quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A extinção da Imprensa da Universidade pelo "Estado Novo"

Uma carta de Bernardino Machado para Joaquim de Carvalho (retirada do blogue - http://www.joaquimdecarvalho.org/ - com a devida vénia)



"A extinção da Imprensa da Universidade


Pelo decreto-lei de 30 de Junho de 1934, sendo Oliveira Salazar Primeiro-ministro saído da Universidade de Coimbra, a Imprensa foi extinta. Tratou-se de um acto político, inserido numa prática mais vasta de tendência autoritária, destinada a controlar ou neutralizar instituições e pessoas com possibilidades de quebrar a lógica unitária do regime. A Imprensa da Universidade, com operariado progressista e com uma direcção também democrática constituía na época uma poderosa arma política. Após a extinção, parte do seu material foi dado à guarda da Imprensa Nacional de Lisboa, outra parte ficou dispersa, como os prelos. As 37 obras em curso de que dá conta o rol feito no momento da extinção, os múltiplos títulos incluídos nas 11 colecções em aberto e as palavras dos notáveis que expressaram a sua voz, com o insuspeito Alfredo Pimenta a referir no Diário de Notícias a “gloriosa folha de serviços” da Imprensa, mostram a superior actividade e valia da acção desenvolvida por Joaquim de Carvalho como administrador.

Reacções à extinção da Imprensa da Universidade

Por parte do Senado e da Assembleia da Universidade não houve nenhuma reacção firme. Apenas foi produzida uma inócua afirmação de apreço pelo papel desempenhado por Joaquim de Carvalho e de perplexidade por o Reitor João Duarte de Oliveira não ter tido conhecimento prévio da referida medida.

“Falar da extinção da Imprensa da Universidade, secular instituição de criação pombalina, cujo último administrador (de 1921 a 1934/35) foi o republicano histórico, assumidamente demoliberal, Joaquim de Carvalho, é falar de todo o movimento de controlo do Estado Novo sobre as várias instituições e sobre as várias correntes de opinião. O objectivo era criar uma só ideologia, no âmbito do que se chamou, de forma eufemística, a “União Nacional”. Daí que terá de se entender a extinção da Imprensa como uma forma de neutralizar uma instituição com grande produção editorial e impressora, que eventualmente poderia fugir da fiscalização do Estado. Joaquim de Carvalho como bom republicano, pertenceu a organizações características do movimento, nomeadamente a Universidade Livre, criada em 1925, e a Maçonaria [...], defensor de uma moral arreligiosa e sem sanções, baseada no princípio da solidariedade [...]. A Universidade perdera a sua autonomia desde que o reitor não só passara a ser livremente nomeado pelo Governo, mas principalmente na medida em que passara a ser considerado, desde a legislação de 1930, o “representante do Ministro da Instrução Pública perante a Universidade”.

Em 1936 por “ordem de serviço” do Ministro da Educação, de 6 de Novembro, foi suspensa a representação dos estudantes no Senado e na Assembleia Geral da Universidade e, no mesmo mês, foram suspensas as eleições na Associação Académica de Coimbra, tendo sido nomeada a primeira Comissão Administrativa.

O maior cuidado consistiu em assegurara que o edifício da Imprensa se mantivesse na posse da Universidade e que não se extinguisse a acção editorial que a Imprensa vinha assegurando."  -  Do portal da Universidade de Coimbra

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