O Quadro de Bernardino Machado da Galeria dos Presidentes do Museu da Presidência
Columbano tentou por inúmeras vezes retratar Bernardino Machado; ouvi contar a meu Avô que os encontros resultavam em conversas animadas, ficando a sessão de trabalho sempre adiada. O quadro de Bernardino Machado existente na Galeria dos Presidentes é da autoria de Martinho da Fonseca.
No livro sobre o Palácio de Belém de José António Saraiva está escrito ter sido o pintor amigo pessoal do Presidente, o que não é exacto. Sobre a origem do quadro exposto na Galeria dos Presidentes fica-se esclarecido com a leitura duma carta de Aquilino Ribeiro para seu Sogro, datada de 23 de Dezembro de 1934 e escrita na Casa da Cruz Quebrada, e de que transcrevemos a parte correspondente à execução do quadro a óleo: -
“Anteontem o Dr. Gentil mandou- me prevenir que me queria falar. Tratava-se de obter o meu concurso para levar V. Ex. a deixar-se retratar pelo pintor Martinho da Fonseca. O Estado está a organizar a galeria dos presidentes e cabe-lhe agora a vez. Por cada pintura trinta contos ou, segundo outros, trinta e cinco. Quem fixou o preço foi um tal Medina, que veio de Paris ou de Londres, e espantou o indígena com uma paleta hábil, posto que fácil e bota de elástico. Vi um retrato da filha do Santos Lima e compreendo que agrada para quem não está iniciado na arte. Retratou o Carmona e meninas e cavalheiros em barda. Está podre de rico! Disse ao Dr. Gentil que me empenharia junto de V. Ex. pela satisfação do seu desejo, mas fui-lhe observando que se negara a pousar para Columbano e que por esta circunstância e aquela...etc. etc. me parecia pouco viável o negócio. Poucos dias antes tinha-me falado o pintor Abel Manta para o mesmo fim. Retorquiu-me o Dr. Gentil que o pintor tinha fome, lhe angariara comprador para dois quadros, mediante o que pudera dar de comer à família e tirar o fato do prego. Objectei-lhe que, havendo mais presidentes, escolhesse outro para retratar. “Sim – tornou ele – mas se em vez do António José ou Sidónio fizer o Dr. Bernardino Machado, vai à Galiza, dou-lhe carta de recomendação para o Dr. Castro, de Vigo, e arranja mais dois ou três retratos.” Fiz-lhe ver que V. Ex. teria de certo o máximo prazer em lhe ser agradável, nunca se tendo esquecido do tratamento salutar de que a Senhora D. Elzira, minha excelente Sogra, recebera da sua arte, tanto como eu. Aqui tem V. Ex. É ele que está a contas com a ciática de Salazar. Foi no decorrer duma das sessões de raios X que lhe pediu o retrato de V. Ex. para o pintor, que de facto tenho visto muito em baixo. Verdade seja que o Abel Manta me veio dizer ao ouvido ter o mesmo pintor alcançado já uma decoração no valor de 50 contos na repartição de estatística para o que se filiou na União Nacional. Tudo, afinal, se reduz a estômago neste triste mundo! Rogo a V. Ex. se digne dar ao Dr. Francisco Gentil, Calçada do Sacramento, resposta que me desobrigue, sem deixar ressentimento, da incumbência, caso não queira aceder a ir de vontade para a galeria dos presidentes, ao lado do Carmona. Talvez V. Ex. lhe possa dizer com um simulacro de verdade que: sim, talvez, porventura, mas que vai sair da Galiza para França etc. etc.”.
No livro sobre o Palácio de Belém de José António Saraiva está escrito ter sido o pintor amigo pessoal do Presidente, o que não é exacto. Sobre a origem do quadro exposto na Galeria dos Presidentes fica-se esclarecido com a leitura duma carta de Aquilino Ribeiro para seu Sogro, datada de 23 de Dezembro de 1934 e escrita na Casa da Cruz Quebrada, e de que transcrevemos a parte correspondente à execução do quadro a óleo: -
“Anteontem o Dr. Gentil mandou- me prevenir que me queria falar. Tratava-se de obter o meu concurso para levar V. Ex. a deixar-se retratar pelo pintor Martinho da Fonseca. O Estado está a organizar a galeria dos presidentes e cabe-lhe agora a vez. Por cada pintura trinta contos ou, segundo outros, trinta e cinco. Quem fixou o preço foi um tal Medina, que veio de Paris ou de Londres, e espantou o indígena com uma paleta hábil, posto que fácil e bota de elástico. Vi um retrato da filha do Santos Lima e compreendo que agrada para quem não está iniciado na arte. Retratou o Carmona e meninas e cavalheiros em barda. Está podre de rico! Disse ao Dr. Gentil que me empenharia junto de V. Ex. pela satisfação do seu desejo, mas fui-lhe observando que se negara a pousar para Columbano e que por esta circunstância e aquela...etc. etc. me parecia pouco viável o negócio. Poucos dias antes tinha-me falado o pintor Abel Manta para o mesmo fim. Retorquiu-me o Dr. Gentil que o pintor tinha fome, lhe angariara comprador para dois quadros, mediante o que pudera dar de comer à família e tirar o fato do prego. Objectei-lhe que, havendo mais presidentes, escolhesse outro para retratar. “Sim – tornou ele – mas se em vez do António José ou Sidónio fizer o Dr. Bernardino Machado, vai à Galiza, dou-lhe carta de recomendação para o Dr. Castro, de Vigo, e arranja mais dois ou três retratos.” Fiz-lhe ver que V. Ex. teria de certo o máximo prazer em lhe ser agradável, nunca se tendo esquecido do tratamento salutar de que a Senhora D. Elzira, minha excelente Sogra, recebera da sua arte, tanto como eu. Aqui tem V. Ex. É ele que está a contas com a ciática de Salazar. Foi no decorrer duma das sessões de raios X que lhe pediu o retrato de V. Ex. para o pintor, que de facto tenho visto muito em baixo. Verdade seja que o Abel Manta me veio dizer ao ouvido ter o mesmo pintor alcançado já uma decoração no valor de 50 contos na repartição de estatística para o que se filiou na União Nacional. Tudo, afinal, se reduz a estômago neste triste mundo! Rogo a V. Ex. se digne dar ao Dr. Francisco Gentil, Calçada do Sacramento, resposta que me desobrigue, sem deixar ressentimento, da incumbência, caso não queira aceder a ir de vontade para a galeria dos presidentes, ao lado do Carmona. Talvez V. Ex. lhe possa dizer com um simulacro de verdade que: sim, talvez, porventura, mas que vai sair da Galiza para França etc. etc.”.
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