Recordar Ana de Castro Osório
domingo, 31 de março de 2013
sábado, 30 de março de 2013
Recordando Ana de Castro Osório
Leal da Camara era afilhado de Ana de Castro Osório, que apadrinhou a sua participação na Exposição Internacional do Rio de Janeiro de 1922. Reproduzimos uma interessante carta de Ana de Castro Osório para Bernardino Machado (do espólido que se encontra na Fundação Mário Soares - Casa Comum - clicar aqui), que refere este facto, e nos transmite impressões dessa época, periodo de grande instabilidade política que então se viveu, sucedendo-se governos de curta duração, tendo ocorido no dia 19 de Outubro a lamentável e cruel "noite sangrenta". Bernardino Machado presidiu a um governo de 2 de Março a 22 de Maio de 1921, tendo posteriormente ido residir para Famalicão, embora mantendo notória actividade política, aliás registada no seu livro "Depois de 21 de Maio".
"Não quero escrever-lhe a agradecer todo o seu grande e inteligente interesse pelo meu afilhado (Leal da Camara) porque queria já dizer qualquer coisa da resposta do Sr. Lisboa de Lima. Agora me escrve o Leal - "Fui ao Lisboa de Lima que me recebeu amávelmente mas fez a restrição de preguntar a todos estes bonzos das Belas-Artes, tais como Augusto Gil, José de Figueiredo, Bermudes, e quejandos, o que eles pensam. Eu disse-lhe francamente que eles não pensavam nada a não ser desejarem todos fazer uma viajata ao Brasil. O que era preciso era alguem que quizesse, soubesse e pudesse fazer mesmo (á brasileira) a tal exposição com uma aparência europeia e do ano de 1922. Para este fim punha-me à sua disposição. Disse-me que ia pensar. Talvez conviesse que o ajudassemos a aclarar estes pensamentos."
Li o que me diz o Leal e eu entendo que só V. Ex.cia tem autoridade sob todos os pontos de vista para dizer ao S. Lisboa de Lima, que para ele o Leal é a Providência que o fará em todas as linhas triunfar. O Leal da Camara é um artista com nome em Paris e pode assim dizer-se mundial. O Leal como decorador é o único que temos e admirável. O Leal é um republicano da propaganda a quem a República nada tem feito e que dava ao Comissário (1) um tom que agradaria aos republicanos. Fica pois nas mãos de V. Ex.cia este assunto urgente para daí sugestionar o nosso Comissário.
Estava tratando de mandar vir o Zeca (2), que apesar de estar de saúde me diz "que está de mãos postas na ansia de vir". Se não mo quizerem vir, como fez aquela ............ criatura que nós conhecemos, mando-lhe ordem para pedir licença sem vencimento e vir à nossa custa. Se V. Ex.cia quizer interessar-se por ele aqui junto uma nota.
Aqui no meu lindo bairro não ha nada de Disseram-me que o pensa em deixar o 1º andar da "Cruzada" com entrada pela Rua do Século (meia laranja) casa magnífica e independente. Se assim for quer V. Ex. cia que previna a D. Beatriz para a não ceder? Não tem vista do mar, mas é boa. Realmente a de V. Ex. cia é muito fria.(3)
Peço mil lembranças para todos, muito especialmente para Sra. D. Elzira a quem escrevo por estes dias para lhe enviar umas surprezas para o Narciso ou para os pequenos, se ele já se sentir muito homem.
Acabo de receber cartas da Dra. Paulina Luisi (4), do Uruguai, com muitas lembranças para V. Ex. cia. Escreveu dois artigos a nosso respeito no 5 de Outubro e está só maguada com as notícias que lá chegaram da revolução, "pois quer a Portugal como uma segunda Pátria."
A Carmen de Burgos (5) tambem se recomenda muito. O Governo (confidencial) trouxe-a cá para ver a verdade (ver que não bolchevismo ) e foram muito amáveis oferecendo-lhe o colar da Comenda (6) que V. Ex.cia lhe deu. Ficou satisfeita. Vê-se que o ministro dos estranjeiros (7) é um rapaz inteligente, que sabe fazer as coisas. Agora vão sair artigos esplendidos na Esfera e Mundo Gráfico. (8) Tudo ela prepara. É uma boa amiga de Portugal.
Aqui está tudo desesperado contra a imbecilidade do Presidente que foi (dizem eles) o verdadeiro culpado das mortes pois tão depressa deu a V. Ex.cia a demissão quanto desta vez a negou... Isto estava-se dizendo hoje publicamente no G. Civil e todos fizeram justiça a V. Ex.cia. "
(1) - LIMA, Alfredo Augusto Lisboa de (1867-1935)
Nasceu em 1867 e faleceu em 26 de Outubro de 1935.
Oficial engenheiro do Exército viveu nas colónias onde desempenhou entre outros o cargo de director das Obras Públicas da Companhia de Moçambique. Foi director geral interino do Ministério das Colónias e ministro daquela pasta no Governo de Bernardino Machado (9 de Fevereiro a 12 de Dezembro de 1914). Foi também por várias vezes director da Sociedade de Geografia, presidente da Associação dos Engenheiros Civis e professor da Escola Superior Colonial. Foi Comissário do Governo na Exposição Internacional do Rio de Janeiro de 1922.
LIVRO D’OIRO & CATÁLOGO OFICIAL. EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DO RIO DE JANEIRO [1922]. SECÇÃO PORTUGUESA.
Editado pelo Comissariado Geral do Governo na Exposição Internacional do Rio de Janeiro sob a direcção técnica de Leal da Câmara. Composto e impresso nas tipografias: da Imprensa Nacional; na Cooperativa Militar; no Anuário Comercial; na Imprensa Lucas; na Imprensa Libanio; na Imprensa Lusitania; na Empreza Portugal Comercial e Industrial; e pela Litografia Nacional do Porto. Agosto de 1922. De 19x14 cm. Com [cerca 500] páginas inumeradas. Profusamente ilustrado com gravuras intercaladas nos textos dos artigos; nas secções de anúncios ilustrados; mapas; e fotogravuras de páginas duplas desdobráveis (algumas com pequenos elementos desdobráveis “pop-ups”). Obra contendo uma propaganda do regime político da 1ª República e extensos comentários e ilustrações sobre a Travessia Aérea do Atlântico Sul acabada de realizar neste ano.
(2) - O filho José Osório de Castro e Oliveira:
•Ficcionista, poeta e crítico literário.
•Estreou-se aos dezassete anos, nas páginas de A Capital.
•Em 1919, seguiu para Moçambique a exercer funções públicas e, logo em 1922, publicou o seu primeiro ensaio sobre Oliveira Martins e Eça de Queirós.
•Estanciou várias vezes no Brasil, Cabo Verde e África ocidental portuguesa como editor e funcionário do Ministério das Colónias.
•Tornou-se, desde os anos trinta, um dos maiores divulgadores da literatura cabo-verdiana e defensor da aproximação literária entre Portugal e o Brasil.
(3) - Refere-se à residência da Rua das Taipas
•Estreou-se aos dezassete anos, nas páginas de A Capital.
•Em 1919, seguiu para Moçambique a exercer funções públicas e, logo em 1922, publicou o seu primeiro ensaio sobre Oliveira Martins e Eça de Queirós.
•Estanciou várias vezes no Brasil, Cabo Verde e África ocidental portuguesa como editor e funcionário do Ministério das Colónias.
•Tornou-se, desde os anos trinta, um dos maiores divulgadores da literatura cabo-verdiana e defensor da aproximação literária entre Portugal e o Brasil.
(3) - Refere-se à residência da Rua das Taipas
(4) - Sobre Paulina Luisi ver o meu blogue e os comentários do Doutor João Esteves - clique aqui
(5) - Sobre Carmen de Burgos ver o meu blogue - clique aqui
(6) - Comenda da Ordem de Santiago da Espada
(7) - Alberto da Veiga Simões
(8)
Biblioteca Nacional de España - Hmeroteca Digital - clicar aqui
quinta-feira, 28 de março de 2013
quarta-feira, 27 de março de 2013
Recordar António dos Santos Pousada
Da esq. para a dir. - Filipe da Mata, Santos Pousada, Bernardino Machado, Pinheiro de Melo e Feio Terenas
"António dos Santos Pousada era natural do Porto. Filho de Bernardo Pousada e de Maria Josefa Gomes, onde nasceu em 28 de Outubro de 1854.
Estudou na Escola Politécnica do Porto até 1884, tendo sido um dos estudantes contemplados com um prémio nesse ano que foi entregue em sessão solene realizada a 20 de Outubro de 1884.
Santos Pousada foi nomeado professor da escola industrial em concurso para professores em 1884, aprovado por portaria de 8 de Novembro de 1884 [Joaquim Ferreira Gomes, Estudos para a História da Educação no século XIX, Instituto de Inovação Educacional, Lisboa, 1996, p. 83, nota 3]. Santos Pousada foi colocado na Escola de Desenho Industrial Faria Guimarães, no Bonfim, cidade do Porto, por Despacho de 4 de Dezembro de 1884, tendo a escola sido inaugurada em 12 de Janeiro de 1885, com mobiliário emprestado pelo Instituto Industrial do Porto. Nessa escola matricularam-se 134 alunos para frequentar aulas nocturnas [Joaquim Ferreira Gomes, idem, p. 85]
Exerceu depois funções docentes na Escola Industrial Passos Manuel, em Vila Nova de Gaia.
Santos Pousada foi consultado sobre as modificações necessárias à adaptação do Palácio dos Cirnes, já que ele tinha sido adquirido pela Junta de Freguesia do Bonfim para aí se instalar, bem como as escolas primárias. Foi convidado António dos Santos Pousada, que depois de um estudo exaustivo redigiu o seu parecer num documento datado de 1888.
Considerado um homem culto e trabalhador, que muito se empenhou na causa da implantação da República, em especial na região do Porto. Em 1904, Santos Pousada pertencia à comissão municipal republicana do Porto. Participou de forma activa nas campanhas contra a Monarquia e na organização do movimento republicano.
Foi ainda um dos propagandistas da mutualidade no norte de Portugal, tendo participado em inúmeras realizações. Foi relator de teses que abordavam a contabilidade e a escrituração das associações de socorros mútuos, no Congresso Regional que se realizou no Porto em 1904. Participou também de forma activa no Congresso Nacional da Mutualidade que se realizou em 1911, na Sociedade de Geografia de Lisboa. Neste congresso foi eleito vogal do Conselho Central da Federação Nacional das Associações de Socorros Mútuos e foi vice-presidente da Comissão Oficial de Reforma do Mutualismo, competindo-lhe a organização dos modelos de escrita que deviam acompanhar o novo modelo de reforma.
António José dos Santos Pousada destacou-se como jornalista. Colaborou em diversos órgãos da imprensa republicana como Vanguarda, Voz da Beira, Voz da Justiça, Voz de Angola, O Alarme e A Democracia. Era correspondente do jornal República, em Espinho, terra onde vivia e era muito respeitado pela população. Foi ainda o fundador da obra beneficência O Vintém das Escolas.
Pertenceu à Maçonaria, desde 1885, onde desenvolveu intensa actividade, tendo prestado serviços relevantes à organização. Talvez um dos seus mais difíceis trabalhos tenha sido conseguir que a actividade maçónica não se extinguisse no Porto, após o 31 de Janeiro, tendo conseguido, com os poucos elementos que restaram reerguer a organização. Preparou em 1900 uma conferência maçónica nacional, facto que marcou a história da instituição. Tinha como nome simbólico, Championnet, tendo atingido o grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceite. Pertenceu à Loja Aurora do Lima, do Porto, onde foi venerável, mais tarde passou para a Loja Liberdade e Progresso. Em 1901 ascende ao grau 33.
Foi eleito deputado pelo Porto e colaborou em inúmeros jornais. Com a divisão do Partido Republicano após o 5 de Outubro, Santos Pousada filiou-se no Partido Republicano Evolucionista, liderado por António José de Almeida.
Faleceu a 6 de Outubro de 1912.
No dia 10 de Novembro de 1912, realizou-se na Liga das Associações de Socorros Mútuos uma sessão solene de homenagem a Santos Pousada. Presidiu à sessão João Pinto de Azevedo, presidente da direcção da liga, tendo sido escolhido para presidir à sessão José Ernesto Dias da Silva, presidente da Federação Nacional das Associações de Socorros Mútuos. Discursaram durante a sessão Luís de Queirós e Manuel Inácio Alves Pereira.
Fonte:
República, Lisboa, 08-10-1912,Ano II, nº 624, p. 1, col. 1 a 3.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
- MARQUES, A. H. DE OLIVEIRA, Dicionário de Maçonaria Portuguesa, vol. 2, Edições Delta, Lisboa, 1986.
- MARQUES, A. H. DE OLIVEIRA (Coord.), Parlamentares e Ministros da 1ª República (1910-1926), Col. Parlamento, Edições Afrontamento,2000."
terça-feira, 26 de março de 2013
No portal da Liga de Amigos do Colégio Militar - clicar aqui - em "Chefes de Estado que visitaram o Colégio Militar" - encontrámos duas fotografias da visita de Bernardino Machado, que reproduzimos com a devida vénia.
segunda-feira, 25 de março de 2013
Miguel Dantas
A inúmera documentação que pertenceu a Miguel Dantas, e fez parte do espólio da Família Machado Sá Marques, encontra-se no Museu Bernardino Machado, onde está a maior parte, e na Fundação Mário Soares. No "site" - Casa Comum - clique aqui - da Fundação, podemos consultar alguns destes documentos, que temos vindo a reproduzir.
Miguel Dantas - no Rio de Janeiro em 1860
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