Estive presente na homenagem aos docentes demitidos durante o Estado Novo.
Na cerimónia realizada na Reitoria da Universidade de Lisboa, assisti com emoção ao descerramento da lápide comemorativa.
Recordei meu primo António (António Barros Machado), o primeiro docente universitário a ser afastado do ensino durante o Estado Novo. Vivi, como universitário, esses anos de "perseguição política desses elementos por parte de um regime que considerava a liberdade de opinião e de expressão, e portanto a liberdade científica, como incompatíveis com a segurança do Estado". No meu 5º ano do curso de Medicina foram demitidos muitos dos meus professores - Pulido Valente, Fernando da Fonseca, Cascão de Anciães, Dias Amado, Celestino da Costa, Adelino Costa, Cândido de Oliveira e Manuel Valadadres.
Professor Manuel Valadares
Lembro um exame que foi uma lição de civismo! Frequentei a Faculdade de Ciências no ano lectivo de 1941/42, nos chamados Preparatórios do Curso de Medicina (Física, Química, Botânica e Zoologia); no primeiro trimestre a Física foi ministrada pelo Professor Cirilo Soares, nos moldes do ensino clássico daquela cadeira, onde se ensinava a Óptica, a Acústica e a Mecânica. O Professor Cirilo Soares aposentou-se em Dezembro de 1941, tendo acabado as aulas de Óptica, e foi substituído pelo Professor Manuel Valadares, que iniciou o seu primeiro Curso de Física Atómica. Durante estes dois trimestres as suas aulas foram frequentadas por uma multidão de alunos. Para ter lugar sentado íamos para a Faculdade de manhã cedíssimo. Que aulas magistrais! Passava para o meu caderno tudo o que o Professor Valadares escrevia no quadro, e quando regressava a casa repetia a meu Pai os ensinamentos recebidos. Chegou o Verão e fui fazer o exame, uma prova escrita, cuja primeira pergunta era sobre Óptica. Era uma lição! O respeito pelo Mestre! Inesquecível!