Com a devida vénia e gratidão, transcrevemos o texto de Bárbara Pereira - "As Damas na 1.ª Guerra Mundial (1914-1918)
quinta-feira, 31 de maio de 2018
quarta-feira, 30 de maio de 2018
Do portal "Ideias e Opiniões", com a devida vénia e gratidão
Damas Enfermeiras da Cruz Vermelha
Bárbara Pereira
Em 1910, o esplendor da Implantação da República fomentou um conjunto de mudanças radicais perante a monarquia, sobretudo no que respeita à visão do papel da mulher na sociedade portuguesa, acontecimento tardio em relação aos restantes países europeus.
Dada a circunstância culminada pela Grande Guerra, a mulher tem um papel activo cada vez mais visível, sendo que anteriormente as camadas sociais mais altas tinham essa posição, mas firmavam pelo secretismo. Assim, a Primeira Guerra Mundial, apesar de ser um acontecimento trágico, funcionou na mentalidade das mulheres como uma oportunidade de demonstrarem as suas capacidades como cidadãs portuguesas, visto que o próprio Estado formalizava a figura da Mulher como ser inferior à restante sociedade.
Para além da Cruzada das Mulheres Portuguesas, a Cruz Vermelha também teve um papel fundamental, na medida em que foi através deste órgão que foram incorporadas as primeiras doze mulheres da elite republicana no Corpo Expedicionário Português – Damas Enfermeiras Portuguesas no Hospital de Sangue nº8 em Herbelles.
Esta constituição do grupo de enfermagem teve o apoio excepcional de Reynaldo dos Santos, nascido em Vila Franca de Xira, e Domitília Carvalho, de Aveiro, através da “Assistência das Portuguesas às Vítimas de Guerra”.
As circunstâncias proporcionadas pelo republicanismo radical proporcionaram uma aposta na política de força da beligerância. Tal como é preconizado no Relatório de Augusto Soares, transcrito na obra “Primeira República I – Do Sonho à Realidade” é descrito o seguinte:
“(…) O doutor Reinaldo dos Santos tem observado entre os soldados doentes das tropas portuguesas, um grande número de casos de indivíduos que pela natureza das suas enfermidades estão absolutamente incapacitados para o serviço militar, devendo por esse motivo ser repatriados, o que vai trazer ao Estado despesas que se poderiam evitar se eles começassem por não ser admitidos entre as tropas expedicionárias, depois da formalidade de uma simples inspecção (…)”
O primeiro Grupo de Damas Auxiliares Enfermeiras com a chefia de Eugénia Manoel (Tancos). Posicionada no Hospital nº 8 na zona avançada do CEP.
De acordo com o 6º artigo da Cruz Vermelha, as enfermeiras tinham de respeitar cada dever estipulado neste documento, assinado conjuntamente com o uso de uniforme, cinto, braçadeira, bolsa, distintivos e bilhete de identidade. Todos os objectos são da posse da Cruz Vermelha. No final da comissão de serviço eram devolvidos.
“A sacrificar o seu bem estar e as suas comodidades pessoais, sempre que as circunstancias o exijam, em proveito dos feridos e doentes.”
De toda documentação preconizada pelo Arquivo Histórico da Cruz Vermelha existe um livro que remete às acções de enfermagem, em que os soldados deixam agradecimento a estas “damas” pelo apoio fulcral durante o conflito bélico. De acordo com o Registo do Hospital da Junqueira, entre o período de 1917 e 1918, e no que respeita ao tratamento de auxilio das enfermeiras, destaca-se a parca informação, ou mesmo inexistente, dos dados referentes às mesmas, a não ser o nome completo, região de origem e data de nascimento, com alguns registos de prognósticos, maioritariamente como quadro clínico dito temporário, como gripe, ou registando a mesma doença mas como diagnóstico definitivo.
Para a construção das Damas Enfermeiras e do Hospital da Cruz Vermelha foi fulcral a presença D. Maria Antónia Matos, mantendo contacto com o Lord Donoughomore, Representante da Cruz Vermelha Britânica e num acordo com Miss McCarthy, Dama-chefe da Cruz Vermelha Britânica. Deste acordo pretendia em troca de mão de obra de enfermaria, onde era predisposto o ensino com o rigor inglês.
A chegada de Herbelles é um momento que remete a uma certa descontracção. A recepção do GADE 1 (Grupo Auxiliar de Enfermeiras) foi feita de forma receptiva em Julho de 1918. As damas- enfermeiras foram apresentadas na Base do C.E.P Ambleteuse em 19, 21 e 24 de Novembro de 1917. Por turnos, passam a fazer serviço no Hospital da Base nº 2 a 25 de Março de 1918 acompanhando o Dr. Jorge Cid. Com a ofensiva de 9 de Abril e a inauguração do Hospital da C.V.P, todas as enfermeiras passaram a fazer serviço exclusivo deste nosso Hospital
O Hospital da Cruz Vermelha foi inaugurado no dia 9 de Abril de 1918! Dois anos depois da construção ter iniciado. Apesar do intenso trabalho por parte das enfermeiras auxiliares, o Hospital não funcionou em pleno, dado à dimensão da Batalha de La Lys, onde muitos soldados portugueses pereceram e que, por coincidência, começou no dia da inauguração das instalações. Doze enfermeiras, por discordância dos termos de contrato de trabalho ou porque pretendiam estar mais próximas das linhas da frente, trabalharam em hospitais de sangue ou em ambulâncias, desvinculando-se da Cruz Vermelha em Agosto de 1918. Foi o primeiro marco da presença do sexo feminino no Exército Português.
No fim da guerra, com o desmantelamento do Hospital da Cruz Vermelha nos princípios de 1919, outro grupo de enfermeiras transitou também para a dependência directa do exército, de forma a assegurar a continuidade da enfermagem feminina nos hospitais militares em Portugal.
A seguir a 18 de Maio, após a retirada para Portugal do Dr. Azevedo Gomes, organizou-se um grupo de enfermeiras, que pela Ordem de Serviço do Q.G. C de 27 de Julho, organizaram a ambulância nº8 com sede em Herbelles com as 10 enfermeiras.
Com a desmobilização da formação e encerramento do Hospital da C.V.P em 29 de Janeiro de 1919, transitaram para o Hospital nº1, os restantes doentes que foram acompanhados pelas últimas Damas Enfermeiras, que ali continuaram prestando serviço até ao seu regresso a Portugal. Na seguinte foto proporcionada pelo livro dos 40 anos da Cruz Vermelha, revêem-se os oficiais e as damas enfermeiras no último dia do Hospital da Cruz Vermelha. O próprio livro está em mau estado, sendo apenas possível fazer da seguinte forma a compilação desta fotografia.
De uma forma muito sintética, demonstrei um pouco o percurso das “Damas Auxiliares”. Existe informação que deve ser explorada e divulgada aos portugueses sobre as Damas Enfermeiras! Desta temática foi utilizado os estudos efectuados pelo Investigador João Esteves, Investigadora Natividade Monteiro, Fina D’Armada, Isabel Pestana Marques, Isabel Lousada, Maria Fernanda Rollo e Jornalista – Investigadora Fátima Mariano. Para além disso, houve um cruzamento entre a informação entre o Arquivo da Cruz Vermelha e o Arquivo Histórico Militar. Destaco os estudos existentes e o cruzamento de informação efectuado para os interessados da Grande Guerra e para o feminismo.
Ora, porquê é que as Damas Enfermeiras não são tão divulgadas como as Cruzadas das Mulheres Portuguesas, ou outra agremiação de índole republicana? A resposta advém do cenário político precoce de Portugal, em que o período que vai da implantação da República até ao eclodir da Grande Guerra era recente. A República precisava de fortalecer a sua posição internacional, não pretendia enaltecer uma iniciativa marcadamente católica ou monárquica.
terça-feira, 29 de maio de 2018
António Lima-de-Faria - 2
domingo, 24 de julho de 2016
O Prof. Lima de Faria falou em Cantanhede sobre genética
Lima de Faria é um cientista português emigrado há muitos anos na Suécia (é cidadão sueco desde 1954). Veio há dias á sua terra natal falar, na Biblioteca Municipal de Genética, Um agrupamento de escolas em Cantanhede tem o seu nome. Apesar da sua idade (nasceu em 1921) deu uma interessantíssima palestra sobre a história da genética, incluindo as suas contribuições, nem sempre ortodoxas (veja-se o título de um seu livro "Evolução sem Selecção"), e o muito que ainda está por descobrir.
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