação são marcadamente inadequadas. Tenho conhecimento de que foram feitas recomendações para a instalação de uma oficina de reparação em terra. Um navio-oficina seria melhor, mas não o podemos dispensar. No que se refere à Horta, na ilha do Faial, não precisamos de nenhuma base ali, mas na minha opinião devíamos lá ter um pequeno depósito de óleo, no extremo interior do molhe, e um representante naval no porto ... O Dyer chegou a Ponta Delgada apenas com mil galões de óleo de reserva. Ter-se-ia evitado muita preocupação se tivéssemos tomado uma pequena porção na Horta. O mesmo é provável que suceda com outros destroyers. Além disso, a Horta está próxima do trajecto dos comboios; seria lá o lugar lógico para aportar no caso de falta de carburante. O destacamento aéreo está fazendo um trabalho excelente, mas é prejudicado pelos velhos hidroaviões de que dispõe. Não existe espaço suficiente no porto para lhes dar um novo Flying Boat, mas deveria ter alguns aviões pequenos novos ... Os dois canhões em terra constituem, penso eu, suficiente protecção. Os portugueses falam em iniciar uma estação aérea na Horta e montar ali canhões. Estão inclinados a aceitar a nossa ajuda e os britânicos estão ansiosos por lhes dar esta ajuda. Penso que devíamos fazer isso sem hesitação pois não serviria envolver outra potência na situação dos Açores». Esta última observação denota bem o especial interesse dos Estados Unidos pela utilização militar dos Açores e o ciúme que sentiam por qualquer outra potência aliada ali poder, de alguma forma, exercer influência. Terminada a guerra, e apesar dos boatos postos a correr na imprensa espanhola sobre a ocupação definitiva dos Açores pelos americanos ou sobre a proclamação da independência das ilhas, apadrinhada pelos americanos, a base naval americana em Ponta Delgada foi desactivada, sendo entregue às autoridades militares portuguesas alguma artilharia."
Sem comentários:
Enviar um comentário