Chegada do Comandante
Sarmento Pimentel ao Porto; 1974; depois do 25 de Abril, com Rui Luís Gomes! |
Recordar João Sarmento Pimentel
João Sarmento Pimentel. Memória do Seareiro
Na passagem de mais um aniversário da Revolução de 1974, decidiu a Associação 25 de Abril homenagear a memória de João Sarmento Pimentel, insígne cidadão, militar e seareiro, nascido em 1888, que passou metade da sua vida exilado no Brasil, onde viria a falecer em 1987.
Oriundo de uma família da fidalguia rural de Entre Douro e Minho (Amarante, Felgueiras), o “Capitão Sarmento Pimentel” cedo se manifestou pelo apoio às ideias republicanas, tendo participado, como cadete da Escola do Exército, na Rotunda, ao lado de Machado dos Santos, na Revolução de 1910.
Como oficial de Cavalaria (alferes) participou, em 1916, sob o comando do General Pereira D’Eça, na campanha do Sul de Angola, na região do Cunene (Ruacaná), naquela que seria a sua estreia na Iª Guerra Mundial e de que deixaria memória das deficientes condições em que as tropas portuguesas tiveram que enfrentar o exército alemão do Sudoeste Africano (actual Namíbia), por via de uma absurda política de neutralidade que conduziria ao massacre de Naulila, a que apenas chegara a tempo de dar aos mortos a merecida sepultura.
Regressado à Metrópole, dos calores do Namibe, foi mobilizado para continuar a mesma guerra, na Europa (Flandres), onde cultivou a amizade com Jaime Cortesão, médico militar que viria a ser seu companheiro na fundação da Seara Nova. Finda a guerra das trincheiras, a que sobreviveu, havia de sobreviver ainda à pneumónica (gripe espanhola), após longa hospitalização, que interrompeu para chefiar o combate, com êxito, à Monarquia do Norte, de Paiva Couceiro, derradeira tentativa de derrubar a República instaurada em 1910.
Sempre na defesa da democracia e no combate aos inimigos da República, Sarmento Pimentel participou na fundação da Seara Nova, um projecto de esquerda com um programa político que visava o desenvolvimento do país, designadamente com um projecto de reforma agrária cujo principal animador era Ezequiel de Campos, Ministro da Agricultura no governo de José Domingos dos Santos, de que Sarmento Pimentel foi Chefe de Gabinete.
Visando atacar as crónicas razões do atraso do país, desde o analfabetismo à emigração, passando pelos ineficientes métodos de cultivo da terra até questões básicas do funcionamento do serviço militar e dos quartéis, todas essas matérias foram alvo de artigos de Sarmento Pimentel na Seara Nova, cuja direcção integrou a partir de 1924.
Já desligado do exército por razões da sua vida pessoal, é ainda como Capitão que surge o seu nome na Carta aberta ao povo português, manifesto de diversos oficiais contra a Ditadura saída da revolta de Braga em 28 de Maio de 1926, e que havia de se manter até 1974.
Liderada intelectualmente pelos homens da Seara Nova/Biblioteca Nacional a intentona preparada para derrubar a Ditadura Militar, em 3-7 de Fevereiro de 1927 fracassa pelo atraso na adesão de Lisboa – e o seu desmantelamento no Porto fica facilitado. Sarmento Pimentel exila-se no Brasil onde, em São Paulo continua a oposição ao salazarismo com outros democratas portugueses, designadamente através da publicação do jornal Portugal Democrático.
Da sua rica experiência de vida e de luta, publica, no Brasil, com prefácio de Jorge de Sena, de 1972, Memórias do Capitão, obra cuja qualidade literária e humana a torna recomendada em universidades brasileiras. Com a Revolução de Abril, Sarmento Pimentel pode voltar a Portugal e, em 5 de Outubro de 1974, na varanda da Câmara Municipal de Lisboa, onde 64 anos antes fora proclamada a República, participa na festa da liberdade e da democracia por que sempre se bateu.
A Seara Nova, em Junho de 1974, festejou o regresso do Seareiro, então com 86 anos, sempre “Capitão”, a quem, num gesto de reconhecimento e de reposição da justiça histórica, a República, pelo Conselho da Revolução, veio a conceder, em 25 de Abril de 1982, as estrelas de General.