terça-feira, 31 de março de 2009
Só no dia 5 de Outubro de 1983 foram colocados no átrio da Assembleia da República os bustos de Bernardino Machado, António José de Almeida e de Afonso Costa. Era Presidente da Assembleia, Manuel Tito de Morais e Primeiro Ministro do Governo, Mário Soares. O busto de Bernardino Machado, da autoria do escultor António Duarte, foi descerrado pela neta Manuela Machado Sá Marques.
domingo, 29 de março de 2009
Muito sensibilizado e grato, transcrevo do Jornal de Notícias de hoje o seguinte texto:
Histórias partilhadas entre avós e netos
A "Vovóteca" vai ocupar o Museu Bernardino Machado, em Vila Nova de Famalicão, todos os meses.
Ontem, Manuel Machado Sá Marques, neto do patrono do museu, foi o primeiro a partilhar as histórias com os mais novos.
A escolha do dia de ontem para o arranque da iniciativa não foi acaso: celebraram-se 158 anos sobre o nascimento do antigo presidente da República.
O conceito "Vovóteca" não é muito usual. Talvez até nunca tenha sido usado, mas já começou a ser posto em prática no novo projecto educativo do Museu Bernardino Machado. O objectivo é simples: transmitir às gerações mais novas o conhecimento dos mais velhos e as suas histórias. "É importante que os avós se sintam úteis e, a partir da 'Vovóteca', os mais velhos podem partilhar jogos, histórias, vivências", explicou o vereador da Cultura da Câmara de Famalicão, Leonel Rocha, frisando que o projecto pretende valorizar o conhecimento dos séniores.
Segundo o autarca, Bernardino Machado teve muitos netos e "sempre se preocupou muito com eles", ao ponto de a mulher do antigo presidente ter escrito a obra "Contos para os meus netos". Por isso, a ideia lançada por uma colaboradora do museu no âmbito de uma pós-graduação de Gestão de Actividades Artísticas, Culturais e Educativas foi "agarrada" pela autarquia.
"Não sabia muito bem o que ia ser a iniciativa, mas achei interessante", disse, ao JN, o jovem Rui Miguel, depois de ter ouvido as histórias de Manuel Machado Sá Marques. "Gosto sempre de ouvir as histórias dos mais velhos, eles têm outros valores que podem incutir nos mais novos", salientou, notando que assistir à próxima sessão é uma forte possibilidade.
A partilha de histórias entre avós e netos vai decorrer mensalmente, sendo, que numa primeira fase, os "avós" deverão ser pessoas ligadas à escrita infantil.
"Agora, o que eles aprendem vem dos vídeojogos, da televisão, da 'playstation' e é importante que tenham este tipo de contactos", revelou Lina Branco, que assistiu à iniciativa com os filhos. "É importante dar a conhecer o que se fazia antigamente", atirou.
Na "conversa de avô" (como a apelidou Manuel Machado Sá Marques), o primeiro orador lembrou os afectos que foi tendo de Bernardino Machado. "Tenho recordações afectivas da minha juventude porque só mais tarde comecei a perceber a sua intervenção política", notou, respondendo também às questões lançadas pelo público.
Dono de uma alegria contagiante, Manuel Machado Sá Marques diz "adorar" falar sobre o avô. De resto, começou agora a construir um blogue onde estarão documentos e informações sobre o antigo chefe de Estado.
E não se cansa de salientar que gosta de contar histórias aos mais novos e de recordar tempos de outrora.
Por outro lado, o neto do antigo presidente da República considera que "já se começa a fazer justiça, porque, durante décadas, apagou-se a memória do meu avô".
De resto, salientou o "papel do museu" na afirmação da memória do antigo presidente da República, que, nas palavras do neto, tinha "duas famílias": "Nós e a República".
ALEXANDRA LOPES
Publicado a 2009-03-29 no JORNAL de NOTÍCIAS
Histórias partilhadas entre avós e netos
A "Vovóteca" vai ocupar o Museu Bernardino Machado, em Vila Nova de Famalicão, todos os meses.
Ontem, Manuel Machado Sá Marques, neto do patrono do museu, foi o primeiro a partilhar as histórias com os mais novos.
A escolha do dia de ontem para o arranque da iniciativa não foi acaso: celebraram-se 158 anos sobre o nascimento do antigo presidente da República.
O conceito "Vovóteca" não é muito usual. Talvez até nunca tenha sido usado, mas já começou a ser posto em prática no novo projecto educativo do Museu Bernardino Machado. O objectivo é simples: transmitir às gerações mais novas o conhecimento dos mais velhos e as suas histórias. "É importante que os avós se sintam úteis e, a partir da 'Vovóteca', os mais velhos podem partilhar jogos, histórias, vivências", explicou o vereador da Cultura da Câmara de Famalicão, Leonel Rocha, frisando que o projecto pretende valorizar o conhecimento dos séniores.
Segundo o autarca, Bernardino Machado teve muitos netos e "sempre se preocupou muito com eles", ao ponto de a mulher do antigo presidente ter escrito a obra "Contos para os meus netos". Por isso, a ideia lançada por uma colaboradora do museu no âmbito de uma pós-graduação de Gestão de Actividades Artísticas, Culturais e Educativas foi "agarrada" pela autarquia.
"Não sabia muito bem o que ia ser a iniciativa, mas achei interessante", disse, ao JN, o jovem Rui Miguel, depois de ter ouvido as histórias de Manuel Machado Sá Marques. "Gosto sempre de ouvir as histórias dos mais velhos, eles têm outros valores que podem incutir nos mais novos", salientou, notando que assistir à próxima sessão é uma forte possibilidade.
A partilha de histórias entre avós e netos vai decorrer mensalmente, sendo, que numa primeira fase, os "avós" deverão ser pessoas ligadas à escrita infantil.
"Agora, o que eles aprendem vem dos vídeojogos, da televisão, da 'playstation' e é importante que tenham este tipo de contactos", revelou Lina Branco, que assistiu à iniciativa com os filhos. "É importante dar a conhecer o que se fazia antigamente", atirou.
Na "conversa de avô" (como a apelidou Manuel Machado Sá Marques), o primeiro orador lembrou os afectos que foi tendo de Bernardino Machado. "Tenho recordações afectivas da minha juventude porque só mais tarde comecei a perceber a sua intervenção política", notou, respondendo também às questões lançadas pelo público.
Dono de uma alegria contagiante, Manuel Machado Sá Marques diz "adorar" falar sobre o avô. De resto, começou agora a construir um blogue onde estarão documentos e informações sobre o antigo chefe de Estado.
E não se cansa de salientar que gosta de contar histórias aos mais novos e de recordar tempos de outrora.
Por outro lado, o neto do antigo presidente da República considera que "já se começa a fazer justiça, porque, durante décadas, apagou-se a memória do meu avô".
De resto, salientou o "papel do museu" na afirmação da memória do antigo presidente da República, que, nas palavras do neto, tinha "duas famílias": "Nós e a República".
ALEXANDRA LOPES
Publicado a 2009-03-29 no JORNAL de NOTÍCIAS
segunda-feira, 23 de março de 2009
PARTICIPAÇÃO de BERNARDINO MACHADO – filho – na GRANDE GUERRA
Meu tio Bernardino tinha 24 anos quando, mobilizado como alferes de cavalaria, embarcou em 2 de Julho de 1917 para a Flandres. Na frente de batalha ofereceu-se para exercer a ocupação de oficial sinaleiro, na montagem e segurança das linhas de comunicação, uma actividade de risco. Manteve-se sempre nas trincheiras, excepto durante o curto período de gozo de licença em Fevereiro de 1918, que aproveitou para vir a Lisboa, onde residia sua noiva, filha do Coronel José Peres. Foi nesta viagem de licença que esteve com seu pai, então no exílio, que acabava de chegar a Paris, vindo de Madrid. Não andou em Paris a divertir-se, como ainda leio nalguns textos maledicentes, onde repetem “que os filhos do Bernardino e do Afonso foram para França, não para a guerra, mas para se divertiram em Paris”. Regressou para o “front” no dia 19 de Fevereiro e durante a estada em Lisboa esteve hospedado no Hotel Continental, onde foi entrevistado por Bourbon e Menezes, do jornal “A Capital” (25 de Fevereiro de 1918).
Meu tio Bernardino já tinha estado com o pai na Flandres, antes do golpe de estado sidonista, quando da viagem presidencial. Estava em Lillers, com outros oficiais, à chegada dos Presidentes da República de França e de Portugal, sendo-lhe concedida, pelo General Gomes da Costa, licença para jantar com seu pai no dia 11 de Outubro, de quem se despede no dia 15 seguinte em St. Venant.
Durante a Batalha de La Lys sofreu com gravidade os efeitos dos gases, tendo sido evacuado para cuidados hospitalares.
Vem para Portugal em Agosto de 1918, sendo desmobilizado no final de Setembro, após uma permanência no Hospital Militar da Estrela. É nesta viagem de regresso, que volta a encontrar Bernardino Machado, então residindo em Hendaya acompanhado pela Mulher e tres filhos, Maria, Jerónima e Narciso.
França
3-9-1917
Meu Caro Alberto
Muito lhe agradeço a carta que hoje recebi. V. de certo compreende o alvoroço e o prazer que sinto com as notícias que daí recebo. São elas que vêem quebrar um pouco a aridez e monotonia do meu viver, pois que me dando notícias da casa, por instantes dissipam as muitas saudades que de todos tenho. E pode estar certo, meu caro Alberto, que a sua quota-parte, me deixa profundamente reconhecido. Pena tenho que as meninas, excepção feita à Maria, não substituam o laconismo dum postal por mais suculenta carta.
Por aqui nada de novo. É já com indiferença que vemos passar os aviões inimigos, a caminho da sua trágica e cobarde missão. O interesse com que ao principio seguia os seus voos ligeiros, e a curiosidade que em mim despertavam as suas finas silhuetas, perdidas ao longe, no claro céu azul, de todo passou, pela frequência com que estes espectáculos se repetem.
Se não fora o constante ribombar da artilharia, nada nos indicaria que estávamos em guerra.
A pacatez em que vegeto muito se assemelha a essa paz virgiliana que há aí. Somente aqui o sol não brilha com o mesmo fulgor, nem as quebradas dos montes repetem como aí, as alegres canções da gente que trabalha.
Por toda a parte, luto e desolação. Tudo nos faz sentir o cansaço e a fadiga dum povo, que não obstante, ainda se bate heroicamente. Mas a poesia das coisas morreu, e ás tardes, ao por do sol, o plangente toque das Ave Marias não tem a mística doçura do da nossa terra, e dum cantigo de graças ele converteu-se num amargurado soluçar.
O fanatismo desta gente é grande, e ninguém falta á missa.
Ontem assisti por acaso á saída dos fiéis. Ao vê-los, eu tive a nítida impressão da hecatombe que esta guerra representa. Todos de luto, os seus crepes atestam bem a carnificina que se tem feito.
Mas falemos de outra coisa. Quando parte para o Gerez?
São horas do chá. É servido?
Adeus, meu caro Alberto! Saudades à Rita e beijos aos petizes, em especial á minha afilhada.
Abraça-o o seu cunhado e amigo
Bernardino
Meu tio Bernardino tinha 24 anos quando, mobilizado como alferes de cavalaria, embarcou em 2 de Julho de 1917 para a Flandres. Na frente de batalha ofereceu-se para exercer a ocupação de oficial sinaleiro, na montagem e segurança das linhas de comunicação, uma actividade de risco. Manteve-se sempre nas trincheiras, excepto durante o curto período de gozo de licença em Fevereiro de 1918, que aproveitou para vir a Lisboa, onde residia sua noiva, filha do Coronel José Peres. Foi nesta viagem de licença que esteve com seu pai, então no exílio, que acabava de chegar a Paris, vindo de Madrid. Não andou em Paris a divertir-se, como ainda leio nalguns textos maledicentes, onde repetem “que os filhos do Bernardino e do Afonso foram para França, não para a guerra, mas para se divertiram em Paris”. Regressou para o “front” no dia 19 de Fevereiro e durante a estada em Lisboa esteve hospedado no Hotel Continental, onde foi entrevistado por Bourbon e Menezes, do jornal “A Capital” (25 de Fevereiro de 1918).
Meu tio Bernardino já tinha estado com o pai na Flandres, antes do golpe de estado sidonista, quando da viagem presidencial. Estava em Lillers, com outros oficiais, à chegada dos Presidentes da República de França e de Portugal, sendo-lhe concedida, pelo General Gomes da Costa, licença para jantar com seu pai no dia 11 de Outubro, de quem se despede no dia 15 seguinte em St. Venant.
Durante a Batalha de La Lys sofreu com gravidade os efeitos dos gases, tendo sido evacuado para cuidados hospitalares.
Vem para Portugal em Agosto de 1918, sendo desmobilizado no final de Setembro, após uma permanência no Hospital Militar da Estrela. É nesta viagem de regresso, que volta a encontrar Bernardino Machado, então residindo em Hendaya acompanhado pela Mulher e tres filhos, Maria, Jerónima e Narciso.
França
3-9-1917
Meu Caro Alberto
Muito lhe agradeço a carta que hoje recebi. V. de certo compreende o alvoroço e o prazer que sinto com as notícias que daí recebo. São elas que vêem quebrar um pouco a aridez e monotonia do meu viver, pois que me dando notícias da casa, por instantes dissipam as muitas saudades que de todos tenho. E pode estar certo, meu caro Alberto, que a sua quota-parte, me deixa profundamente reconhecido. Pena tenho que as meninas, excepção feita à Maria, não substituam o laconismo dum postal por mais suculenta carta.
Por aqui nada de novo. É já com indiferença que vemos passar os aviões inimigos, a caminho da sua trágica e cobarde missão. O interesse com que ao principio seguia os seus voos ligeiros, e a curiosidade que em mim despertavam as suas finas silhuetas, perdidas ao longe, no claro céu azul, de todo passou, pela frequência com que estes espectáculos se repetem.
Se não fora o constante ribombar da artilharia, nada nos indicaria que estávamos em guerra.
A pacatez em que vegeto muito se assemelha a essa paz virgiliana que há aí. Somente aqui o sol não brilha com o mesmo fulgor, nem as quebradas dos montes repetem como aí, as alegres canções da gente que trabalha.
Por toda a parte, luto e desolação. Tudo nos faz sentir o cansaço e a fadiga dum povo, que não obstante, ainda se bate heroicamente. Mas a poesia das coisas morreu, e ás tardes, ao por do sol, o plangente toque das Ave Marias não tem a mística doçura do da nossa terra, e dum cantigo de graças ele converteu-se num amargurado soluçar.
O fanatismo desta gente é grande, e ninguém falta á missa.
Ontem assisti por acaso á saída dos fiéis. Ao vê-los, eu tive a nítida impressão da hecatombe que esta guerra representa. Todos de luto, os seus crepes atestam bem a carnificina que se tem feito.
Mas falemos de outra coisa. Quando parte para o Gerez?
São horas do chá. É servido?
Adeus, meu caro Alberto! Saudades à Rita e beijos aos petizes, em especial á minha afilhada.
Abraça-o o seu cunhado e amigo
Bernardino
domingo, 22 de março de 2009
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