domingo, 31 de março de 2019





A Academia das Ciências e a Política








Para o meu caríssimo Amigo António Valdemar, distinto Académico 


























sexta-feira, 29 de março de 2019

quarta-feira, 27 de março de 2019







Recordar Rogério Fernandes e a Seara Nova

























terça-feira, 26 de março de 2019







Bissaia  Barreto
Caricatura de A. Torres
Sobre Bissaia Barreto




















 Estou a ler o livro de Jorge Pais de Sousa e a este propósito, nas agradáveis conversas com o meu caríssimo Amigo António Valdemar,  soube que em 2013 tinha escrito para a revista do jornal Expresso um artigo , que transcrevo.
Reproduzo também, do portal "Casa Comum", uma interessante fotografia do espólio de Afonso Costa.











      


Bissaya Barreto, resta o benemérito
António Valdemar*
O nome de Bissaya Barreto sobrevive como benemérito. Fundou, manteve e garantiu para o futuro instituições de interesse social e que se projetam numa dimensão regional e nacional.
Ainda estudante Bissaya Barreto (29 – 10- 1886 / 16 - 9. 1974) pertenceu ao núcleo radical que promoveu a Greve Académica de 1907 que, para além do âmbito da Universidade e da cidade de Coimbra, estendeu-se a Lisboa, ao Porto, provocou uma agitação nacional que contribuiu para acelerar a queda da Monarquia. Fez parte dos elementos mais dinâmicos da Carbonária, liderada por Luz de Almeida desenvolvendo na Região Centro do Pais, o recrutamento e iniciação de numerosos aderentes para a luta armada revolucionária.
Também integrou o quadro dirigente de uma das mais influentes Lojas Maçónicas – a Revolta de Coimbra; foi eleito deputado às Constituintes de 1911 que elaboraram a lei fundamental da Republica; a estrutura do sistema parlamentar, do estado laico, dos símbolos do novo regime - a bandeira, a moeda e o hino. Tomou parte na eleição do primeiro Presidente da Republica, Manuel de Arriaga. 
Meses depois, verificava-se uma cisão no antigo Partido Republicano que se fragmentou em mais duas outras fações: o Partido Evolucionista de António José de Almeida; e a União Republicana ou Partido Unionista, de Brito Camacho. Optou Bissaya Barreto pelo Partido Evolucionista e, anos mais tarde, pela Ditadura Militar implantada em 28 de Maio de 1926 e, posteriormente, a Ditadura de Salazar que constituiu um partido único, a União Nacional que Bissaya Barreto aderiu, de imediato. Foi membro da Comissão Executiva da União Nacional até ao fim de Salazar e ao início do governo de Marcelo Caetano que transformou a União Nacional, em Ação Nacional Popular. Bissaya Barreto era dos poucos com acesso direto e imediato a Salazar, com quem almoçava todas as semanas. Esteve sempre nos bastidores  do «Estado Novo». Retirou- se, tanto quanto era possível, com a chegada de Caetano.
Apesar de tudo - posso confirmar em muitos anos de convívio semanal, no Hotel Metrópole, em Lisboa, ao partilharmos a hospitalidade de Alexandre de Almeida – tinha relações com maçons, (Amadeu Gaudêncio e Cassiano Branco) e correspondia sempre aos pedidos de auxílio. Homem de palavras calculadas, próximo e distante, consoante as circunstâncias. Manteve-se fiel ao racionalismo crítico e permaneceu republicano e laico. Apesar de escolher, para serviços de enfermagem, freiras de várias congregações religiosas. 
Durante mais de meio século, exerceu de forma absorvente a Medicina e a Cirurgia. Desempenhou, entretanto, funções de catedrático da Universidade de Coimbra que dominou, por completo, mesmo depois de atingir o limite de idade. Era um dos médicos de maior prestígio, com doentes que afluíam de todo o País. Aos fins-de-semana e para fazer intervenções cirúrgicas percorria desde Viseu, Lamego, Guarda, Vila Real e diversos outros Hospitais, terminando na Figueira da Foz. Os seus antigos alunos que haviam obtido classificações assinaláveis, não se encontravam habilitados para operar. Recorriam ao Mestre que dormia no automóvel que o transportava e pagava - se conforme as posses do doente. Esta atividade imparável permitiu-lhe - sem que tivesse encargos de familia, pois era solteiro - acumular uma fortuna considerável que aplicou em causas humanitárias.
Avultam, por exemplo, a assistência aos tuberculosos, instalando sanatórios para homens e mulheres; prevenção e tratamento da lepra (Hospital Rovisco Pais), internamento e outros cuidados psiquiátricos (Hospital Sobral Cid, em homenagem ao que considerava o seu melhor professor, situando nos antípodas Eliseo de Moura), fundação de Escolas de Enfermagem, de Maternidades, de Casas da Criança com ensino e acompanhamento desde a primeira infância; parques infantis, colónias de férias. De toda esta torrente de filantropia - que tem sido valorizada com outras aplicações prioritárias – destaca-se o Portugal dos Pequenitos, um dos locais emblemáticos de Coimbra e incluído nos roteiros turísticos nacionais e internacionais. As bases da sua formação intelectual e cívica nunca se desviaram da crença na ciência e no pensamento iluminista. A propósito das obras sociais que Bissaya Barreto realizou costumava citar Voltaire, um dos seus mestres: l’ instrution c’est la source du bonheur.
Decorridas cerca de quatro décadas após o falecimento, extinguiram – se os ecos das grandes controvérsias que Bissaya desencadeou; dos profundos ódios universitários e pessoais que suscitou; e, ainda, de acirradas aversões políticas que procuraram atingir Bissaya Barreto e o círculo dos seus protegidos. O médico notável e o não menos notável cirurgião eclipsaram - se à medida que desapareceram antigos doentes que lhe deviam a vida. Restam para a posteridade as obras sociais que constituiu e continuam a ser úteis e necessárias a gerações sucessivas.

*jornalista, sócio efetivo da Academia das Ciências





Sentados: Afonso Costa, Álvaro Bessa (filho de Bessa de Carvalho), Manuel de Arriaga,
 Sebastião Costa (filho de Afonso Costa), António José de Almeida, e França Borges
De pé: Bessa de Carvalho, Bissaia  Barreto, Augusto Barreto, Daniel Rodrigues,
Ribas Avelar, figura não identificada, Germano Martins e António Macieira