quarta-feira, 31 de agosto de 2016




MAÇONARIA EM MACAU  -  3

DO BLOGUE

sexta-feira, 13 de março de 2015

CAMILO PESSANHA E A SUA FILIAÇÃO MAÇÓNICA NA LOJA LUÍS DE CAMÕES DE MACAU – PARTE III


Refira-se que passaram por Macau, aí trabalharam e viveram, muitos maçons vindos da metrópole, tais como Francisco Isidoro Guimarães [governador de Macau, na monarquia], Custódio Miguel de Borja [1849-1911; oficial da marinha, deputado, governador de Macau entre 1890-94, maçon com n.s. de “Nelson”, tendo feito parte do Grande Oriente de Portugal, do qual foi seu último Grão-Mestre]. Já depois da República registe-se José Carlos da Maia [n. Olhão em 1878-1921; oficial da Armada, maçon com n.s. de João Afonso (fez parte da cisão em 1914 no GOLU) e carbonário, deputado à Constituinte, governador de Macau entre 1914-1916, sidonista e ministro da Marinha, é assassinato na “Noite Sangrenta” de Outubro de 1921], [Francisco Gonçalves] Velhinho Correia [foi professor do liceu de Macau, eleito deputado de Macau em Lisboa, ministro em 1920 e 1923, tendo aderido ao Estado Novo; foi iniciado, em 1907, com o n.s. Padre Eterno, na loja Solidariedade, de Lisboa], o que deu, de algum modo, muito alento ao trabalho maçónico.
Na sequência da proibição da maçonaria pelo Decreto-lei nº 1901, de 21 de Maio de 1935, a triangulação das lojas, ordenado pelo GOLU, foi cumprida, também, em Macau. Pouco se sabe sobre o assunto, mas é adquirido que os irmãos se continuavam a reunir. Refira-se que se considera ter existido, nesse período, duas lojas em Macau, uma a Luís de Camões (GOLU) e outra constituída por cidadãos britânicos refugiados de Hong Kong, sob obediência da UGLE.


Da(s) Loja(s) Luís de Camões [houve alguns obreiros que transitaram da primitiva loja nº 309, mas a maioria, aqui citada, pertenceu aquela que levantou colunas em 1915, a nº383], de Macau, fizeram parte [segundo o parecer de 1935 da Câmara Corporativa que levou à extinção das Sociedades Secretas, a Loja Luís de Camões tinha “chegado aos 102 membros” – cf. Arnaldo Gonçalves, ibidem], com muita segurança, os seguintes obreiros:

Álvaro Cardoso Mello Machado [iniciado na Loja Liberdade, de Lisboa, foi Venerável da Loja de Macau em 1912; republicano, oficial da marinha, fundador do escutismo em Macau, foi governador-interino de Macau – nomeado a 9 de Dezembro de 1910, depois chefe de gabinete (1914) do governador-geral de Moçambique, administrador delegado nos caminhos-de-ferro de Benguela] | António Afonso de Carvalho (oficial da armada?) | António Antillos | António Antunes [co-fundador da Loja, militar e, depois, comandante da PSP] | António Augusto Pacheco [Venerável em 1909 – cf. Anuário GOLU de 1909, p. 126; foi oficial da repartição superior da Fazenda até 1911, passando depois, em Janeiro de 1911, a sub-inspector da Fazenda da Guiné] | Camilo Pessanha [foi Venerável da Loja – ver figura] | Carlos Borges Delgado (professor do Liceu Central de Macau, mais tarde Reitor; foi pres. do Leal Senado) | Constâncio José da Silva [co-fundador e Venerável em 1910 e, depois, em 1915, já exercendo o veneralato na segunda loja, com o nº 383; advogado e jornalista republicano; vice-presidente da Câmara, director do jornal anticlerical “A Verdade” e, depois, editor, proprietário e director d’O Liberal, 1922-23] | Damião Rodrigues [notário, advogado, pres. do Leal Senado e um ousado e combativo reviralhista; ousou enfrentar Artur Tamagnini Barbosa – então governador de Macau e membro da ditadura militar saído do 28 de Maio de 1926 – e por isso foi preso e deportado para Timor; curiosamente – ver AQUI – no seu posterior regresso a Macau coloca “na parede do átrio de entrada de sua casa um retrato de grandes dimensões do ex-líder do Partido Democrático Afonso Costa” e assim o “manteve bem patente em simbólico desafio à ditadura até à sua morte em 22 de Julho de 1942] | Domingos Gregório Rosa Duque [iniciado em Fevereiro de 1916, ascendeu ao 20.º grau em 1921, tendo sido Venerável da Loja; um dos sargentos do exército presentes no dia 5 de Outubro na Rotunda, ao lado de Machado Santos; enviado para o exílio em Angola, pelo incomodo que revelava na vida militar e política, porém mantém a sua rebeldia e irreverência, pelo que foi afastado da vida militar e enviado para novo exílio, agora em Macau; mais tarde foi reintegrado no exército, como capitão; jornalista e polemista notável, foi secretário do jornal “O Liberal”, dirigido por Constâncio José da Silva; em Fevereiro de 1923 é editor e director do semanário republicano “Combate”, jornal onde já depois do 28 de Maio de 1926, declara a sua filiação maçónica (grau 33.º) no artigo com o título A Maçonaria, os estudantes reaccionários e ‘A Pátria’; funda o periódico “A Voz da Macau”, 1931] | Elísio Tavares [nasceu em 1896 em Coja; foi farmacêutico e administrador do jornal “O Liberal”] | Francisco Hermenegildo Fernandes [1863-1923; co-fundador da Loja, republicano, tradutor no Supremo Tribunal de Hong-Kong e combativo jornalista; proprietário da tipografia Mercantil; foi amigo, apoiante e protector de Sun Yat-sen, futuro presidente provisório da República da China, dando-lhe guarida na sua casa, aquando da sua fuga de Cantão, tendo, depois, estado presente na recepção que Sun Yat-sen deu em Macau, em 1912, juntamente com outros republicanos e maçons (diz-se que Sun Yat-sen, foi recebido, como visitante, na Loja Luís de Camões, em 1913); pertenceu ao Leal Senado; foi director do jornal “Echo Macaense” (1893-1899), tendo em Abril de 1896 sido afastado pela Lei da Imprensa] | Francisco Xavier Anacleto da Silva [advogado, presidente do Leal Senado] | Henrique Lapa Travassos Velez [republicano, oficial da marinha] | Herman Machado Monteiro [n. Celorico de Basto 1899, republicano auto-exilado em Macau pelo golpe de 28 de Maio de 1926, proprietário e editor do “Jornal de Notícias” de Macau, um dos fundadores do Rotary Club de Macau] | João de Freitas Ribeiro (capitão de fragata) | João Silva [oficial da armada] | Joaquim Felizardo Adão Antunes [oficial do exército, prof. do Liceu Normal de Macau] | D. José da Costa Nunes [n. na Ilha do Pico em 1880, frequenta o liceu na Horta, depois o seminário episcopal da Terceira; parte para Macau em 1902 e trabalha nas missões de Malaca e Singapura; foi bispo da diocese de Macau (1920-40), um dos fundadores do jornal “Oriente” e do Instituto de Macau; foi professor, escritor e jornalista (escreveu sob pseud. em vários periódicos, como “A Voz”, “O Telégrafo” ou a “Vida Nova”; aderente ao Estado Novo, foi elevado a Cardeal em 1962, tendo falecido em Roma em 1976] | José Luís Marques [n. Braga 1862-m. Macau 1934; militar e presidente do Leal Senado: co-fundador da Loja] | José Vicente Jorge [n. Macau 1872- m. Lisboa em 1948; amigo pessoal de Camilo Pessanha, tendo sido seu testamenteiro; leccionou no Liceu Central de Macau e em várias outras escolas; intérprete-sinólogo – trabalhou na Legação de Portugal em Pequim e em Macau, em 1911 -, solicitador da comarca de Macau, tradutor e notável coleccionador de arte chinesa; a sua valiosa colecção foi vendida, ao que parece, para os Estados Unidos] | Mário de Campos Nery [n. 1890; funcionário das Obras Públicas] | Miguel Wagner Russell (Venerável em 1915 – cf. Boletim Oficial GOLU, Maio de 1909, p. 33), Rodrigo Marim Chaves [sargento, director do jornal “A Colónia” e da Imprensa Nacional de Macau] | Telo de Azevedo Gomes [n. 1892-1974; bacharel em Filosofia Natural pela UC; professor e co-fundador do Instituto de Macau] | Wenceslau de Moraes [1854-1929; oficial da marinha de guerra, prestou serviço em Moçambique, Macau, Timor; foi imediato do porto de Macau; pertenceu ao grupo de docentes que funda o Liceu de Macau; foi cônsul de Portugal em terras do Japão; notável escritor] – cf. ibidem; ver tb. João Guedes, AQUI]


Em 1961, Danilo Barreiros publica "O Testamento de Camilo Pessanha", obra relevante para a biografia do poeta Camilo Pessanha, onde divulga a sua filiação maçónica. Curiosamente, Marcelo Caetano [1 de Outubro de 1961] escreve a Danilo Barreiros, "lamentando que este ensaísta tenha divulgado a filiação maçónica de Camilo Pessanha. Em contrapartida, Vitorino Nemésio felicita inequivocamente o autor daquela obra" [AQUI]. Diga-se, ainda, que, a 7 de Setembro de 1967, a “Livraria Sá da Costa expõe vários espécimes bibliográficos de Camilo Pessanha, cedidos por Danilo Barreiros. Entre eles, encontrava-se um diploma da Maçonaria referente a Camilo Pessanha. Dois dias depois, a Polícia Política invadiu a editora, deteve um funcionário e apreendeu todo o material exposto, que só veio a ser recuperado mais tarde” [ibidem].
Fontes Principais: Albert MacKey, Encyclopedia of Freemasonry, 2002; Arnaldo Gonçalves, “A Primeira Republica, Macau e os Maçons”, rev da Maçonaria, nº2, 2012; [Daniel Pires, org.] “Homenagem a Camilo Pessanha”, Macau, 1990; Danilo Barreiros, “O Testamento de Camilo Pessanha”, Lisboa, 1961; Paulo Franchetti, “O essencial sobre Camilo Pessanha”, INCM, 2008; especial referência aos artigos (já citados) de Arnaldo Gonçalves e de João Guedes; ler também os 2 artigos de António Valdemar, "Camilo Pessanha faria hoje 100 anos. 'Águia de Prata'. Um inédito do poeta que se deixou devorar pelo ópio  para matar as 'violentas saudades", publicados no "Diário de Notícias" de 7 e 8 de Setembro  de 1967 [pela importância, mormente a questão dos inéditos apresentados e a evocação de Camilo Pessanha via a célebre montra da Livraria Sá da Costa e que envolveu a rápida intervenção da PIDE, voltaremos a este particular assunto].
J.M.M.
 
 
 CAMILO PESSANHA E A SUA FILIAÇÃO MAÇÓNICA NA LOJA LUÍS DE CAMÕES DE MACAU – PARTE II

Camilo Pessanha é iniciado na maçonaria, com o número 6980, a 27 (ou 29?) de Novembro de 1910, na Loja Luís de Camões II, nº 309 do GOLU, de Macau [Camilo Pessanha chega a Macau a 10 de Abril de 1894], com o n.s. de “Angélico”, ascendendo a 6 de Junho de 1916 ao grau 15.º e em 22 de Julho, desse ano, ao grau 18.º (Cavaleiro Rosa-Cruz); em 1918, tinha já o grau 25.º; a 15 de Setembro de 1919 ascende ao grau 30.º [os seus Irmãos são “José Vicente Jorge, Constâncio José da Silva e, eventualmente, Silva Mendes” - ver AQUI). Na loja teve o cargo de Orador (1911 – cf. Boletim Oficial do GOLU, Janeiro-Março, 1911, p. 31) e foi Venerável da Luís de Camões nº 383 (a loja reergueu-se em 1915, depois de abater colunas em 1914, daí o novo número de registo, conforme adiante referiremos).
[AO ALTO] “Um curioso documento assinado por Camilo Pessanha. É bem conhecida a filiação maçónica do poeta da ‘Clepsidra’ e o facto de ter pertencido à Loja Luís de Camões, de Macau, na qual desempenhou durante muitos anos o cargo de Vigilante (Presidente). Este documento comprova tal facto. Trata-se de um atestado em nome do oficial do exército Joaquim Felizardo Adão Antunes, datado de 19 de Outubro de 1918, selado e assinado por Camilo Pessanha, na qualidade de venerável, e por outros oficiais da loja” [via António Ventura Facebook]
A Loja Luís de Camões II, nº 309,
[tenha em conta que existia uma outra Loja com o mesmo Patrono, a Luís de Camões, a Oriente de Lisboa, que instalada em 1895 com o número de registo 195, mas que em 1902, quando regressa ao GOLU depois ter aderido ao Grande Oriente de Portugal, recebe o nº 226. Por outro lado, no que diz respeito à actividade de lojas maçónicas em Macau, diga-se que não há documentos conhecidos que refiram a existência de qualquer loja ou triângulo, anterior a 1906. Por isso a alusão a uma denominada Loja Luís de Camões de Macau, presumidamente a partir da Loja Lusitanea (1815), loja de exilados portugueses em Londres - onde era Venerável Hipólito José da Costa e debaixo dos auspícios da Grande Loja de Inglaterra -, não se pode confirmar. Conhecido é documentação avulsa de instalações de Lojas sob o domínio da Grande Loja da Suécia e de Inglaterra no Cantão, por volta de 1788, mas, curiosamente, nada nos é referido sobre a região de Macau.
Porém, alguns dos mais antigos (conhecidos) maçons residentes em Macau participaram activamente nos movimentos liberais do seu tempo, tendo mesmo fundado importantes clubes de reflexão política, social e cultural. De facto, no período anterior a 1906, em Hong Kong e em Macau, alguns prestigiados portugueses foram tidos como maçons. Como exemplo, o médico ateu, darwinista e republicano Lourenço Pereira Marques (1852-1911) e Polycarpo da Costa (1837-1884) gozavam de especial estatuto nos círculos maçónicos, principalmente de Hong Kong. É possível que L. Pereira Marques tenha sido iniciado antes do seu regresso a Hong Kong em 1882 (na Grande Loja de Dublin – 1877 ? -, cidade onde se diplomou, ou até mesmo em Portugal, numa das lojas pertences à Grande Loja Provincial do Oriente Irlandês, anteriormente a esta obediência integrar, em 1872, o GOLU); quanto a Polycarpo da Costa esta confirmado a sua filiação maçónica a partir da descrição do seu funeral, noticiado em periódicos da época, e pela simbólica presente no seu mausoléu. De igual modo seriam (?) maçons, José Osório de Castro Cabral e Albuquerque (1779-1857, governador de Macau, iniciado na Loja Audácia, de Coimbra em 1838, com o n.s. Leónidas – refª A.H. Oliveira Marques); Adrião Acácio da Silveira Pinto (17xx-1868, tenente-coronel e governador de Macau, entre 1837-1843, mais tarde governador de Angola, 1848-51); o Barão do Cercal, António Alexandrino de Melo (1837-1885 – ver mais em “Galeria de Macaenses Ilustres do século XIX”, de P. Manuel Teixeira, Macau, 1942, pp. 243-264); Assim sendo - e tendo em conta a difícil situação político-religiosa da época e o secretismo que se exigia - a existência de oficinas maçónicas, com influência ou auspícios de portugueses é hipótese a considerar – sobre esta questão e mais apontamentos acerca da Loja Luís de Camões, ver João Guedes, “Subsídio para a Historia da Maçonaria em Macau]
do REAA, foi instalada em 1909 e resultou da transformação do triângulo nº 90 [instalado pelo Decreto nº7 de 23 de Janeiro de 1906 – cf. Boletim do GOLU, Junho de 1907, p. 11], por iniciativa da loja maçónica de Coimbra, Pro Veritate. A sua acção em Macau é determinante na “proclamação da República”, tendo pertencido à loja um número significativo de militares, advogados, funcionários públicos e jornalistas.
Abateu colunas em 1914 (José Bernardo Ferreira, na sua obra “Maçonaria Universal”, 1921, à p. 156, refere a data do Decreto de dissolução, o dia 2 de Março de 1915). E no ano de 1915 [Decreto nº13, de 8 de Abril de 1915] reergueu colunas [“sem os elementos indesejados” – cf. Arnaldo Gonçalves, “A primeira República, Macau e os Maçons”, Revista da Maçonaria, nº2, Fevereiro de 2012, p. 84] agora com o número de registo nº 383, mantendo-se em actividade até à clandestinidade – refª A.H.O.M., in Dicionário … – sendo que em 1947, ainda havia notícias que se mantinha em trabalho [sobre o surgimento da Maçonaria em Macau, a Loja Luís de Camões, o seu quadro, bem como o percurso maçónico de Camilo Pessanha, consultar o excelente artigo de Arnaldo Gonçalves, ibidem; de igual modo, cf. João Guedes].
 
 
 
 
 

terça-feira, 30 de agosto de 2016










MAÇONARIA EM MACAU  -  2




















segunda-feira, 29 de agosto de 2016







MAÇONARIA EM MACAU  -  1


   
segunda-feira, 6 de outubro de 2014


Maçonaria no 5 de Outubro em Macau
Muito se tem escrito sobre o papel da Maçonaria na implantação da República em Portugal e também no papel decisivo que a Carbonária nela terá desempenhado como braço armado da primeira. Todavia, para além de uma ou outra referência bibliográfica, não é muito o que se sabe da acção destas organizações na instituição do regime republicano em Macau
É certo que os dados escasseiam (mesmo em Portugal), mas do que se conhece pode concluir-se que a Maçonaria também aqui desempenhou papel equivalente ao da sua congénere da “Metrópole”. O mesmo não se poderá dizer da Carbonária. Sobre esta associação secreta a bibliografia não se pode considerar abundante, mas pelo menos existem alguns trabalhos, de certo detalhe, identificando-a essencialmente como o “exército civil” que apoiou os heróis da Rotunda nos acontecimentos que culminaram no dia 5 de Outubro de 1910. Um dos seus chefes era o próprio Machado dos Santos. O outro era Carlos da Maia  que viria a governar Macau em 1914. Todavia, sobre a organização no Território o silêncio é absoluto.

Embora a história de associações desse género seja sempre difícil de fazer dado o grau de secretismo de que se rodeavam pode dizer-se, com razoável certeza, que o silêncio que reina se deve apenas ao facto da organização não ter existido de todo na então colónia portuguesa da China, pelo menos nesse período.
A única referência à Carbonária em Macau diz respeito à estada na cidade de cinco dos seus elementos presos por subversão em Portugal que para aqui foram exilados em 1898. Os cinco teriam, pouco depois da chegada, tentado aliciar alguns militares no sentido de sublevar a guarnição, prender o Governador e proclamar a República.
A tentativa fracassou e os cinco voltaram a ser detidos cumprindo o resto da pena de exílio a que tinham sido anteriormente condenados, mas agora mais longe ainda, ou seja em Timor. Refira-se todavia que o relato destes factos se baseia apenas em alusões breves sem citação de fontes reproduzidas nalguma bibliografia relativa à história do movimento anarquista em Portugal e nada mais.
 No que toca à Maçonaria o caso é bem diferente. A sua acção em Macau está relativamente documentada graças ao trabalho de investigação de alguns autores com destaque para o historiador A. H. de Oliveira Marques.
Assim sabe-se hoje que o papel dos “pedreiros livres” na colónia portuguesa, reunidos em torno da “Loja Luís de Camões” foi decisivo não só na proclamação da República, como posteriormente no afastamento da elite dirigente monárquica e na consolidação do novo regime.
De facto a “Loja Luís de Camões” incluía no seu seio um grande número de funcionários públicos de todos os escalões, militares da marinha e do exército, para além de advogados, engenheiros e jornalistas, ou seja o escol da colónia. Assim não é de admirar que o próprio ajudante de campo do último governador monárquico (Eduardo Marques) Álvaro de Melo Machado tenha sido escolhido para o substituir dois meses depois da proclamação do regime republicano.
Melo Machado era maçom desde 1907 tendo aderido nesse ano à loja lisboeta “Liberdade”. Aqui chegado passou, naturalmente a integrar-se nos quadros da “Loja Luís de Camões”. Para além deste à mesma loja pertenciam também, outros vultos que desempenhariam papel fulcral no rumo político que o Território haveria de tomar no futuro.

Entre muitos conta-se com particular destaque a figura bem conhecida de Constâncio José da Silva, advogado jornalista e polemista, proprietário e redactor do jornal “A Verdade” que esteve na primeira linha do republicanismo na campanha pelo afastamento das figuras de proa da monarquia. Constâncio inspirou nomeadamente o levantamento das tropas que cercaram o Palácio da Praia Grande e obrigaram à ponta das baionetas o governador Eduardo Marques a publicar as novas leis da república que insistia obstinadamente em guardar na gaveta.
Outro jornalista que ficaria para a posteridade pelas suas relações de medianeiro entre os revolucionários republicanos chineses e as autoridades locais, amigo pessoal de Sun Yat sem  (fundador da República da China) e igualmente redactor e proprietário de vários jornais era Francisco Hermenegildo Fernandes, figura sobre a qual muito se tem escrito e de quem ainda hoje pouco mais se sabe a não ser o que ele próprio de si deixou publicado. O mais pode resumir-se à frieza de um currículo constante na “Repartição dos Assuntos Sínicos” onde era tradutor e os dados oficiais inclusos nos autos que contra si foram levantados pelos tribunais em diversos processos por alegado abuso de liberdade de imprensa que contra si foram movidos.
Com menor destaque, mas não menos eficácia política salientou-se também o coronel José Luís Marques, dos fundadores da maçonaria organizada em Macau que ocuparia durante largos anos a presidência do Leal Senado.
Igualmente pouco citado, mas bem inserido nos centros de decisão encontrava-se o seu camarada de armas António Antunes, igualmente co-fundador da “Loja Luís de Camões”, que nos anos subsequentes a 1910 comandaria a Polícia de Segurança Pública.
Outro advogado de renome e republicano estrénuo pertencente à mesma loja era Damião Rodrigues, personalidade cujo perfil já abordei aqui em anteriores artigos igualmente devido às suas ligações estreitas à revolução republicana da China e também pelo combate desassombrado que travou, especialmente, contra a ditadura do “Estado Novo” de Salazar, já numa fase adiantada da sua vida.
Para além dos nomes citados muitos outros o poderiam ser. O poeta Camilo Pessanha, que dispensa biografias, mesmo maçónicas, que outros já fizeram e com pormenor, seria um deles. Deste destaque, necessariamente limitado, fica excluído Rosa Duque *, porventura um dos mais combativos jornalistas republicanos de Macau, que com a aproximação do golpe de 28 de Maio de 1926 chegou a anunciar na primeira página do jornal “O Combate” a sua filiação maçónica e o alto grau de que era detentor naquela organização iniciática. A exclusão deve-se apenas ao facto de no momento em que a república se instaurava nos confins do Oriente, se contar entre os sargentos que na Rotunda, de armas na mão, com Machado Santos, sofriam o cerco e as arremetidas das tropas fieis a D. Manuel II comandadas por Paiva Couceiro.
Este breve artigo não ficaria completo sem uma referência curiosa que parece subscrever o dito do rei D. Carlos segundo o qual “Portugal era uma monarquia sem monárquicos”. Seria? Não se sabe! O que se sabe é que, em Macau, Bernardino de Senna Fernandes, 2º Conde de Senna Fernandes, tal como o ex-realista seu homónimo, Presidente Bernardino Machado, era já maçom e republicano numa época em que a monarquia vigorava em pleno e a República não passava de um ideal cuja concretização até entre os seus correligionários gerava dúvidas.
 
Artigo de João Guedes, Jornalista/Investigador publicado no JTM a 5-10-2010.

*nome completo: Domingos Gregório da Rosa Duque: terá alterado o nome por causa da causa maçónica


 
 
Do Blogue 
 
 
Subsídio para História da Maçonaria em Macau


A história da Maçonaria, em Macau, tem início oficial e formal em 1909 ano em que a “Loja Luís de Camões II” sob a égide do GOL ergueu Colunas.
Segundo o historiador Oliveira Marques, a “Loja Luís de Camões”, resultou da instalação anterior de um triângulo do REAA, da iniciativa da loja “Pró Veritate” de Coimbra, com o Nº.90. Todavia a história da Ordem em Macau remonta a mais de um século antes do início regular de actividades da “Loja Luís de Camões”.
De facto, a data apontada para a Chegada da Maçonaria A Macau é a segunda metade do ano de 1759, com a vinda do navio “Prince Carl” da Companhia Sueca das Índias Orientais.
Os maçons que aportaram nesse navio traziam uma carta patente que lhes permitia reunirem-se em loja em qualquer porto a que atracassem. E assim o fizeram.
Segundo relatos históricos subscritos e publicados, nomeadamente, pelo Zetland Hall de Hong Kong, essa primeira loja laborou em Cantão, na China.
Embora aceitando tal informação como boa, atribuindo a Cantão o primeiro local de labor maçónico regular no Extremo Oriente, parece-nos que a história oficial (de fontes inglesas) contém uma omissão que deve de ser corrigida.
Efectivamente, ainda que não se conheçam documentos comprovativos, tudo leva a crer que a tal loja constituída por comerciantes e marinheiros suecos, não só funcionou, como poderá mesmo ter funcionado antes, em Macau. Isto pelos seguintes factos:
Primeiro, porque todos os navios estrangeiros que demandavam à China, nessa época, tinham que, obrigatoriamente, aportar inicialmente, a Macau, local onde aguardavam, por vezes muitos meses, autorização para entrar no porto da vizinha capital da província de Cantão.
Emblema da “Companhia Sueca das Índias Orientais, a que pertencia o navio “Prince Carl”, a bordo do qual viajavam maçons autorizados por “carta patente”, a reunir em loja em qualquer porto onde aportassem.
Segundo, porque todos os estrangeiros autorizados a comerciar em Cantão apenas ali podiam permanecer metade do ano, passando a outra metade em Macau.
Tendo em conta o que se disse parecem restar poucas dúvidas de que Macau foi o primeiro porto de acolhimento da Maçonaria na China, “malgré tout”.
Nesta ordem de ideias pode afirmar-se com algum grau de segurança que a Loja “Amity” com o número 407 que consta da lista de oficinas pertencentes à "Primeira Grande Loja de Inglaterra" do ano de 1768, funcionou de facto em Macau.
As actividades desta loja Estão escassamente documentadas, sabendo-se apenas que cessou a sua existência em 1812, por falta de pagamento do dízimo regularmente devido à loja mãe de Inglaterra.
Acresce ainda dizer que um interessado (Mike Earn, 4104), nos fez chegar a informação de que existe uma obra publicada no início do século XX, ou finais do século XIX, denominada “ Free Masonry In China”, em que o autor afirma que a referida loja, reunia de facto em Macau (no entanto até agora ainda não conseguimos descobrir nos alfarrabistas e bibliotecas tal obra.
A “Amity” deixa de surgir na lista das lojas da “Premiere Grand Lodje of England” na referida data de 1812, não se sabendo, ao certo porquê.
Depois da "Amity", não se conhece qualquer documento, ou fonte segura que refira a existência de qualquer outra loja, ou triângulo em Macau, durante a primeira metade do século XIX.
Existe, todavia notícia de que obreiros, provavelmente de origem americana se reuniam regularmente numa oficina pertencente à "Grande Loja do Alabama". Não se sabe no entanto em que época do século XIX tal loja operou, quando ergueu, ou quando abateu colunas.
A ausência de documentos explícitos, ou oficiais oculta a existência regular da Maçonaria em Macau, durante esse período. Todavia tal facto não significa que a Maçonaria organizada tenha estado ausente da vida do território.

Bocage e a Sociedade da Rosa

De facto se não se pode falar de Maçonaria na acepção formal, pode falar-se de maçons que viveram e trabalharam em Macau, desde pelo menos a segunda metade do século XVIII, deixando, algumas marcas relevantes da sua passagem.
Manuel Maria Barbosa du Bocage, o célebre sonetista foi um deles. A propósito da sua figura podemos dizer que teria mesmo introduzido, ou pelo menos integrado durante a sua passagem pelo território, uma denominada “Sociedade da Rosa”, instituição andrógina para-maçónica, que tinha como grã-mestra a poetisa portuguesa Marquesa d'Alorna.
“A Sociedade da Rosa” seria desmantelada pelo intendente Pina Manique, que apreendeu os documentos da organização, que se encontravam na posse da Marquesa no seu palácio de Benfica, então arredores de Lisboa.
A ofensiva do célebre intendente da polícia de D. Maria I, levou ao exílio a Marquesa e à prisão vários elementos da sociedade, entre os quais se contavam, para além de Bocage, o compositor João Domingos Bontempo, para além de outras personalidades das artes e das letras da época.
À “Sociedade da Rosa” pertencia também o poeta de origem brasileira, Lucas José de Alvarenga, que foi por duas vezes governador de Macau e que era um protegido do Conde de Sarzedas. Este aristocrata da alta nobreza pertencia também à mesma sociedade e tal como a Marquesa de Alorna sofreria as consequências.
Alorna foi exilada para Inglaterra. Sarzedas, cujo prestígio e influência era demasiado grande para ser pura e simplesmente expulso foi abrigado a aceitar o governo da Índia (uma forma de o afastar para longe de Lisboa por muitos e bons anos) ainda que esse exílio fosse politicamente dourado com a concessão do título de vice rei, que já não era utilizado há muito e que episodicamente com ele foi retomado
Neste ponto convém esclarecer que em Macau o principal protector de Bocage foi Lázaro da Silva ferreira o Ouvidor da cidade. Esta figura conquanto não existam documentos probatórios parece ter sido igualmente maçom.

A Maçonaria e o Liberalismo

Após um hiato de cerca de duas décadas, a palavra Maçonaria irromperia a público em Macau, cerca do ano de 1821.
Seria então que, os ecos da revolução liberal portuguesa de 1820, chegariam a Macau, fazendo submergir o Território numa profunda crise política, agravando por seu turno a crise económica em que o Território se encontrava já mergulhado, desde as três, ou quatro décadas anteriores.
Sem pretender historiografar detalhadamente a época, pode dizer-se de uma forma sintética que Macau se dividiu em dois partidos.
Um constituído pelas forças institucionais civis e militares ligadas ao governo português do Território.
O outro constituído por figuras locais congregadas em torno do Leal Senado e da Santa Casa da Misericórdia, agregando também figuras civis militares e eclesiásticas descontentes com o governo vigente, que, diga-se, dadas as reduzidas dimensões da comunidade, não eram outras senão o governador e o juiz de direito (este que na altura era oficialmente designado por ouvidor e cujas competências excediam largamente as de um magistrado ordinário).
A crise redundou numa sucessão de distúrbios que levaram à detenção do governador e do ouvidor, bem como à destituição da antiga vereação do Leal Senado e convocação de eleições que produziram uma câmara municipal que, em nome do liberalismo, suspendeu todas as relações com o governo de Goa (a que Macau estava submetido) transformando durante cerca de um ano Macau numa república virtualmente independente.
Surgiam amiúde referências públicas à acção “nefasta” da Maçonaria em Macau, em papeis volantes distribuídos nas ruas, mas também na oratória eclesiástica do Bispo da Diocese D. Frei Francisco de Nossa Senhora da Luz Chacim e dos párocos que consigo estavam na defesa dos poderes instituídos.
Nesse contexto dir-se-ia que de um lado estava o Bispo, o Ouvidor e o Governador e do outro os “malfadados” pedreiros livres. Todavia tal asserção simplista estava longe de corresponder à verdade.
Se nada se sabe sobre qualquer eventual filiação maçónica dos rebeldes “independentistas” do Leal Senado e da Santa Casa, capitaneados pelo tenente-coronel Paulino da Silva Barbosa, sabe-se de facto que o governador José Osório de Castro Cabral e Albuquerque, tido como reaccionário relapso e por isso preso e enviado para Goa a ferros talvez o não fosse tanto assim.
De facto, consultando a documentação existente verifica-se que o governador Albuquerque, aliado do Bispo Chacim é que era de facto maçon. Albuquerque, que tinha o nome simbólico de “Leónidas”, ascenderia nos graus filosóficos da ordem em Portugal, nas lojas “Audácia” de Coimbra e “Firmeza” de Lisboa. No mundo profano ficaria destacado como redactor do periódico conservador “Rei e Ordem”, terminando a sua carreira militar como fidalgo da Casa Real e tenente-general do exército. Com ele, em Macau estavam o comerciante macaense, Gonçalves Serva entre outros.
No campo liberal conhece-se apenas como maçom, o nome de António de Holanda Cavalcanti, preso pela pelos absolutistas, na sequência do desembarque de uma força naval comandada pelo capitão de mar e guerra Garcez Palha, que acabou com a revolta municipal de Macau e repôs a velha ordem em Macau, em 1822. Cavalcanti, figura que se destacaria posteriormente no Brasil como deputado e ministro sobraçando diversas pastas, teve o encargo de representar o “Grande Oriente de Portugal” junto da Maçonaria Brasileira, em 1858.
Face ao que ficou dito não podem restar dúvidas sobre a importância e influência da Maçonaria em Macau na década de vinte do século XIX.
Apesar das bulas papais condenatórias, dos sermões inflamados do Bispo diocesano e dos papéis volantes contra os pedreiros livres, certo é que a Maçonaria estava dos dois lados. Falta saber se actuava regularmente em lojas separadas consoante o pendor ideológico, se, se cindiu durante a crise, ou se a militância ideológica profana que separava liberais e conservadores correspondia no seio da Ordem a diferentes obediências.
Neste ponto há que salientar que a “Abelha da China” periódico porta-voz dos liberais surge com regularidade contendo artigos laudatórios das excelências políticas e sociais dos Estados Unidos da América.
Esse facto poderia sugerir uma ligação de índole maçónica à América. Isto tanto mais quanto se tiver em conta o facto da presença americana em Macau, nesses tempos ser expressiva e a possibilidade (bastante forte) de uma loja do Alabama ter funcionado no Território nessa época.
Porém e por enquanto, tal asserção não passa ainda de pura especulação que necessita investigação ulterior mais apurada, nomeadamente nos arquivos da Maçonaria americana.

Uma “Loja Luís de Camões” antes da “Loja Luís de Camões”?

Consumada a reocupação absolutista de Macau em 1822 e concluída a normalização política liberal nos anos subsequentes ao termo da guerra civil portuguesa (1834) verifica-se que os governadores de Macau seguintes a Adrião Acácio da Silveira Pinto (com ele incluído) seriam quase todos (senão mesmo todos, diríamos!) maçons.
Apesar dessa constatação porém, nada consta oficialmente, sobre a operância institucional da Maçonaria em Macau
Apenas na segunda metade do século XIX existe notícia de que uma loja denominada “Luís de Camões” teria erguido colunas em 1872, sob a égide da “Loja Lusitânia”, fundada em Londres, na primeira década do século XIX por emigrantes portugueses. A referida “Lusitânia”, foi reconhecida pela “Grande Loja de Inglaterra”, recebendo um número de ordem. Sobre a existência de tal oficina nada sabemos. Todavia não será despiciendo recordar que à data pontificava em Macau, António Alexandrino de Melo, segundo barão do Cercal. Esta figura macaense cosmopolita e poliglota (falava, fluentemente inglês, francês, italiano e chinês). Licenciou-se em engenharia em Inglaterra, e posteriormente cursou belas artes em Itália. Em Macau foi autor de alguns dos edifícios que ainda hoje marcam a silhueta da cidade, nomeadamente o Palácio da Praia Grande, Cemitério de S. Miguel, Quartel dos Mouros e Clube Militar. Este último inaugurado em 1871, possui, se assim se quiser entender arquétipos maçónicos na sua estrutura, nomeadamente na actual sala de estar que ostenta duas colunas embutidas na parede à direita. Teria sido António Alexandrino de Melo o instaurador da desconhecida loja “Luís de Camões”? Não se sabe, mas apenas se pode inferir.
António Alexandrino de Melo, arquitecto de alguns monumentos mais representativos do século XIX macaense. Poderá descobrir-se no seu traço uma filiação maçónica indiscutível?

Concluído este parêntesis obscuro surge o momento de sublinhar que apesar da pressão da Igreja Católica e dos poderes instituídos sobre a Maçonaria, certo é que se verifica que a maior parte dos governadores, altos e médios funcionários do governo de Macau foram maçons, principalmente a partir da década de trinta do século XIX. Podemos citar, entre outros, Adrião Acácio da Silveira Pinto, Lobo de Ávila, Conselheiro Borja e outros mais que irrompem pelo século XX.

Maçons do Século XX

No século XX surge a História, indubitável, sem lacunas nem “setentriões”. A loja “Luís de Camões” ergue colunas, em 1909.
E quem foram os obreiros dessa tarefa que iria laborar intensamente ao longo de 32 extraordinários anos de Macau?
Alguns escolhidos o foram! Porém há que render homenagem aos pioneiros conhecidos, alguns dos quais a história maçónica pouco liga e a história de Portugal por inteiro oblitera.
O primeiro é sem dúvida Constâncio José da Silva.
Nascido em Xangai, onde morreria, Constâncio José da Silva terá sido o principal obreiro que ajudou a erguer as colunas à força de ombros no mundo reservado da Ordem e que no universo profano as consolidava batalhando com a sua pena inquieta nos jornais que fundava e dirigia pela liberdade, igualdade e fraternidade em Macau.
A loja “Luís de Camões”, se não lhe deve a fundação, pelo menos lhe deve a consolidação.
Juntamente com Constâncio, surgem, metendo ombros à obra nomes de renome, local e também sonantes no mundo lusófono.
Rosa Duque seria um, Camilo Pessanha outro.
O primeiro, sargento da Rotunda no 5 de Outubro de 1910, desterrado para o então ultramar português, ver-se-ia destituído de méritos militares pela política pós republicana, tendo que perfazer o trajecto de Angola a Macau para recuperar aqui, não só as divisas de sargento perdidas, mas o merecimento do posto de capitão pelo qual, “João Afonso” (nome simbólico do republicano governador de Macau, Carlos da Maia), não teve medo de interceder junto das instâncias de Lisboa para o restituir à dignidade militar perdida, tão constante “obreiro” que, morreria com a sua loja em Macau nos alvores dos anos trinta do século passado, quando a Maçonaria estava em vias de ser ilegalizada pela ditadura do “Estado Novo”, expressando em letra de forma no jornal “O Combate” que dirigia a sua alta condição de Cavaleiro Rosa Cruz, grau 33 do REAA.
Camilo Pessanha, o poeta paradigmático do simbolismo português foi outro companheiro que meteu ombros à tarefa da Ordem e só esmoreceu quando feito “Cavaleiro do Oriente e do Ocidente” (grau 17) a morte nefelibata lhe sobreveio em 1926 (pouco ante de deixar este mundo seria elevado ao grau 19).
Outro ainda foi D. José da Costa Nunes, Bispo de Macau, Patriarca das Índias e Camarlengo da Santa Sé. Figura de projecção ecuménica. Optou pela condição de “absência” preferindo queimar, antes de morrer, todos os documentos que lhe relatavam a vida a deixar-se biografar, por quem quer que fosse.
Vicente Jorge, tradutor insigne, coleccionador de arte em porcelana chinesa foi ainda nome que meteu ombros à tarefa de “polir a pedra bruta”, com tanto merecimento quanto pouca paga da história.

Um maçon macaense pilar da ponte republicana entre Portugal e a China
No entanto de entre todos os mencionados e outros que ficaram por mencionar neste resumido trabalho, um nome se releva acima de todos os outros, não pelo que se saiba dele, mas sim pelo que não se sabe.
Não porque tenha publicado obra (dele conhecem-se apenas traduções anónimas de actas de tribunais de Hong Kong e traduções de ofícios da Repartição dos Assuntos Chineses de Macau), para além de artigos de nos jornais que dirigiu.
Não porque tenha deixado marca na vida social ou política de Macau, (foi vereador do Leal Senado durante um mandato e nas actas nada consta que tenha dito durante esse período de vida pública de relevante memória).
A sua vida, tal como o seu grau na Ordem constitui, um dos mais paradigmáticos mistérios da Maçonaria em Macau e também da história profana.
O seu nome consta de uma rua de Macau no NAPE, todavia quem sabe porque lhe foi dado nome de rua se não consta da galeria de pessoas ilustres de Macau e apenas é citado “en passant” nas monumentais obras de Monsenhor Manuel Teixeira, que publicou mais de cem livros, constando que neles não deixou de fora nem nome, nem coisa, nem acto nem omissão dos últimos quatrocentos anos de Macau sobre os quais é possível fazer história.
Chamava-se Francisco Hermenegildo Fernandes e merece ser lembrado no seio da Ordem e no mundo profano. Diria que esse irmão foi um seguidor do Tao, já que pelo não fazer influiu de forma indelével nos caminhos da história contemporânea de Macau e principalmente da China.
Como e até que ponto influiu não se pode saber. È, um mistério.
Um mistério tão insondável como o facto de dele não constar uma única fotografia, nem na campa do cemitério de S. Miguel, onde repousa, nem nos arquivos de identificação do Governo.
A sua biografia encontra-se resumida apenas, no Arquivo Histórico de Macau num processo constante de cinco folhas A4 datilografadas, como segue:
Francisco Hermenegildo Fernandes, nascido a 2 de Fevereiro de 1863. Intérprete no Supremo Tribunal de Hong Kong de 1886 a 87. Fluente em inglês, português (naturalmente) e dominador de diversos dialectos chineses, nomeadamente cantonense e mandarim.
Foi o primeiro classificado com 16 valores na admissão ao quadro de “língua da Repartição dos Assuntos Sínicos de Macau, lugar para que foi nomeado em Agosto de 1919.
Tudo isto frio, como todos os processos burocráticos das repartições do estado. Mas para além dos ofícios esconde-se a figura invulgar que foge à burocracia e aos estereótipos.
De facto, Francisco Fernandes, foi em Macau o principal apoio das correntes que procuravam restituir a China à dignidade, derrubando uma dinastia corrupta e despótica que cedia à partilha das potências coloniais que a procuravam talhar em esferas de influência, que inevitavelmente a retalhariam em nações artificias tal como tinham retalhado África na conferência de Berlim de 1884.
Nesse contexto Francisco Fernandes, gerente da tipografia do Pai, Nicolau Tolentino, dá abrigo a Sun Yat-sen nas páginas do seu jornal, “O Echo Macaense” que publicava em português e simultaneamente em chinês sob o título “Ching Hai Iat Pou”.
O encontro entre os dois dura, pelo menos, uma década, entre Macau e Hong Kong, até ao fatídico ano de 1895.
Sun Yat -sen, abandona no ano anterior Macau estabelecendo-se em Cantão a fim de preparar a revolta contra a ditadura imperial “manchu”. Mas a revolta falha redondamente. Sun Yat-sen escapa por um “triz” de ser decapitado, tal como o foram dezenas dos seus correligionários.
Foge para Macau numa cadeirinha, disfarçado de mulher e encontra um único abrigo. A casa de Francisco Fernandes.
Por seu turno Francisco Fernandes usando de todas as influências que possui consegue que o governador Horta e Costa, faça vista grossa à presença em Macau do perigoso revolucionário, mas instrua a polícia no sentido de responder aos pedidos de captura do Vice Rei de Cantão afirmando desconhecer que o procurado se encontrasse no Território. O caso não foi simples, já que a polícia imperial de Cantão actuava oficiosamente em Macau e sabia muito bem que Sun Yat-sen se encontrava na cidade. Porém, o desconhecimento oficial do governo e da polícia macaense constituía uma barreira inacessível que se entrepunha entre o totalitarismo “manchu” e os mecanismos judiciais independentes em vigor em Macau. E foi assim que Francisco Fernandes, conseguiu manter escondido o seu amigo Sun, em Macau, o tempo suficiente para lhe arranjar passagem num junco de pescadores para Hong Kong e dali para o Japão onde ficaria a salvo da sanha imperial.
Nos dezasseis anos seguintes, Francisco Fernandes e Sun Yat Sen não se voltariam a ver. Mas em 1911, Francisco Fernandes, logo após a revolução republicana da China escreve a Sun Yat-sen, felicitando-o pela sua elevação a Presidente da República inquirindo-o sobre se pertence a “ essa fraternidade universal (Maçonaria) e em caso afirmativo, qual a melhor forma de consigo comunicar”. Essa carta consta dos arquivos de Pequim e é datada de Macau, aos 11 de Janeiro de 1912, constituindo documento original e indesmentível. Francisco Fernandes era maçon e possuiria poucas dúvidas de que Sun Yat-sen o fosse também.
A resposta de Sun Yat-sen à carta de Francisco Fernandes não se conhece.
Constará dos arquivos de Pequim, não constará? Talvez sim talvez não...ou talvez não convenha divulgar a resposta.
Posteriormente, Francisco Fernandes demonstra continuar a dispensar apoio a Sun Yat-sen através do recrutamento em Macau de voluntários para integrar as forças militares do líder republicano que visava reunificar a China dividida pelos senhores da guerra. Essa carta manuscrita por Francisco Fernandes tem a data de 19 de Janeiro de 1919.
Seja como for, certo é que o quase anónimo, Francisco Fernandes viria a ser proposto num dos primeiros actos de estado de Sun Yat-sen como (na sequência da revolta vitoriosa de 1911) para ocupar o cargo “ad honorem” de ministro da China. Diz-se que Francisco Fernandes não aceitou tal honra preferindo manter-se no seu pequeno anonimato de Macau.
Em finais de 1912, Sun Yat-sen, resignou do cargo de Presidente da República em favor de Yuan Chi Kay, retirando-se, provisoriamente da ribalta politica para umas férias de saudade na sua província natal.
Foi então que regressou à Macau da sua juventude em Junho de 1913. Foi então também que reencontrou o seu amigo Francisco Fernandes.
Uma fotografia oficial da ocasião mostra Sun Yat-sen no jardim de Lou Kao sentado em pose e tendo à sua volta em duas filas a gente grada da cidade, entre as quais se contam alguns maçons (destacadamente Camilo Pessanha).
Outra fotografia exibe o presidente cessante no hospital de Kiang Wu, Para além das fotos sabe-se que Sun Yat-sen assistiu a um arraial junto à Igreja de S. Lázaro (provavelmente no dia 24) com a comunidade portuguesa de Macau que tão mal o tinha tratado, nos tempos em que exerceu medicina na colónia, nos idos da década de 80 do século XIX e em que acabou por ser expulso, por motivos étnicos escondidos sob a capa legalista de que não possuía um diploma de medicina passado por uma universidade portuguesa. Sun Yat-sen licenciou-se pela Escola Médica de Hong Kong). Mas para além das crónicas e das fotografias oficiais sabe-se de tradição passada de boca em boca que Sun Yat-sen terá sido recebido como visitante na “Loja Luís de Camões” durante os curtos dias de visita que efectuou a Macau nesse distante Junho de 1913.
Quanto à possibilidade de Sun Yat-sen ter sido iniciado na “Loja Luís de Camões”, tal hipótese parece-nos fora de causa.
Segundo alguns investigadores, nomeadamente Sterling Seagrave, Sun Yat-sen pertencia à sociedade chinesa “Céu e Terra” vulgarmente conhecida por “Tríade” em que foi iniciado na sua terra natal de Cheong San, depois de concluídos os seus estudos secundários no Havai e decidiu regressar à China. Posteriormente, é um facto ligou-se directa, ou indirectamente a outras associações secretas de índole exclusivamente chinesa
Todavia que Sun Yat-sen foi iniciado na Maçonaria, é outro ponto que não deixa dúvidas, mas sobre essa questão apenas poderíamos interrogar o maçon, James Manson, professor da Escola Médica de Hong Kong, que biografou Sun Yat-sen, mas que nada deixou dito em linhas ou entrelinhas sobre a sua faceta esotérica.
Independentemente das dúvidas sobre a filiação de Sun Yat-sen, nesta ou naquela obediência, nesta ou naquela loja, estamos convencidos de que se os responsáveis pelos arquivos da Grande Loja de Inglaterra puderem ultrapassar constrangimentos de ordem política, ou questões de oportunidade, ficaremos a saber, então qual a loja que iniciou o primeiro presidente da República da China.
Relativamente a Francisco Fernandes, apesar de todos os esforços de investigação, do facto de possuir um jornal, ter escrito inúmeros artigos, ter sido alvo de processos judiciais que constam dos arquivo de Macau, ter integrado o Leal Senado como vereador e ter sido juiz de paz, uma espessa nuvem de mistério continua a pairar sobre ele.
Concluído este parêntesis sobre maçons ilustres resta apenas recordar a figura de Herman Machado Monteiro, o último obreiro da Loja Luís de Camões cuja biografia poderia iluminar a “obra da Ordem” em Macau, se do seu espólio privado tivesse restado alguma coisa. Porém, parece que a tão famigerada “formiga branca” esperava apenas o abater de colunas da “Loja Luís de Camões”, para destruir até à medula os fragmentos de uma história recente ingloriamente perecida.
Resta ainda referir alguns maçons do século XX que se destacaram e foram reconhecidos por isso.
Rodrigo Rodrigues, governador de Macau, ministro em vários governos da República, que dá nome a uma avenida da cidade.
Travassos Valdez oficial de marinha, autor de diversos livros e cidadão benemérito de Macau, cujo retracto se encontra na sala de sessões do antigo Leal Senado.
Carlos da Maia, governador e fundador da República.
Maia Magalhães, Governador de Macau e herói de Chaves nas lutas contra a reacção monárquica de Paiva Couceiro.
Velhinho Correia, secretário-geral do governo de Macau, deputado por Macau em Lisboa e ministros em vários governos da República.
Joaquim José Machado que participou nas conferências sobre a delimitação de Macau (1909-1910)
 
Artigo da autoria de João Guedes, jornalista e investigador.










 
 

domingo, 28 de agosto de 2016



Emigrados políticos no sul de França (1930)
 Da esq. para a dir. - Jaime Morais, com um dos filhos,
César de Almeida, não identificado,
 Aquilino Ribeiro, Bernardino Machado,
Agatão Lança e Nuno Cruz 

Num anterior blogue recordei NUNO CRUZ  -  clicar aqui



Acabo de ler o texto "História e Memórias: oitenta anos do 3 de Fevereiro de1927" escrito por Heloísa Paulo para o livro - "MEMÓRIA das OPOSIÇÕES (1927-1969), donde transcrevo as referências à participação de Nuno Cruz na revolta do Porto.























 
 

 
 
 


Retirámos, com a devida vénia, do portal da Torre do Tombo
    

 
 
 
 


 
 


Retirámos, com a devida vénia,
do portal do Arquivo Histórico Militar