domingo, 31 de agosto de 2014



Para que os jovens não esqueceçam o chamado "Estado Novo"!

Para o João Paulo Gonçalves, amigo querido, com um abraço apertado!

Aquilino Ribeiro - óleo de Abel Manta
Ao acabar de reler o texto de António Valdemar  -  "Aquilino e Salazar" ,   lembrei-me de transcrever o artigo que Aquilino Ribeiro  escreveu para o jornal "República" do dia 5 de Fevereiro de 1946, intitulado "O escritor e os seus fantasmas", e que foi alterado pela censura!...




 






Retirado do portal  -  "Casa Comum-Fundação Mário Soares"




Aquilino e Salazar

 
António Valdemar


Ambos naturais da Beira Alta, ambos ex-seminaristas, sem serem colegas de curso, Salazar e Aquilino derivaram para caminhos opostos, muitas vezes em confronto aberto e declarado. Salazar fez exames no Liceu de Viseu para ingressar na Faculdade de Direito de Coimbra, onde se licenciou, doutorou e ficou ligado a católicos e monárquicos.
Aquilino carbonário, republicano, visceralmente laico, evadiu-se para Paris devido à acção revolucionária, exercida, no fim da monarquia, contra a ditadura de João Franco. Frequentou na Sorbonne Filosofia e Humanidades clássicas sem acabar qualquer das licenciaturas.
Proclamada a república, voltou a Portugal, foi professor do Liceu Camões e funcionário da Biblioteca Nacional. De armas na mão combateu a ditadura surgida com o golpe militar de 28 de Maio de 1926 que levou Salazar ao poder até ser chefe de governo, em 1932 instituindo a sua própria ditadura que prosseguiu até Setembro de 1968. Esta intervenção deu lugar a novo exilio de Aquilino em França e na Galiza, enquanto era irradiado da função pública.
Em 1932, regressou a Portugal clandestinamente. Foi, entretanto, amnistiado. Residiu na Cruz Quebrada e, no final dos anos 40, radicou-se definitivamente em Lisboa. Viveu exclusivamente da actividade literária, tal como Camilo Castelo Branco e poucos mais.
Salazar e Aquilino conheciam- se, mas nunca conviveram um com o outro. Ao prefaciar e organizar a edição póstuma de Viseu:Letras e Letrados Viseenses, de Maximiano de Aragão (1858-1929), Aquilino, em 1934, citou Salazar, entre os intelectuais oriundos do distrito. Por sua vez, Salazar, ao ser entrevistado por Frédéric Lefèvre (1889-1949) para uma série sob o título genérico Une heure avec... declarou: "Comece o seu inquérito por Aquilino Ribeiro. É um inimigo do regime. Dir-lhe-á mal de mim, mas não importa: é um grande escritor".
Mais tarde, nas primeiras edições do livro Abóboras no Telhado, 1955 - antes de ser integrado nas Obras Completas, que sofreu consideráveis alterações, desde a eliminação da dedicatória a Jaime Cortesão - Aquilino ocupou- se de Salazar.
Uma coisa é certa: ambos fizeram referências elogiosas um ao outro. Todavia, Aquilino, desde o regresso a Portugal em 1932 (e mesmo através do empenho institucional e pessoal de Júlio Dantas admitido na Academia das Ciências, já integrada no regime) era um cidadão vigiado, até ao fim, pela polícia política.
Sempre contra o salazarismo, Aquilino Ribeiro percorreu o calvário que pesou sobre os intelectuais e outros adversários do regime. A sua colaboração regular nos jornais O Século, Jornal do Comércio, República e, por vezes, Diário de Lisboa foi sujeita a cortes e interdições da censura. Teve livros proibidos, foi atacado e insultado de forma ignóbil - sem poder defender- se - na então chamada Assembleia Nacional quando publicou Príncipes de Portugal - Suas Grandezas e Misérias (1953). Mas de todos os casos, o de maior gravidade e repercussão decorreu com o romance Quando os Lobos Uivam (1958), desmontagem da prepotência e arbítrio dos Tribunais Plenários, nos quais magistrados de duas gerações colaboravam, directamente, com a PIDE.
Até ao fim Aquilino subscreveu quase todos os manifestos contra o regime. Apoiou os candidatos a deputados da oposição e as condidaturas presidenciais de Norton de Matos e Humberto Delgado. Apoiou, também, o MUD. Veio à estacada nos jornais, com declarações corajosas.
A propósito dos receios do Governo e da erosão do poder, numa entrevista ao Diário Popular, Aquilino esclarecia: "A política que nos rege tem vinte anos e está atacada deste caruncho: a usura. Sucede-lhe como aos fatos. Virá-los do avesso é remédio de pouca dura. Tudo se gasta neste Mundo: os pneumáticos dos automóveis e até as pedras sobre que rolam esses pneumáticos. O Governo do Dr. Oliveira Salazar conta o que em fisiologia se chama uma provecta idade. Mas além de provecta idade o clima é outro. O clima vem dessa Europa, desse Mundo todo. Formaram-se outros eliseus".
Todavia, passados 13 anos, Aquilino Ribeiro já é muito contundente noutra entrevista concedida ao Diário de Lisboa. Na conferência de imprensa no Café Chave de Ouro, Humberto Delgado disse que, se ganhasse o acto eleitoral e ascendesse à Presidência da República, afastaria, de imediato, Salazar. Proferiu a histórica frase obviamente demito-o que deu lugar no Diário de Notícias à projecção torrencial de uma campanha cozinhada na União Nacional, com páginas diárias, de telegramas, mensagens e abaixo- assinados de repúdio e solidariedade, exigindo a continuação de Salazar à frente da Presidência do Conselho de Ministros.
Aquilino comentou com desassombro: "As respostas que [Delgado] deu às perguntas que lhe formularam, algumas com o propósito de o comprometerem, outras à sensation, calaram no ânimo de todos pelo que revestiram de perentório e acertado. Além de não ter papas na língua, o general não é hipócrita. O homem da rua, como hoje se diz, arrenega do hipócrita e do poltrão. O senhor general deitou o medo para trás das costas. (...)" Reportando-se à campanha desencadeada no Diário de Notícias, acentuou: "Todos estes desagravos e protestos são, no seu primário, parentes próximos dos retábulos das almas e dos ex-votos das capelinhas dos montes a um santo milagreiro. É um devocionismo ultrapassado, sorte de octavário de beatas, de que ainda hoje são objecto de troça os países desestalinizados".
Nesta entrevista ao Diário de Lisboa pronunciou-se acerca da campanha de Humberto Delgado permitir um debate alargado de vários aspectos da vida do país que atravessava um período degradante. "Francamente - salientou -, se ao cabo de trinta e dois anos de poder absoluto, com as liberdades ab-rogadas ou restringidas como no curto interregno de D. Miguel, com a Censura testa a que se não diga tudo o que se passa e tudo o que se pensa, quando avesso ao Poder, se há necessidade de continuar a revolução, segundo ouço proclamar, se há descontentes, segundo se vê agora por esse Portugal fora, e se há esfomeados, como se nota a cada passo nas ruas das cidades e pelas aldeias - então é porque não operaram as receitas aviadas. Não houve, portanto, nenhuma revolução, no bom sentido da palavra. Não se entrou em era nova, ou, se assim o entende, não se perfez a obra de moralização pública preconizada. O português continua infeliz, desproporcionado como nunca".
A sempre tão louvada obra financeira de Salazar era para Aquilino irrelevante em face de outros problemas de extrema pertinência: "Hoje", advertia Aquilino, "finanças mais sãs ou menos sãs é uma questão de segunda ordem. (...). As contas pagar-se-ão depois. Repare para os orçamentos das grandes nações sôfregas de progresso: a França, a Inglaterra. Algum ministro mata a cabeça com o equilíbrio orçamental?"
Prosseguiu noutro passo: "Creio que a arte de governar não reside apenas em operações de tesouraria e previdência. Pelo ritmo do progresso, inerente a tal doutrina, só daqui a cem anos teria Portugal um nível de vida aceitável, uma indústria comezinha, sempre antiquada em relação à do resto da Europa, as estradas que ambiciona, hospitais em que coubessem os seus enfermos, casas de educação regidas por uma pedagogia que viesse a desenvolver as faculdades das crianças e não as jugulasse aos varais consabidos de ideias revelhas e sistemas bafientos. Entretanto, o País fica como a Lua, metade em penumbra".
À supressão das liberdades fundamentais, às sucessivas farsas eleitorais, Aquilino Ribeiro formulava mais outras interrogações acerca da obra de Salazar: "Rectificou alguma vez o Estado Novo o seu programa ou os seus critérios? Esta petrificação bastaria para condená-lo.(...) Seria para desejar que, ao fim de trinta e dois anos, todos una voce erguessem um hossana à governação. Pelo contrário, pedem-lhe que não continue a sacrificar-se. Por conseguinte, ou o Português é um ignorante e ingrato, ou o Poder seguiu caminhos errados..."
Ao desmascarar a propaganda do SNI, os livros e artigos pagos a escritores e jornalistas estrangeiros para enaltecerem a obra de Salazar, Aquilino fazia estes reparos: "Se o Estado Novo inventou uma política maravilhosa com o seu corporativismo, com as suas leis restritivas, porque é que as nações não vêm aprender a governar-se neste Eldorado de felicidade e de amor? (...) Voltando à ausência de liberdades, insistia: "Um regime que há trinta e dois anos nos priva das liberdades fundamentais, que matou o cidadão no indivíduo, pode equiparar-se a uma escola de vassalagem. (...). Ora uma nação compõe-se de homens orgulhosos da sua carta de cidadania; defendo a minha terra porque a defendo a ela. (...) De todos os bens, o primeiro e mais valioso é a liberdade, a liberdade como a concebiam os Gregos, nossos mestres. Essa nos falta de todo".
Republicano, democrata e antifascista, Aquilino fez da literatura, da profissão de escritor em tempo inteiro uma forma de luta. Aberto à mudança aos imperativos de justiça social, envolvido no combate pela emancipação de todas as formas de sujeição política, económica, religiosa e social, Aquilino, o grande escritor que fica na História da Literatura, também fica na História do século XX como um cidadão interveniente e apostado em contribuir para a transformação das estruturas da sociedade portuguesa.
Jornalista, membro da Academia das Ciências e Presidente da Academia de Belas-Artes


 


sábado, 30 de agosto de 2014



Recordar Mayer Garção  -  VI


Francisco Mayer Garção

 






 
   Dois textos escritos por Mayer Garção, um após o golpe militar   sidonista, e outro depois da Grande Guerra. Já temos vindo a recordar o jornalista republicano noutros blogues   -  clicar aqui e  aqui.


  Mais uma colaboração e ajuda do Dr. Amadeu Gonçalves, para quem envio o abraço de gratidão!















quinta-feira, 28 de agosto de 2014



 

Com um abraço de gratidão para o Dr. Amadeu Gonçalves, que acaba de me enviar o artigo do Professor Doutor António Pires Ventura - "Bernardino Machado e as Forças Armadas", que transcrevo com a devida vénia.

No Colégio Militar - 3 de Março de 1926













Em anteriores blogues encontram-se digitalizados os textos de Bernardino Machado referidos no artigo -  clicar aqui, aqui e aqui









terça-feira, 26 de agosto de 2014














EXPOSIÇÃO ACTUAL
Bernardino Machado e a 1ª Grande Guerra
No ano em que se comemora o 1º centenário do início da I Grande Guerra (1914-1918), poderão ser vistos nesta exposição singular vários documentos inéditos sobre a participação de Portugal na I Grande Guerra (1914-1918), intervenções parlamentares, notas circunstanciais, entrevistas, artigos de opinião, fotos e correspondência diplomática, sendo de salientar a visita presidencial de Bernardino Machado às tropas portuguesas instaladas no teatro de guerra francês e inglês, em Outubro de 1917.


Data: 1 de Julho a 30 de Setembro de 2014
Local: Museu Bernardino Machado
Ingresso: Entrada Gratuita

Museu Bernardino Machado
Rua Adriano Pinto Basto, n.º 79
4760-114 Vila Nova de Famalicão
Telef. 252 377 733
E-mail: museu@bernardinomachado.org


Galeria de Fotos

Museu Bernardino Machado Museu Bernardino Machado

Museu Bernardino Machado Museu Bernardino Machado


 


segunda-feira, 25 de agosto de 2014






 


"Bernardino Machado na festa comemorativa do 26.º aniversário do Instituto Feminino de Educação e Trabalho, em Odivelas  - 14 de Janeiro de 1926
 
Nível de descrição
Documento simples Documento simples
Código de referência
PT/TT/EPJS/SF/001-001/0001/0049A
Tipo de título
Formal
Datas de produção
1926-01-14 A data é certa a A data é certa
Dimensão e suporte
1 doc. fotográfico (negativo, vidro, p/b, 9x12 cm)
História custodial e arquivística
O negativo deste documento fotográfico traz inscrito, por lapso, o número de ordem correspondente ao documento fotográfico 52A.
Cota atual
Empresa Pública Jornal O Século, Álbuns Gerais n.º 1, doc. 49A
Idioma e escrita
Não aplicável.
 
 

O Instituto de Odivelas
 
 


Carta das alunas para Elzira Dantas Machado
 
 

Adelaide Cabete vai trabalhar para Odivelas, em Fevereiro de 1912, no Instituto Feminino de Educação e Trabalho. como médica escolar e  professora de Higiene e Puericultura, Anatomia e Fisiologia.
 




 

sexta-feira, 22 de agosto de 2014




Rua S. Filipe Nery - Lisboa
As revoltas
de Fevereiro de 1927















Para juntar aos blogues anteriores, referentes às revoltas de Fevereiro de 1927  -  clicar aqui - http://manuel-bernardinomachado.blogspot.pt/2013/02/blog-post_8.html#links
e http://manuel-bernardinomachado.blogspot.pt/2014/02/recordar-as-revoltas-de-fevereiro-de.html#links






quarta-feira, 20 de agosto de 2014





Para uma fotobiografia de Bernardino Machado
Fotografias retiradas do Arquivo Nacional da Torre do Tombo
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 




Festa de inauguração do edifício da Escola de Aplicação da Administração Militar, na Alameda da Linha de Torres, em Lisboa  -  6 de Março de 1926
 
 
 
À dir. de Bernardino Machado, o Ministro da Guerra-Tenente-Coronel José de Mascarenhas, o General Correia Barreto e o Tenente-Coronel Mira Saraiva,
e à esq. o General José Pedro de Lemos, o Almirante Júlio Galis, o Coronel Adriano Beça e Coronel
Vieira da Rocha
A sessão solene
Visita às instalações da Escola